terça-feira, 26 de abril de 2011

E QUE ASSIM SEJA

E QUE ASSIM SEJA    06 / 1997

                                                             Neumar Monteiro


         Muitos falam em evolução, mas se esquecem que o verdadeiro sentido da palavra se encerra num pequeno e significativo vocábulo, porque só com a renovação de si mesmo, na evolução interna do próprio ser, pode o homem crescer verdadeiramente para o mundo.
         Primeiro, a revisão de seus conceitos retirando o que se encontra obsoleto e estagnado – enriquecendo-se espiritualmente e aprimorando as bases cristãs, esquecidas, quem sabe, no baú do inconsciente- Reformula-se o homem dentro dos seus próprios limites físico espirituais, e nascerá o individuo social, pronto a evoluir e apto para o trabalho consciente no seio de uma comunidade.
         Evoluir-se, não é só conhecer autores modernos ou acumular cultura abstrata, como muitos pensam. Pelo contrário, é participar irmanamente no programa social,dando-se as mãos e ajudando-se mutuamente na edificação de uma sociedade mais justa , onde todos participem, sem distinção de credo, raça ou honrarias.
         Evoluir é ser gente. Gente com “G” Maiúsculo, que faz, que auxilia e que se preocupa com o semelhante. Que se esquece das teorias livrescas para a aplicação da caridade e da justiça. Essa a verdadeira cristandade e a efetiva evolução.
         É tempo de renovar-se. Ëpoca de se abrir as comportas da alma para abraçar o próximo. Tempos difíceis atravessamos, e o homem se perdendo nos labirintos das prazeres supérfluos. Num minúsculo espaço do coração anda trancafiada a caridade, e a humanidade se afundando na solidão do egoísmo. Fora com os problemas alheios ! Fora com  ass obras meritórias ! Porque o homem não tem mais tempo para dedicar-se ao seu irmão. Esqueceu-se de ser gente para ser fera.
         Renovação : palavra mágica que transforma os mais mesquinhos pensamentos projetando o homem além de seus rudimentares limites, capacitando-o para a verdadeira evolução. E, evoluir é renovar; renovar é crescer; crescer é servir, e servir é evoluir continuamente, despindo a alma do trapo de egoísmo para revesti-la da bela roupagem da solidariedade.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Artigo 2006

EU NÃO CREIO EM BRUXAS      


Neumar Monteiro
            Quem lê a obra de Carl Sagan, intitulada “O mundo assombrado pelos Demônios, vê-se compelido a abandonar milênios de convicções, crendices e medos, o que equivale a grande parte do legado místico que nos foi transmitido pelos antepassados. O famoso cientista, astrônomo e Professor de Ciências Espaciais, derruba as superstições arraigadas desde séculos, levando o leitor a apreciar um mundo novo sob a ótica nua e crua da racionalidade. Digo-o de cadeira, já que li Carl Sagan, que se arrogando o direito de arauto da ciência a vê como “uma vela no escuro”e ele, é claro, o Diógenes da modernidade científica.
         Com a chegada do Terceiro Milênio, equivalente ao ano dois mil da era cristã, ressurgem os famosos prenunciadores do futuro divulgando uma série de acontecimentos que, invariavelmente, recaem nas catástrofes interestelares, com o mundo das galáxias desabando sobre as nossas cabeças. A indústria do fantástico vende sonhos e fantasias, muito bem aceitos porque o homem possui uma predisposição para o sobrenatural numa forma de fuga do rés-do-chão para um mundo de asas e fantasmas.
         Na verdade, este partilhamento de conhecimentos pseudocientíficos é bom para o homem, já que o predispõe à sensibilidade  no trato com os semelhantes; por outro lado, o deixa vulnerável aos sortilégios dos aproveitadores de carteira assinada, sabendo-se que a crença nesses vaticínios atinge o mundo inteiro: segundo uma pesquisa de opinião Gallup, mais de três milhões de norte-americanos acreditam ter sido raptados por alienígenas. Outros, crêem no magnetismo de Paracelso, no Mesmerismo de Frans Mesmer, no caso de  Bridey Murphy, aliados às fadas, bruxas, gnomos, que se misturam às filosofias alternativas. Isso prova que não prescindimos do mistério, seja nos países de Primeiro Mundo, seja nos de Terceiro, numa espécie de inconsciente coleltivo que une todos os povos e todas as raças numa cumplicidade mundial.
         De qualquer forma, assumir-se a ciência pura e simples, como quer Carl Sagan, pressupõe abdicar de crendices pela razão, nesta humanidade que tem muito mais de crente do que de incréu. Ao contrário, enredar-se com o místico é conviver com uma margem de erro bem acentuada, que inclui as fraudes, charlatanismo e teorias refutáveis.
         Pelo sim, pelo não, clamo por Terêncio quando disse “Sou humano e nada reputo alheio a mim do que é humano” e, na oportunidade, cito o famoso provérbio espanhol que serve para conciliar a razão científica com a alma esotérica e sonhadora: “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.”

