sábado, 30 de janeiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

ESTA TAL MODERNIDADE!... -  NF  02 - 2010

                                                                                                     Neumar Monteiro

                                                                          

Como viver assim? Nós que passamos da idade, somando as contas nos dedos, ter que usar aparelhos? A tal modernização pegou a gente de jeito, bagunçou a nossa vida e assumiu o seu espaço fazendo de nós dependentes da tecnologia...

Agora tudo é na máquina, quem não aprender aprendesse, dando um nó no que se foi e virando tudo do avesso.

Internet, facebook, orkut, sites e redes – milhões de computadores interligados entre eles; e-mail ganhando espaço, blogs, twitter e arquivos, o mundo globalizado como nunca antes visto; quem não se encaixa é taxado de velho e ultrapassado! Nós que viemos de longe de um passado risonho, vivendo uma vida pacata e aprendendo em velhas máquinas aulas de datilografia, já com a cabeça fechada para tais aprendizagens, ficamos a mercê dos descasos daqueles que chacoteiam, com língua bem afiada, “que velhos não pegam a marcha”.

Um infinito de redes em escala mundial... Que futuro tão brilhante que a cabeça pensante logrou criar nesta terra!... Um mundo que nos fascina e que também nos traz medo, que veio do ontem ao hoje com fé, sem fé ou sem pejo. Sequestradores vendendo crianças a preço vil; escândalos acontecendo dentro e fora do Brasil; o mundo se esfacelando frente à desordem total, furacões atormentando nossos vizinhos da terra já que o globo é um só na trajetória do sol.

Como aprender coisa nova se quase tudo é novo, que  nem as estações do ano continuam as mesmas dantes? Em tempos de outras épocas tudo era organizado: tempo de frio era frio e tempo verão quente era; outono ficava tímido entre ser cálido ou não; primavera soltava flores festejando a estação; inverno se agasalhava com cobertores de lã, casacos até os joelhos e luvas quentando as mãos.

Agora o tempo é internauta, que habita a casa humilde e também a estratosfera; que fica preso ao silêncio em frente ao computador - quando visita as estrelas dos internautas do amor; também é ser que escapa fugindo em sonho fugaz, quando visita, nos mares, as profundezas abissais. É também eficiente quando envia mensagens de emitente ao receptor, recados esses de agrado, recados esses de dor. Poesias criadas no tempo... Traçadas no campo da tela! Umas prenhes de verdades outras de inverdades, deveras.

Um conglomerado de redes em escala mundial. Que loucura este mundo e, também, a inteligência do homem... Que fatalidade aproximou todos na terra, afastando-nos, ao mesmo tempo, uns dos outros? Pode-se falar em e-mail, orkut, blogs e outros tantos, mas nada substitui um diálogo frente a frente e nem o carinho de um abraço pessoal... Seja internauta ou qual.              

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

QUE FALTA QUE FAZ!  - NF  01 - 2010

                                                                                                     Neumar Monteiro

                                                                         
 

Um sábio sonharia com dias melhores, vidas coloridas e paz no mundo em que vivemos. Um sábio é sábio até nos sonhos, e não se desgasta em ultrapassar fronteiras que não lhe cabem desvendar aceitando, pacífico, as dificuldades que lhe rondam os passos. O sábio segue o compasso, e não desvirtua as notas musicais que a criação divina espalhou por toda a terra: dança com a brisa e solfeja uma canção com o vento, sem nenhum lamento que possa calar a música da natureza. O sábio, com certeza, é um sábio, diferente de nós que nos importamos com pequenas coisas.

É bom estar presente quando a vida acontece. Cada hora não vivida por descuido, desesperança ou sono em demasia, é uma que se desconta. Deixamos de ver a criança que se transforma, a rosa que desabrocha e o beijo sem ser beijado; cada momento que se perde, inventamos nada; não trocamos palavras trancadas na garganta e interrompemos o fluxo da espontaneidade; paramos no tempo que o sábio não deixaria desperdiçar: a vida passando em branco como um lençol em cama vazia.

