quarta-feira, 28 de abril de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

O JOGO DO AMOR   NF  -      03 - 2013

                                                                        Neumar Monteiro

                                                                           

 

                 Quem não amou nesta vida, nesta terra pendurada no espaço? Quem não chorou pelo desencanto, pelo acalanto e pelo desespero da miséria de si mesmo que não consegue amigos e nem a paz? O mundo verdadeiro aconchega a alma estremecida, a família unida e a sabedoria plena do sábio que nos preenchem a alma. É curioso aquele que não gosta de ler, de assistir bons filmes, de cumprimentar o vizinho e de passear na praça. O mundo todo é só um globo azulado, que acolhe nossa palma e nossa indiferença; um viveiro de criaturas que nem sabem para onde vão após o derradeiro dia da passagem para outra vida adormecida no espaço. Talvez, somos os palhaços das estrelas estrelando um filme colorido ou em preto e branco ou uma caravana que passa no filme de nossos sonhos... Quem sabe o que é certo ou incerto nesta terra que carrega as estrelas, o sol e a lua? Seremos nós passageiros da escuridão da noite? Por acaso, um foco de luz para luzir as estrelas? Só Deus sabe o caminho e o desalinho.

                Todas as religiões jogam o jogo do amor para conseguir adeptos - no que estão certas - a religião é a água que abençoa e a fala que soa a paz. Através das mensagens proferidas se renova a vida e a credibilidade do ser ou não ser, e da valentia de citar nomes de santos que trabalharam pela causa do conhecimento e da fé. O jogo do amor cata os pedaços daqueles perdidos que nunca entraram numa igreja e caçoam de quem as segue. Para isso, existem os que clamam para abrir os ouvidos para a propaganda da fé - falar de amor, sinceridade e coração aberto, para aceitar o irmão ‘de mal com a vida’.

                Tantos gostam de cantar em noites estreladas, vozes possantes, instrumentos afinados e um gole de cachaça subtraído do vidro escondido no bolso; tantas serenatas, acordando as madrugadas, chorando no acordeão. Tantas emoções escorrendo dos olhos e transbordando no rosto; tantos amores naquele jardim de flores coloridas, como se fossem cachoeiras de mágicas tecidas. Isto é o jogo do amor: que se flora em flor para encantar os olhos emaciados de aventureiros que passam ébrios de cachaça, mas levando uma rosa em sua camisa encardida.

                 Um aconchego do lar é maior que tudo, ainda mais comendo pipoca com várias mãos atacando o mesmo pote transbordante de amor familiar.  Claro que o cardápio é variado... Com os beijos fugidios dos namorados! Se esta rua fosse minha jogava o jogo do amor, que a noite inteira aplaudisse no céu de Nosso Senhor e contava piadas engraçadas enquanto a coruja espiava com a cabeça arredondada, olhos grandes e bico curto. Talvez esperasse o amado, que estava na torre da igreja com suas asas abertas, já anoso e bigodudo, jogando o bico pra frente para alcançar aves pequenas que pousavam no seu posto. Era somente o amor que afastava tal zelo... a esperança de amor cruzava aves sem medo, umas batendo nas outras com bicos de remelexo; voavam em telhados toscos, também  em ricaços palacetes, voando para o infinito para alcançar outros trechos.

                  O “Jogo do Amor” sempre existiu: seja mulher, homem ou lobisomem; sejam feias, morenas ou louras, africanas ou irlandesas; egípcias, inglesas, brasileiras ou sem tetos... O amor passa primeiro arrendando sentimentos que não escapam a ninguém! Pensando bem: O Jogo do Amor é certo!

segunda-feira, 26 de abril de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

HOJE JANEIRO/AMANHÃ FEVEREIRO NF -  02 - 2013

                                                                                                    Neumar Monteiro          

                                                                      

                      Já é janeiro de 2013, as datas correm e os homens não enxergam a sua sina; hoje é domingo! E que será ou o que virá para nós aqui da terra? Os dias passam taciturnos, mudos para o futuro e reles para as nossas vidas. Somos os desconhecidos do espaço enquanto não tivermos alcançados outros mundos, outros latifúndios e outros seres além do morro, além de nossos preconceitos... Defeitos inaugurados dentre os primeiros homens. Discórdias sem conta e calendários passando dias inertes na ausência de trabalho para todos; e o futuro avançando beliscando a nossa cara, rindo de nós na ufana Pátria Brasileira na qual o Real é desigual e a comida não cabe num bornal. 

                     Já foi tempo da bonança, gastança e demais enredos. Hoje a vida passa breve no breviário das preces, qual síntese e sinopse, para alcançar o ônibus que segue por caminhos tortuosos. Tudo diferente, tudo igual!... Não se mudou uma vírgula, nem um descaso, não temos tempo de sonhar com anjos e arcanjos nesta terra que corre pendurada no espaço. Vai um dia segue o outro, vai à paz e vem à guerra, o calor, o frio e o calafrio debaixo das cobertas.          

