sábado, 30 de outubro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

O  VOTO  DAS  MULHERES

                                                                                       Neumar Monteiro

                                                                                              

 

            Segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somam mais de 50 milhões as mulheres que terão direito ao voto nas próximas eleições, representando 49,57% do total de eleitores do país. Nunca na história do Brasil o voto feminino teve tanto peso, sendo maioria entre eleitores de 10 a 27 unidades da Federação. Só nos estados nordestinos somam 13,85 milhões de votos, contra 13,67 milhões de eleitores masculinos na região.

            A notícia é muito alvissareira, sabendo-se que o direito ao voto só foi conquistado pelos mulheres em 1932, portanto, há poucos anos. Após essa expressiva conquista, diversas delas continuaram contribuindo para a construção de a democracia destacando-se como ativistas políticas, em época de repressão, ou simplesmente apoiando os companheiros e filhos que lutavam pela volta ao sistema democrático. O certo é que a participação feminina foi relevante para o soerguimento da atual democracia, consubstanciada em muitas provações e lágrimas. A denominada “Lei do Baton”, de 1995, veio ratificar a importância do papel das mulheres no processo político, não mais como meras espectadoras, mas sim, como protagonistas, de elevada importância, nos resultados das urnas; e a recente Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, diz que “cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento para candidaturas de cada sexo” – uma conquista e tanto !

            Os homens é que se cuidem, porque o tempo de pasmaceira pertence ao passado. As mulheres da atualidade estão mais para Hilda Furacão, no que diz respeito à subversão e luta pelos direitos, do que para as inexpressivas Amélias da música popular. São as vanguardeiras de uma nova etapa na política brasileira, na medida em que colocam vozes nas Câmaras e alcançam o Congresso. Muito embora político-sociais o século que virá, sem dúvida, nos pertence: quer à obreira anônima nos limites do seu lar, que àquelas que lá fora fazem do trabalho um fator de transformação e conquista constantes. Que o prove o próximo milênio !

domingo, 24 de outubro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

O  QUATRO  DE  DEZEMBRO

                                                                                    Neumar Monteiro

                                                                                                    (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

            A todo transcurso de o dia quatro de dezembro volta-me à lembrança a fundação da Academia Bonjesuense de Letras, um fato histórico-cultural, de mais de vinte  anos, que somente quem o viveu pode narrá-lo. Sem dúvida esse é o melhor aspecto da passagem dos tempos, o de contar os causos porque os presenciamos ou porque, por falta de outros, ficamos a relembrar os antigos.

            De qualquer forma, ainda estou aqui  quando muitos dos nossos confrades já partiram para a morada eterna. Afinal, a imortalidade da terra é efêmera como a fumaça que o vento espalha pelos caminhos. Ficam os frutos; e os que se foram nos legaram incontáveis, tantos os culturais, quanto os do coração, porque os poetas são pródigos em ofertar belezas em forma de sonetos, poemas, trovas...

            A ano de 1976 ficou marcado como o dia “D” da cultura bonjesuense. Sob a presidência do acadêmico Dr. Ayrthon Borges Seródio, reuniu-se o que havia de mais proeminente no setor lítero-cultural desta terra e de outros municípios irmanados ao Belo e às Letras. Nasceu dessa confraria uma Academia, que já rendeu muitos lucros literários. Foi através dela e do Conselho Municipal de Cultura, em parceria e sob a mesma presidência, que foram publicados belíssimas obras, incentivada a arte declamatória, exibidos os admiráveis desenhos do Dr. Edson de Souza Reis, recentemente falecido, e acolitados novos poetas, escritores, teatrólogo, musicistas e trovadores.

            Trabalhamos duro e pesado durante esses vinte e dois anos. Alcançamos a maioridade, combatemos o bom combate, completamos a corrida e guardamos a fé”, conforme Carta de São Paulo apóstolo e Timóteo. O resto a história dirá. Pelo sim e pelo não, resta-nos, com certeza, um longo caminho a percorrer e outras que a tantas batalhas em prol de tudo que for bom e valioso para o engrandecimento de nossa literatura. Estamos aqui, ao seu lado, num banco da praça, num escrito, num rabisco... enquanto houver um só de nós, continuaremos a propagar a Academia Bonjesuense de Letras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

                                      NEGROS  E  POBRES

                                                                                    Neumar Monteiro

                                                                                               (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

            O transcurso do 13 de maio traz à lume o problema da discriminação racial no Brasil, tema polêmico inserido em lei por força de preceito constitucional. A propósito de tão desgastado tema, já se bateram muitos constitucionalistas e outros tantos abolicionistas da modernidade, o que não impede que a discriminação continue existindo, levando de enxurro a Lei

Áurea e, também, a Lei Maior do nosso País.

            Não se sabe o motivo de tanta intolerância aos negro. Credencia-se ao passado de escravidão, cujo cenário apontava um Brasil ainda por colonizar, com muito trabalho por fazer e carência de mão-de-obra. O negro chegou, e foi como um holocausto em terra brasileira tantas foram as provações, enxameadas com mortes das mais variadas e torturantes formas. Com ele, todo um panteão místico que se incorporou à nossa religiosidade, num expressivo sincretismo que moldou negros e brancos num único bloco de aculturação espiritual. Da tradição descontraída dos negros, herdamos a indumentária de colorido vibrante; da culinária, os temperos e o angú de fubá regado com muito azeite de dendê; e sobretudo, absorvemos o sentido e a luta pela liberdade, traço marcante desse povo sofrido que preferia morrer a manter-se em cativeiro.

            O sorriso aberto, pelo qual se exibem dentes alvíssimos, mostra a paciência dos negros ao ataque dos brancos. Ainda hoje, no limiar do ano 2.000, encontramos pessoas cuja tolerância racial ultrapassa o limite do bom-senso. A par disso, as notícias nos jornais estampam casos de hotéis que se negam a receber pessoas de cor, e de condomínios que só lhe permitem o trânsito pelos elevadores de serviço. Para esses intolerantes, a Lei Áurea, um dos maiores marcos de conquista sócio-humanitária, nunca foi promulgada.

            A passagem do 13 de maio somam-se outras tantas mazelas, que vão do preconceito às castas sociais, que, por debaixo dos panos, ainda subsistem. Um exemplo disso são as prisões abarrotadas de pretos e pobres, enquanto brancos matadores de índios ficam fora das grades. Enfim, são tantos os apanágios jurídicos para tão pouco uso que se comemorar a Abolição afigura-se-nos uma completa encenação nacional, visando na verdade encobrir a descriminação e o ódio racial que, infelizmente, continuam corroendo os corações.