Do livro POEMAS DE NEUMAR

Do livro POEMA DO AMOR ETERNO

terça-feira, 19 de abril de 2011

HAICAI

UÍSQUE COM GUARANÁ

            UÍSQUE COM GUARANÁ    (2006)

                                                                                       
                                                              Neumar Monteiro

Tenho orgulho de pertencer à geração do Cuba Libre e do uísque com guaraná. Um tempo sadio, em que a maior ousadia era dançar de rosto colado ao som de “Amore Scusame” e “Dio Come Ti Amo”,  como era usual nas décadas de sessenta e setenta.
            Eram tantos bailarinos aqui e ali, que o mundo parecia girar e girar para fazer ainda mais bela a vida dos jovens. Tantas paixões embaladas por “Aqueles Ojos Verdes” e Besame Mucho” músicas sussurradas pelos rapazes aos ouvidos das meninas, sob o instrumental de Ray Connif. Tempo bom, era um cinema no fim de semana quando, numa grande audácia, os namorados pegavam nas mãos das namoradas, carícias inesquecíveis que o escurinho do cinema encobria. Um bolero e um Cuba Libre, e o flerte começava dengoso até transformar-se num namoro mais sério,  às vezes demorando muitas semanas ou meses entre um e outro. Tudo dava um tremendo trabalho quando ainda não existia o “ficar com fulano”, muito comum nos dias de hoje.
            Sim, tenho muito orgulho de lembrar-me do Elvis Presley e dos Beatles, bem como de ter vivido belos sonhos ao som do Rock n’roll e da cumplicidade de “Tu Me Acostumbraste” cantada por Roberto Yanés ou Lucho Gattica. Quanta gente não tem até inveja dessas lembranças? Posso dizer do alto da minha experiência que contribui, de certa forma, para a liberação social das mulheres, vivendo numa época em que até fazer faculdade era proibitivo ao sexo frágil. Mulher nascia para o casamento, bordados e prendas domésticas, sob pena de ser mal olhada ou banida da sociedade de “gente de bem”. Estudar fora, só algumas de famílias mais abastadas. Quando muito um diploma do Curso Nornal em colégios da própria cidade.
            Havia é claro as que se rebelaram ensejando caminhos próprios e subvertendo os valores vigentes, mas o preço era alto e a cobrança certa, tanto em casa como na sociedade. Dessa estirpe, que venceu os preconceitos e fez história, citamos Elis Regina, Rita Lee, Wanderleia, Leila Dinis e Regina Duarte, juntamente com a internacional Dionne Warwick, servindo de exemplo para todas nós.
            Não creia que as vitórias acontecem por acaso. Muito pelo contrário, resultam de muitas lágrimas, sofrimentos e renúncias. Se tiverem como inspiração o romantismo do   Roberto Carlos, o Rei da Juventude, ou do trio Chico-Caetano-Gil, bem melhor. Mas olhando aquele retrato em preto e branco, com um quê de amarelecido nos cantos, compreendo que os famosos Anos Dourados foram, afinal, um tempo de transição, tão importante como o som estereofônico das vitrolas hi-fi para o moderníssimo CD.
            Um tempo mágico que desnudou conceitos, derrubou valores e consagrou o direito ao amor livre. Tão importante que se somou aos outros tempos permanecendo único e, ao mesmo tempo, inseparável, numa fusão perfeita de presente e passado que só o “dois pra lá dois pra cá” dos boleros consegue reunir numa mesma e eterna saudade.


