domingo, 13 de novembro de 2011

O NORTE FLUMINENSE - 11 / 2011

CRÔNICA PUBLICADA NO LIVRO "CRÔNICA PARA A CIDADE AMADA", ORGANIZADO PELO PROFESSOR ARNALDO NISKIER, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.                   

                 BOM JESUS É ASSIM!
                                                                                            Neumar Monteiro

BOM JESUS É ASSIM: um pouco de ousadia e um pouco de saudade, meridianos que se cruzam formando uma cidade. Bom Jesus é altaneira! Um povo que não se abala com medo da lua cheia, quando ronda o lobisomem da noite bisbilhoteira.
É bom viver aqui, pois de montanhas cercada, cidade que o vento canta em época de invernada; primavera verte flores embelezando a estrada; outono pare os frutos da goiabeira emprenhada... No verão o sol brilha, fervendo o céu de andorinhas em algazarra na praça! E no lago, portal de entrada, mais o ninhal das garças, completam tanta beleza no voar da passarada.
Bom Jesus é assim! Desde agora, desde sempre. Quem vai embora retorna, quem sai daqui não a esquece, pois fica gravada na mente a saudade que só cresce. O coração do ausente não suporta a despedida, e de janeiro a janeiro a alegria é reprimida. Até que bate a certeza: que quem daqui vai embora, por certo, volta depois – não fica longe da terra quem, nesta terra, viveu... O coração não suporta a ausência do lar que é seu.
Um pouco de ousadia, um pouco de recato: um pé fincado na missa o outro no amasso. É lugar de controvérsia e muita conversa fiada; tempo que lembra o tempo de outros dias passados, da igreja tão antiga, orgulho desta cidade, ao calvário que espreita com os olhos da saudade.
O morro da caixa-d´água que em criança exploramos; Cachoeira do Inferno virou maquete de praça; cachaça famosa, a‘Matinha’, é largamente exportada e o doce Xamego Bom é, certamente, tão bom, que dele ninguém desfaz: conhecido em todo mundo vai de avião para a Europa, Estados Unidos, Japão... Todos aplaudem o xamego com cara de quero mais.
O sítio do Odilon, Dalka Diniz na janela, nunca se viu mais bela que a donzela que espiava: a vida lá fora e a tarde já indo embora; Joaquim Tamandaré e os tamarindos no pé, mangas e carambolas, no tempo que rola o tempo, no tempo que foi embora. No arrebol da saudade Dilah Ferolla na moda e Dona Carmita ensinava no colégio Rio Branco, orgulho da região, e tantos anéis graduados lhe devem a dedicação. Garagens que alugavam as bicicletas do ontem, a correria nas ruas, pavimentadas ou não, crianças, jovens e velhos curtindo o sol do verão, zanzando com vento da hora brincando nos dias de então.
Não há nada que ofereça tantos e tantos prazeres do que viver nesta terra que crescemos admirando. Gente boa, raça forte... Não há ninguém que entorte a viga do coração! Para falar a verdade, viver nesta cidade, às vezes nos aborrece. Mas a raiva logo passa, porque aquilo que importa é praticar o perdão.

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