sexta-feira, 29 de novembro de 2019

FIM DE UM SONHO - DEVANEIOS 2003



FIM  DE UM SONHO
Neumar Monteiro

Da matéria amorfa
dos meus sonhos desfeitos,
modelei um príncipe
e o corei de ouro.

Com o sopro da minh’alma
bafejei seu rosto,
e do matiz das flores
colori seu corpo.

Dei-lhe tudo que em mim havia,
e se mais tivesse mais daria
par faze-lo meu
para torna-lo vivo.

Mas foi inútil
e o meu trabalho perdido.
Com o nascer da vida
a obra dos meus sonhos
deixou-me aqui
a modelar tristezas,
artista sem anseios,
num corpo sem amor!

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O PADEIRO - DEVANEIOS 2003



O PADEIRO
Neumar Monteiro

O padeiro
inaugura o dia
como seu grito
estridente:
Venha que o pão
está quente!
Um convite à comilança
que a vizinhança acode.
Desfile de rostos
mal dormidos
corpos marcados
por deleites vividos
na noite.

Crianças descobrem
os brioches e os doces
de confeiteiro
na cesta do padeiro.

Um ancião busca
um sonho amarelo,
degustado com a boca
estremecida.
Tantos sonhos
já sonhados nesta
vida!...
Restam-lhe os de creme,
lembrança que ficou
na mente envaidecida.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O NOVELO DE LÃ - DEVANEIOS 2003



O NOVELO DE LÃ
Neumar Monteiro

O novelo de lã
tal qual a vida
vai desfiando seu fio
lentamente.
À medida que desfaz
a sua linha
trama a sorte comum
a toda gente.

Quem o vê assim,
indiferente,
talvez não consiga
deduzir esta verdade:
Quando novo desliza
por teares
na juventude de
seu fio e brilho.
Ao findar da lã
já desprezado
olha o presente
de fulgor ausente,
lembra um passado
que só teceu saudade.