NINFEIAS

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segunda-feira, 18 de abril de 2011

DOIS PRÁ LÁ, DOIS PRA CÁ

DOIS PRÁ LÁ, DOIS PRA CÁ    (2006)

                                                              Neumar Monteiro

               Nem tanto tempo faz que o Aero Clube abria o seu salão para receber a sociedade bonjesuense, e a saudade já é uma constante no coração daqueles que apreciavam os concorridos bailes que ali aconteciam. Eram noites mágicas, a nos transportar para um mundo diferente, quando encantamento e felicidade se encontravam.
               Os vestidos, um para cada baile na Festa de Agosto, eram amplos, de organza ou cetim, acompanhados de sapatos forrados do mesmo tecido e de luvas do mesmo tom. As estolas de pele, para as meninas mais ricas, e, às vezes, golas de astracã para as mais pobres. Enfim, no rodopiar da valsa e do bolero todos se igualavam, já que da sociedade desfrutavam muitas famílias bonjesuenses, independente da conta bancária. Aos rapazes cabia um terno para cada noite. Belas recordações.
               Antes do baile, sempre havia um filme no Cine Monte Líbano; após, íamos à Leiteria, saudoso Cornélio, desfrutar de seus sorvetes maravilhosos.
               A Festa de Agosto era o orgulho da cidade. Naqueles três dias acontecia de tudo: desfiles escolares e de clubes de futebol, disputas do Olympico e Progresso, banda de música na praça, com o Vicentinho Torres, barraquinhas que desciam da praça passando pela Gráfica Gutenberg até à beira do rio, bolas coloridas que acenavam do alto, fugidas das mãos das crianças, algodão doce, Esquadrilha da Fumaça com suas divertidas evoluções, pára-quedistas, foguetes, estalos e estrelinhas. À noite, no palanque, o show dos “artistas de fora” e de músicos do acordeom, até da Virginia Lane, Cauby Peixoto e Adelaide Chioso, sempre registrados pela reportagem da ZYP 31 Rádio Cultura de Bom Jesus.
               Na verdade tudo convergia para o Aero, lugar de destaque para os acontecimentos mais importantes da vida da cidade, onde se anunciavam os noivados, principiavam ou terminavam namoros... Mais que tudo, encontravam-se, animadamente, a Velha e a Jovem Guarda. Era um repassar recíproco de emoções e aprendizagem. E a sociedade seguia ordeira e pacata, embalada pela boa música do Samuel Xavier, Juquinha “Sapateiro”, Lafayete e seu Conjunto, Rancho e outros.
               E os carnavais? Ninguém que os “pulou” no Aero Clube pode esquecê-los. Todos fantasiados, concursos diversos, blocos dos mais animados, Peru Encalorado, Uriçú, Pedrês e Barra Pesada, tudo regado com cuba-libre ou uísque com guaraná. De madrugada tinha o pão com lingüiça que se saboreava nas barraquinhas da beira do rio, e os homens bebiam Caracu com ovo, batido no liquidificador, no Bar do Jésus.
               Bons tempos aqueles! Melhor seria se melhores fossem os de agora. Mas não são. Pecamos pela perda da identidade com a conseqüente modernização. Afinal, modernizar de que jeito? Perdemos as referências sociais, ficamos órfãos do Aero Clube e do aconchego dos amigos. Trocamos a boa convivência pela TV, mudamos a sintonia da música e desafinamos no tom das conversas. Conversar com quem e para quê? Só se for para reviver os bons tempos. Infelizmente, recordar causa tristeza e magoa o coração.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

FARINHA POUCA MEU PIRÃO PRIMEIRO

                    FARINHA POUCA MEU PIRÃO PRIMEIRO
                                                                                   04/2011  
                                                                       Neumar Monteiro