Falta que faz o consolo da prece, o bom dia amigo e de um tempo antigo que se perdeu na saudade. Que falta que faz o Padre José Paulo Vieira a semear o evangelho e salvar as almas. Que saudade do seu sorriso luminoso, que era um brinde de amor ao próximo e que nos transmitia vida. Saudade da acolhida ao povo e, também, do zelo incondicional na doação à Igreja e às Obras de Caridade - “prova de amor melhor não há”.

 O que mais pediríamos a Deus? Falta que faz a compreensão e o perdão; qualquer desavença nos apequena e fincamos os pés na intransigência. Fechamos espaços e trancamos ouvidos, como se a verdade fosse desastrosa sob qualquer argumento e criamos os nossos monstros, desencontros e sofrimentos, pendências que não se resolvem e morrem com a gente como troféus que conquistamos nesta vida passageira.

Tudo é besteira, inconsequência sem eira nem beira. Falta que faz o sentir falta, lembrar outros tempos sem qualquer lamento ou mágoa. O resto não se conta porque tudo é passageiro: ódio, inveja e dinheiro... Que falta que faz ser feliz! Conforme disse “Confúcio”: Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da Sabedoria, à noite pode morrer contente.

                                                  FELIZ ANO NOVO!  

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

CRÔNICA & RTIGOS

 

BOM JESUS É ASSIM! - NF 11 - 2009                                                 

                                                                    Neumar Monteiro

                                  Esta crônica faz parte do Livro "CRÔNICA PARA A CIDADE

AMADA" organizado por ARNALDO NISKIER, Pagina 48                                     

 

BOM JESUS É ASSIM: um pouco de ousadia e um pouco de saudade, meridianos que se cruzam formando uma cidade. Bom Jesus é altaneira! Um povo que não se abala com medo da lua cheia, quando ronda o lobisomem da noite bisbilhoteira.

É bom viver aqui, pois de montanhas cercada, cidade que o vento canta em época de invernada; primavera verte flores embelezando a estrada; outono pare os frutos da goiabeira emprenhada... No verão o sol brilha, fervendo o céu de andorinhas em algazarra na praça! E no lago, portal de entrada, mais o ninhal das garças, completam tanta beleza no voar da passarada.

Bom Jesus é assim! Desde agora, desde sempre. Quem vai embora retorna, quem sai daqui não a esquece, pois fica gravada na mente a saudade que só cresce. O coração do ausente não suporta a despedida, e de janeiro a janeiro a alegria é reprimida. Até que bate a certeza: que quem daqui vai embora, por certo, volta depois – não fica longe da terra quem, nesta terra, viveu... O coração não suporta a ausência do lar que é seu.

Um pouco de ousadia, um pouco de recato: um pé fincado na missa o outro no amasso. É lugar de controvérsia e muita conversa fiada; tempo que lembra o tempo de outros dias passados, da igreja tão antiga, orgulho desta cidade, ao calvário que espreita com os olhos da saudade.

O morro da caixa-d´água que em criança exploramos; Cachoeira do Inferno virou maquete de praça; cachaça famosa, a ‘Matinha’, é largamente exportada e  o doce Xamego Bom é, certamente, tão bom, que dele ninguém desfaz: conhecido em todo mundo vai de avião para a Europa, Estados Unidos, Japão... Todos aplaudem o xamego com cara de quero mais.

O sítio do Odilon, Dalka Diniz na janela, nunca se viu mais bela que a donzela que espiava: a vida lá fora e a tarde já indo embora; Joaquim Tamandaré e os tamarindos no pé, mangas e carambolas, no tempo que rola o tempo, no tempo que foi embora. No arrebol da saudade Dilah Ferolla na moda e Dona Carmita ensinava no colégio Rio Branco, orgulho da região, e tantos anéis graduados lhe devem a dedicação. Garagens que alugavam as bicicletas do ontem, a correria nas ruas, pavimentadas ou não, crianças, jovens e velhos curtindo o sol do verão, zanzando com  vento da hora brincando nos dias de então.

Não há nada que ofereça tantos e tantos prazeres do que viver nesta terra que crescemos admirando. Gente boa, raça forte... Não há ninguém que entorte a viga do coração! Para falar a verdade, viver nesta cidade, às vezes nos aborrece. Mas a raiva logo passa, porque aquilo que importa é praticar o perdão.