terça-feira, 30 de março de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

INTIMIDADE DEVASSADA  - NF   02 - 2012

                                                                                                  Neumar Monteiro  

                                                                       

                        Nos anos sessenta passamos por momentos críticos da nossa juventude. Tudo era proibido, pecado ou deselegante e a vida cotidiana corria sob a vigilância severa dos pais. Até frequentar a casa de vizinhos era demoradamente considerado, talvez para não “enjoar os outros”- conforme se dizia então. Às vezes a turma do colégio planejava um piquenique ou um passeio de ônibus, mas nem sempre era permitida a saída sem levar um irmão mais velho... Que fazer?

                        Tudo transcorria no lar; e até revistas e jornais eram revisados sob a lupa consensual dos pais. Dias de saudade quando, afora a liberdade tolhida, havia o apego da família, os pães repartidos igualmente, as missas compartilhadas e o orgulho de sair de mãos dadas da igreja matriz. Juntos, também, comendo pipoca e assistindo os filmes do Tarzan, faroeste e as chanchadas com Oscarito, Ankito e Grande Otelo. É bom recordar. Tudo no ar respirava a tranquilidade da vida pacata, sem correria, sem alvoroço, mas com pouco dinheiro no bolso o que era só um detalhe.

                        Com a passagem dos anos aconteceu a rebeldia dos jovens, queimando faixas, drogas, cigarros, revoltados e impertinentes que não respeitavam os mais velhos nem a serenidade pública. Gritos de protestos nas ruas e mulheres quase nuas queimavam os sutiãs nas praças. Protestos e versos imersos em veneno que alardeavam a submissão da sociedade aos anseios da incivilidade; tempos de furor e devaneios mesclados de dores e prazeres. Lá se foram para sempre o calor comum de um lar, a mensagem de esperança, o cinema com o Oscarito e a Adelaide Chiozzo tocando no acordeom. Logo depois, houve a mudança abrupta na vida pacata. Agora era a vez de um general gritando suas ordens aos comandados que, enlouquecidos, queimaram casas, mataram pessoas e sumiram com outras.

                          Na verdade, tudo que aconteceu antes do que nós passamos, do que nós vivemos e o que sentíamos não chega às portas do que veio agora – neste exato espaço temporal do ano 2012 as pessoas espreitam umas as outras através da internet, bisbilhotando as vidas alheias e causando transtornos e separações familiares. Fazem contato assim: sem avisar, sorrateiramente como um animal pestilento arrastando-se pelas redes sociais a procura de uma desavença, uma fofoca, um término de casamento ou divulgando fantasias escandalosas. Bem do tempo, mal do tempo! Conforme falaria a minha avó.

                      Infelizmente tudo que acontece agora já foi previsto por videntes,  considerados por nós, no passado, como inconsequentes. Até os primeiros cristãos  já diziam em suas mensagens que no futuro passaríamos por grandes tribulações. Certamente não falavam só sobre o fim do mundo, mas pela distorção da verdade, da impunidade, da malquerença, da irmandade aviltada, disputas e outros crimes em geral. Um embornal cheio de invejas e maldades, como cobras rastreando os passos e espaços alheios.

                      As novidades deste tempo não cabem em uma só cabeça, nem se multiplicadas por cem. Há em cada dia uma coisa diferente: benquista, perversa, tirana; incerta, in loco, insana; difícil, fácil, amena; grande, pequena ou anormal... Neste tempo traiçoeiro em que grassam a inveja e o mal, o pecado bate, afinal, na porta de quem o acolhe. Felizmente a vida continua muito embora todos os acontecimentos, os de ontem e os de hoje. Sempre haverá a desesperança rondando os nossos passos, muito embora a certeza de que o futuro será melhor. Basta de edos ou arremedos!... O que tiver de ser enfrentado hoje ou amanhã, a nossa fé cuidará.

domingo, 28 de março de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

O BRASIL DO CARNAVAL  -  NF  01 - 2012

                                                                                          Neumar Monteiro         

                                                                       

 

                    A Economia brasileira cresceu muito no decorrer dos últimos anos, e este pulo serviu para impulsionar os salários de trabalhadores de vários setores socioeconômicos. Hoje as aquisições salariais aproximam-se a ponto de equiparar o salário de um vigia de obra ao de um Professor gabaritado com curso superior; não desfazendo do trabalho do vigia que não é o nosso intento.

                    Tudo mudou nesta terra de meu Deus!... Depois do Real, que por um lado favoreceu os menos afortunados, houve o colapso das aquisições antes impossíveis que transformaram as moradias num arsenal de aparelhos eletrônicos, às vezes supérfluos, que os adquirentes nem sabem manejar. Hoje em dia o brasileiro está com a faca e o queijo na mão sem estrutura para usá-los.

                        Muita das vezes o poder, seja qual for, transforma o homem num robô que segue o caminho exorbitante dos gastos: grandes viagens, excesso de bebidas e outros tantos que só fazem mal sem preencher o coração de paz ou de alegria. Viramos um copiando o outro; como autômatos enfileirados na fábrica da moeda “Real”, esperando saciar a ganância de viver aventuras e propagá-las aos companheiros na jornada dos copos.