            Antigamente, por certo, havia mais dignidade no viver: as pessoas se interessavam pelas outras e até ajudavam com o pouco que tinham, fosse comida ou dinheiro. Tudo era diferente de agora, que posicionou o homem como um vilão de si mesmo no egoísmo no qual se trancou. Na atualidade o lobo do homem é o próprio homem, conforme já o disse Thomas Hobbes, filósofo inglês, no Leviatã, querendo afirmar que o homem é individualista e só visa seus interesses tendo que ser comandado por alguém, pelo contrário a sociedade viraria um caos.  
            Meu pirão primeiro: igual à mesquinhez e a      arrogância que avassalam o mundo inteiro, sabendo-se que na verdade as duas são farinha do mesmo saco. É triste ver a ruína da solicitude destes tempos perigosos, quando se segue o ditado do primeiro eu e depois o resto. Na verdade, tudo cai na falta de amor ao próximo e que se lixem os demais! Falha egoísta do caráter, civilização incivilizada, onde impera a “lei do mais forte” prevalecendo sobre o mais fraco. O pior inimigo do homem é ele mesmo! Conforme aconteceu no Realengo, Rio de Janeiro, quando a violência em forma humana invadiu uma escola e matou doze estudantes deixando também, no rastro do massacre, vários feridos. No gênero, a maior tragédia em número de vítimas na América Latina e inusitada, particularmente, no Brasil. 
            Ao relembrar de outros episódios que já presenciamos talvez possamos medir a falta de espaço e de solidariedade a que somos expostos: os carros atropelando pedestres, por simples prazer do motorista de se mostrar mais forte ou exibir o carro possante; mulheres não são respeitadas em algumas repartições públicas, mesmo com criança no colo, embora a prioridade na fila seja obrigatória por lei; outros estabelecimentos não respeitam os deficientes, taxando-os de importunos e aleijados; o mendigo é olhado de soslaio aonde    chega, medo que seja um ladrão ou pedinte impertinente; um estranho é sempre considerado marginal, até que se prove o contrário... É o temor da vida que se apregoa nas praças, nas ruas e nas escolas. Medo de ser roubado, medo do medo e dos fatos rotineiros...  Pois o ditado que se soletra está na pontinha da língua: Farinha Pouca Meu Pirão Primeiro!                


 

PERFIL

NEUMAR DE ABREU MONTEIRO DA SILVEIRA
Advogada, Drª em Filosofia e Teologia, Jornalista (artigos e crônicas), Musicista, Declamadora, Poetisa, Pedagoga, Pós- Graduada em Planejamento Educacional, Teoria Musical e Solfejo, Professora, Artista Plástica (óleo sobre tela) e Analista Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Quatro livros publicados: POEMAS DE NEUMAR; POEMA DO AMOR ETERNO; DEVANEIOS E HAICAIS (com ilutrações em bico de pena).
Membro de 22 Academias de Letras, sendo três no exterior

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Artigo publicado em "O NORTE FLUMINENSE" - 07/02/2006

                        AGULHAS E DEDAIS    NF  07/2006
                       Neumar Monteiro

Bom Jesus sempre foi terra de grandes costureiras e alfaiates. Daqui convergia todo o glamour que era copiado por diversas cidades vizinhas, notadamente nas décadas de 60 e 70.
Falando sobre “o mundo da moda bonjesuense” não podemos esquecer que os modelos, artisticamente confeccionados pelas costureiras, eram exibidos no Aero Clube quando aconteciam os bailes de formatura, Festa de Agosto e domingueiras. Um vestido idealizado e costurado pela Olga Cotts era um luxo e uma referência de bom gosto; a confecção da Terezinha do Canto despertava a admiração e o aplauso da sociedade; Olga Tardin arrancava suspiros daquelas que sonhavam em ter um vestido feito por ela e a Nazir Rosa executava os mais lindos trabalhos, dignos de figurar em qualquer revista de moda.
Tantas e tantas costureiras maravilhosas vestiram a sociedade. Qual a cidade que não teve as suas?  Como esquecê-las neste mundo atual em que se compra tudo em série, igual e tediosamente com o mesmo corte?  O importante dos tempos de ontem era a roupa alfinetada no corpo, com todo o carinho de quem a fazia. Uma apertadinha aqui e outra ali, e o vestido ia sendo moldado sem pressa nascendo dos alinhavos, precisos e afetuosos, das valorosas costureiras bonjesuenses. Era um toque de amor, conforme o nome do perfume da Avon, transformando a fazenda numa obra de arte como as esculturas de Camile Claudel, numa proximidade única e intransferível entre cliente e modista.
Tudo era diferente da massificação dos dias de agora. Muito mais do que encomendar um vestido havia a cumplicidade da feitura de um modelo que fosse diferente de todos os outros, para “abafar” nas festas e casamentos. Viver era assim: uma alfinetada de mestre para um acerto no amplo vestido modelo godê, plissado, melindrosa, pregueado, minissaia ou balonê, e um arremate de viés, veludo, renda ou cetim, para transformar em rainha a mocinha sem graça.
Os rapazes não ficavam de fora. Para acompanhar a moda, encomendavam ternos no Tijolo, Napoleão, Estevão, Juquita, Raposo, Acir Moreira, Lima, Branco e Moraes - O Az da Tesoura. Era uma corrida para a compra do Tropical Inglês, Linho 120 ou 129, Casimira Aurora e Lincoln, quando
dos acontecimentos sociais, sem citar os outros tecidos usados na época, adquiridos na Casa Itaperuna do José Marreiro e, após, do Manoel Barroso; e A Social, do Dário Borges.
Muito mais do que acompanhar o tempo, a ida nas costureiras e alfaiates servia para trocar assuntos e saber das novidades. Também, para aproximar as famílias que, na maioria das vezes, costurava toda a roupa de seus componentes num mesmo profissional por anos a fio. Os profissionais da costura tornavam-se, assim, membros de uma confraria familiar que abrangia pais e filhos, sucessivamente.      
Surgia, com isso, uma amizade, envolvendo interesse e afinidades recíprocas, que se solidificava no labor frenético das agulhas e dedais. Muito importante viver naquela época! Tão mais útil para a sociedade do que o distanciamento humano dos dias modernos

