segunda-feira, 28 de julho de 2014

LIVRO "DEVANEIOS" - 2003



           PEDINTES              
             Neumar Monteiro

Pedindo ouro ao sol
e prata à lua,
vai o homem seguindo
a humana trajetória.
Desde épocas primevas,
e através da história,
este ser, incansável,
é um eterno pedinte!

Pede peixes ao mar,
os humildes pescadores.
Para a cura do mal,
batalham os doutores
no desejo tenaz
de garantir a vida.

Pede a flor uma
haste que a recolha:
no afã de viver
não há quem se tolha
seja animal ou vegetal,
a luta é sempre infinda.

E o poeta também
segue a mesma trilha.
À procura do Belo
ele perfilha
os caminhos tortuosos
de dores e tormentos.

Para o dom de pedir
não há mesmo remédio!
Para aquilo que já tem
o homem sente tédio,
para aquilo que quer
ele pede e suspira!...

terça-feira, 15 de julho de 2014

PUBLICADO EM 10 - 2008



   MODA DA MULA PRETA                                                                                               Neumar Monteiro

                  Pelo que tudo indica, Bom Jesus embarcou de vez na moda da Mula Preta de Tonico e Tinoco. Nunca se viram tantos retrocessos como os que vêm acontecendo nos últimos anos, notadamente neste agourento 2008: entre e sai de políticos no comando municipal, eleições sub judice, colégios fechando, Casa das Meninas desativada, Casa de Saúde lacrando suas portas; falta de perspectiva na economia, assustador índice de desemprego, Operação Epidemia… Enfim, coisas outras que preocupam a população. Devemos botar a barba de molho e olhar além de nossas janelas o bonde da história, antes que carregue com ele as últimas de nossas esperanças.
                        Pelo que soubemos da tradição oral e da literatura, aconteceu, em Calheiros, a praga do Padre Preto; e na cidade de Bom Jesus, possivelmente, a praga da Mula Preta. Inexiste outra explicação para tanto descaso, deboche e inoperância, num tropel tão rápido digno de uma mula preta de sete palmos de altura.
                        Traçando um parâmetro, parece-nos que os sete palmos significam os sete pecados capitais: gula, avareza, inveja, ira, soberba, luxúria e preguiça, pois que sete são as coisas que a alma do Senhor abomina, que ferem a Deus, a você e ao próximo, segundo o papa Gregório Magno no século VI e, mais tarde, Tomás de Aquino. Bom Jesus precisa urgentemente de oração, para afastar os miasmas pervertidos do mal antes que se tornem letais para o desenvolvimento de nossa terra.
                                         Tudo o que acontece atinge-nos diretamente. As crianças são as mais prejudicadas, pois que crescem presenciando péssimos exemplos. A tendência é repeti-los mais tarde. A história de Bom Jesus sempre foi permeada com vultos importantes, homens dignos do renome que até hoje carregam. Podemos citar com orgulho: Roberto Silveira, Coronel Portugal, Jorge Assis de Oliveira, Luizinho Teixeira, Olívio Bastos, Oliveiro Teixeira, Tito Nunes, Jorge Azevedo, Gauthier Figueiredo, Sebastião Alfeu, Anselmo, Agostinho Boechat, Joaquim Moreira Megre, dentre tantos que lideraram, com trabalho e dignidade, o crescimento de Bom Jesus. Garra, cidadania e amor a terra.
                                   A Mula Preta morreu da mordida de uma cobra venenosa, conforme moda de viola de Tonico e Tinoco. Que Bom Jesus se salve da insensatez que paira sobre todos, e quanto mais rápido melhor.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

LIVRO "POEMA DO AMOR ETERNO - 1978


   CONSTATAÇÃO
       Neumar M. Silveira
       Para meu querido esposo,
       Paulo Rodrigues da Silveira

Quando o tempo
de prata tingir
os teus cabelos,
hás de sorrir
lembrando a mocidade.
Pois as aflições que
ora te atormentam,
no futuro se chamarão
saudades !

Talvez que agora
as lutas e as tristezas
apaguem o teu sorriso
e ofusquem o teu olhar.
Mas quando a neve do tempo
sufocar teus vãos anseios,
verás que a existência
é muito curta
e não vale a pena
chorar !

Quando as flores juvenis,
pelo outono derradeiro
fenecerem no chão
já desvalidas,
hás de vê-las reflorir
num corpo de criança,
renascendo no seu filho
a tua própria vida !

segunda-feira, 7 de julho de 2014

LIVRO "POEMAS DE NEUMAR" - 1979



                     ESPERA
                            Neumar M. Silveira

É inútil chorar
quando o sonho termina.
É inútil sofrer
as ilusões perdidas.
Até as pedras se encontram
no caminho da vida,
por que não hei de encontra-lo um dia ?

Foi fugaz amor
o sonho que vivemos.
Como pássaros em revoada
nos perdemos
na imensidão de nuvens
que coloriram o nosso amor.

Mas eu sei,
algo me diz
que vou revê-lo um dia.
E o mundo inteiro ouvirá
o gorjeio de alegria
de pássaros que voam
ao ninho do amor.