                       Mundo desregrado emporcalhando o Universo que já não faz mais versos e a musa é desbocada: nada de pantanais, trigais e rios cantando nos leitos... Ai, que saudade das tranças esmeradas das crianças! Do areal beira rio e das borboletas coloridas esvoaçantes no ar; dos vestidos das bonecas feitos de chita com laços e dos circos que foram embora levando consigo os palhaços. Ai, meu coração implora, que tudo retorne agora antes que o mundo acabe e que volte, a cada ano, todo encanto de outrora. Mas neste mundo já não cabe amizade sincera, nem a cigarra vadia, nem mesmo a gargalhada de ontem e nem a pipoca da praça que a Adelaide fazia, o tempo passou a borracha.

                        O mundo virou do avesso, muito esperto e muito tenso, se vai da casa ao cinema pode ser esfaqueado, se a roupa está manchada é alvo de zombaria, se lhe falta à dentadura fique calado num canto para não haver alarido, hoje chamado chacota. Tudo mudou de repente: todas as nossas crenças, palavreados, roupas e comidas; valsas não valsadas; dançar a dois é cafonice; vestido só é bonito se mostrar a coxa ou com decote no umbigo. Sei lá o que será da humanidade com tais explícitos atavios! Dança de Santo Guido, pulando numa perna só, trazendo com a brasa a fogueira da sensualidade sem dó!

                       A própria Igreja se cansa de rezar pra todos os santos com fito de abençoar este povo brasileiro transmitindo a cada missa seus conselhos de salvação. E o povo encolhe as orelhas ou vira a cabeça pra trás, não permitindo aos ouvidos conselhos de Amor e Paz.

                     Já é janeiro, amanhã é fevereiro, posto que o tempo corre assim: não espera na estrada e nem ônibus de parada faz parar. Enovela o janeiro ao fevereiro, que já está batendo na porta, porque a vida não espera!... Culpa nossa, culpa nossa!...

sábado, 24 de abril de 2021

ARTIGO & POESIA

 

NADA COMO ERA ONTEM  NF –     01 - 2013

                                                                                                                                Neumar Monteiro

                                                                            

                        Chegamos ao fim do ano 2012 sem acontecer à vingança da terra para com os homens que nunca cuidaram dela. Não vimos nem fumaça de um fim do mundo tanto aclamado pelos divulgadores de notícias. Acredito no bem e no mal que possa acontecer neste planeta tão maltratado: águas envenenadas pelas indústrias, esgotos a céu aberto que correm para os rios e as trouxas das lavadeiras escorrendo o sabão em cada batida do enxague. Todo o mundo não respeita a natureza, daí árvores cortadas a cada instante para abastecer as serrarias e pelo serrote caseiro para sustentar o fogão a lenha. Tudo tão traumático para todos que aqui habitam: a terra minguando do verde, o verão pegando fogo, a primavera sem flores, amores desvergonhados e aquele frio de outros tempos que foi embora correndo para outros itinerários, o que o Brasil já não contesta, botando fogo na palha em triste aceitação.

                      Ontem havia um ganso que mergulhava na água do Itabapoana, era um verbo de um tempo passado que ninguém levou em conta. As crianças carregavam o ganso em correria até que enjoavam da brincadeira. Ontem se via a lua num céu de prata e de estrelas; ontem todos olhavam, namoravam e dormiam cobertos de sonhos de amor; hoje a poeira empoeirou a lua com os gases venenosos que poluíram o universo. Ontem eram as serenatas embaladas pelos violões e vozes românticas dos apaixonados, poesias enamoradas e cartões passados por mãos escondidas sob a mesa. A lua brilhou, brilhou no céu da mocidade, hoje ficou a saudade: dos tempos vadios e dos ventos uivantes; da sacola de rosca embrulhada nos braços e o chapéu que a vovó nunca tirava. Outro tempo, outro mundo.

                     Lá longe cintilavam as lantejoulas dos carnavais de ontem: vermelhas, douradas e prata faiscante. Lá vem Maria de lantejoulas bordadas no vestido de chita! Riam as ricas das pobres outras crianças. Vamos pular amarelinha, vamos comprar a pipoca, brincar de corre coxia e da princesa Esmeralda; apostar a correria, que bom dinheiro daria, para comprar um sorvete. Entrar noite adentro com as histórias de fadas, lobisomens cabeludos e mais conversas fiadas que inventavam todo dia: Meu pai ganhou na loteria! Só pra fazer inveja. Era um tempo de amizade que as mães levavam os filhos para correr na pracinha, ficavam sentadas nos bancos contando histórias de casa ou receitas que faziam. Uma harmonia sem igual que hoje virou cafonice, bobagem de mulher  com pejo tapando o joelho bonito com a roda da própria saia.    

                   Como será o futuro com os pulos que o próprio dá? Hoje a cabeça nem sabe como o futuro será. O mundo ficou maluco de hora a hora mudar: a moda que há agora, já amanhã não será; a notícia desta hora já num minuto não mais; se o mundo vai acabar como disse a manchete, já passou pela internet e foi parar no beleleu. Ninguém discutiu o tema foi parar no Ipanema deixando o mundo acabar no bar do chope gelado, contando a história boba que o mundo não acabou porque ele ofereceu uma roda de cerveja para os ventos uivantes, para as nuvens que passavam e para a morena bonita de trejeitos apaixonados... Do passado se esqueceu, o fim do mundo aboliu, virou a bebida no copo sem questionar o amanhã e foi embora sorrindo para algo escondido na sua cabeça vã.