BAILARINAS

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segunda-feira, 11 de abril de 2011

FILOSOFANDO Neumar Monteiro

Monet, Manet,
Rembrandt...
Por onde andará
tanta beleza
nessa história vã?

Matisse, Picasso,
Renoir...
Velhos poetas
das telas,
o que irão pintar?

Neste mundo,
telas vazias
jazem esquecidas.
Nesse tempo,
gente sofrida
traça o caminho.
Nesta hora
de cada hora
em desalinho,
onde se enquadra
um Gauguin
com seus matizes?...
Não neste quadro
de infelizes.

Flores ao Vento

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Bananeira c/ cacho

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Devaneios: Livro publicado pelo Tribunal de Justiça do Est. Rio de Janeiro em 2003 -Museu da Justiça.


BRINCADEIRA DE RODA

Neumar Monteiro

Hoje quase não vemos crianças brincando de roda. Nestes dias do futuro, dificilmente assistimos os volteios de mãos dadas, as algazarras dos risos e a correria do pique bandeira... Pouco ficou para repassar às gerações futuras de meninos e meninas, só reles apegos ao dinheiro e ao sexo. O que será dessa abrupta mudança futuramente?

Pular as fases do amadurecimento humano por certo ocasionará irremediáveis danos ao equilíbrio mental, sem falar nos medos e inseguranças que palmilharão estes caminhos. O ser humano precisa do outro para viver feliz, não daquele distanciamento que alguns perseguem, talvez por egoísmo próprio ou pela petulância de se achar melhor que os demais.

Brinquedos de roda, eterna lembrança, o pulo da corda dos anos criança. Subindo nos galhos, colhendo as pitangas, caquis, cambucás, laranjas e mangas... Doces dias de sol a serem aproveitados nas estradas! Na boca, o trava língua decorado: o doce perguntou pro doce qual é o doce mais doce o doce respondeu pro doce que o doce mais doce é o doce de batata doce.

O embornal de pano, a cabeça raspada com navalha por causa dos piolhos, a juventude que armava ciladas por pura implicância, os passeios pelos campos, o jogo de bola, a boneca que falava “mamãe” e as anáguas engomadas com uma mistura de água e maisena – iguais as das artistas de rádio e cinema!...
Um luxo só! As crianças girando quais girassóis humanos, às vezes desumanos, nas canções de roda: ‘atirei o pau no gato, mas o gato não morreu’; ‘a barata diz que mora numa casa de vidraça, é mentira da barata ela mora na fumaça’ e outras como: ‘Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão’; ‘o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada’; ‘boi da cara preta pega esta criança que tem medo de careta’. De uma maneira ou de outra as músicas excitavam, já naquela época, o bullying, que nada mais é do que a violência contra o mais fraco ou de classe social abaixo do nível permitido no contexto; também violentavam aqueles que apresentassem gagueira, dificuldade na aprendizagem, material escolar inferior, dente cariado, não levasse lanche para a merenda ou os de religiões adversas... Mal da vida, mal do homem! Atualmente, as antigas canções de roda são condenadas pelos pedagogos, psiquiatras, psicólogos e educadores em geral por incentivarem a violência, o suicídio, a inveja e, também, discriminações sociais e religiosas.

Com certeza no passado foram causas de muitas dores e lágrimas que, infelizmente, até hoje persistem.

Livro Haicai

Netos

João Vitor
Maria Fernanda


Família

Mariana, Paulo de Tarso, Paulinho, Neumar, Diogo, Simone, João Vitor e Maria Fernanda