                      Outrora havia a poesia, a serenata, as cantatas dos corais. Havia o tesouro das estórias guardadas a sete chaves pelos avós para encanto dos netos. Havia harmonia, casa cheia e euforia pelo prato de sopa quente que transformava a família num só paladar, coisas do ontem... Hoje é a ganância, é o vício que vende até os filhos para comprar a cachaça. Houve um tempo bom, que não soubemos conservá-lo: a igreja badalando o sino na manhã do bem querer e o almoço do domingo com carne corando ao forno; a rede esperando a sesta e uma festa de bicicletas passeando pelas ruas esvaziadas de carros. Era ontem, distante e sem crise.

                        Atualmente assistimos o festival de crises sobre crises. Falácias de inverdades que os próprios dirigentes do povo enxameiam pelas praças; discursos, sempre os mesmos, para boi dormir ou cigarras cantando ao léu.  Resta-nos o passado que era menos perigoso, quando a tarde era airosa e o sono batia gostoso. Depois o passeio na praça mostrando os vestidos de chita, todos enfeitados de fitas, que neste tempo era moda. Aos ricos os tafetás.

                        Hoje, com a vinda do Real, passaram uma régua no bolso igualando os grandes aos pequenos. Pelo menos era esta a intenção. Só que existem as fortunas que são pagas a alguns; desvio de dinheiro nos caixas; ingerências patrimoniais, uns ganham poucos outros mais e assim vai correndo a vida: um dia bem, outro mal.

                        Neste Brasil brasileiro até quem ganha pouco brinca no carnaval que, aliás, está chegando. Que povo danado de bom! Perdoa os roubos dos cofres; vota em quem lhe der mais (ou que fazem promessas aos pobres e não as cumprem jamais); pisoteia na bandeira, municipal ou nacional; faz uma cara de bobo e de bobo é falaz! Contra a crise ele clama pelo rádio e o jornal, faz cara de bom menino para encher o embornal... Eta povo brasileiro!... Que dia-a-dia o ano inteiro, que vai de janeiro a janeiro em folia nacional, só fala no carnaval!                      

sexta-feira, 26 de março de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

FAZER A DIFERENÇA  -  NF  11- 2011

                                                                      Neumar Monteiro

                                                                           

                  Uma das principais características das pessoas que alcançam suas metas, que realizam seus sonhos e que fazem alguma diferença na vida, chama-se persistência. Persistir quer dizer insistir sempre e nunca desistir dos sonhos ou objetivos. Esta atitude pode facilitar o caminho entre o sucesso e o fracasso, entre a vitória e a derrota. Continuar em busca da meta é o que faz o ser humano vencer, orgulhando-se de si mesmo. O impulso de atingir os sonhos inflama a alma de tal jeito que não há barreira entre o ser e o querer. Esta força vinda do nada, conforme acreditamos, é, na verdade, o sopro espiritual que vem de dentro de nós mesmos apontando-nos o caminho da vitória. Por certo é Deus agindo!

                  A persistência nasce conosco; mas quem não a tem de nascença, pode esforçar-se diariamente para implantá-la dentro de si. Ser otimista é a primeira conduta para atrair a sorte. O pessimismo fecha a voluntariedade e entorpece a busca, razão direta do insucesso. Sem dúvida a questão da sorte é pessoal, mas nem sempre atua se cruzarmos os braços... Então é a força individual que impulsiona o ser humano como uma canoa a singrar o mar da vida. 

                  Destino de cada um, conforme entendemos, não é tão certo assim. Destino é mais crendice do que verdade, mais crédulo do que ateu; ou seja, a batalha da vida deve ser encarada diariamente, pois todos os dias haverá um novo desafio nem que seja uma chuva forte a descerrar uma janela. Fazer a diferença é sobressair na profissão, lutar pelo pão e combater o bom combate, conforme epístola de São Paulo. Só fica na terra quem na terra se norteia, razão de começar sempre um novo dia com a esperança verde de nossas convicções e nossas verdades. Nem sempre tem que ser assim àqueles que as tenham dentro de si.

                 Se a profissão é árdua, desafie o desafio; não se esconda por detrás dos medos e dos enredos cotidianos. Cresça e apareça! Lá fora desabrocha a rosa, cresce o capim, anuvia o céu enrodilhado de noites e dias chuvosos, ou não. Todo amanhecer traz inédita uma novidade: o sol se escondendo atrás do morro com vergonha de mostrar a cara; o gato miando pedindo o leite; o cachorro em algazarra correndo atrás do padeiro; a vaca aleitando o seu bezerro e nós, humanos, começamos um novo dia: exerça-o com sabedoria!

                  O grande desafio da nossa época é a inconstância, sabendo-se que a violência se sobrepõe à paz e a corrupção derruba a retidão. Numa era de inversão dos valores humanos, mais que depressa temos que deixar sobressair a retidão de caráter, na rua e no trabalho. Não leve para casa a mão de rapina, a sorte comprada ou a mente poluída; lute pelo trabalho honesto e não faça do seu mundo um lamaçal de valores invertidos, puídos ou malcheirosos, vale lutar pela paz “sem lenço e sem documento”, mas a mente erguida.

                  Os problemas não podem deter aqueles que anseiam por uma vida melhor. Não se cobra um sonho, nem a realidade. Sonhamos porque nos foi dado o direito de sonhar, assim como recebemos a graça de mudar, de corrigir, de chorar e de sorrir. Podemos ser o que escolhemos, basta-nos acreditar nesta verdade: “Os problemas produzem perseverança, a perseverança produz um coração aprovado. Tudo vai depender da sua atitude com a vida e o florescer do seu coração”. FELIZ NATAL e ANO NOVO!