DIALOGANDO COM VOCÊ
Neumar
Monteiro
A cada dia está mais difícil
exercitar o diálogo, aquele conversar sadio feito para apaziguar o coração,
entreter e encantar. Hoje não. As conversas estão presas em um mesmo tema,
massificadas como querem os que editam as notícias e criam os assuntos que
devem ser conversados. Nada mais daquela risada gostosa decorrente de um bom
papo, que expurga as tristezas exorcizando os demônios das preocupações. Só
mesmo em rodas de cerveja para liberar a trava da língua, assim mesmo há que
rolar outros de quantos tantos copos.
O diálogo aproxima as pessoas.
Fala-se dele quando a reforma da previdência social está em pauta, quando se
discute o capítulo da novela, quando converge para a situação social dos sem-terra,
quando informa as qualidades ou os defeitos dos candidatos à próxima eleição.
Os assuntos não têm limites. Muito se aprende e muito se joga fora, podendo ser
meio de aproximação ou instrumento de discórdia. Contudo, o verdadeiro diálogo
é a antítese do sectarismo. Não deve exaltar-se a si mesmo, mas basear-se nas
virtudes do enriquecimento recíproco; dialogar é amor e doação constantes, caso
contrário pode transformar-se em egoísmo.
O essencial é que o homem não
prescinda dele nem o troque pela televisão, sob pena de exilar-se num mundo que
nunca cresce, enclausurado num controle remoto de som e de imagem. A alegria da
vida é justamente o interagir, crescer com o outro enquanto lhe transmitimos os
nossos próprios motivos de ser feliz. O diálogo é isso: uma troca além da
prosa. Há tanta esperança morta pelo distanciamento!...
Aquela palavra que não foi
dita pode ser pronunciada no encontro seguinte. Mas não nos demoremos em
articulá-la, pode ser que o ouvinte não esteja presente ao próximo bate-papo, e
o que ficou na intenção talvez nunca seja dito. Aliás, conforme o ditado, de
boas intenções o inferno anda cheio! E o diálogo? Ah, quando é bom ninguém
escapa! Mas, mesmo um péssimo diálogo é preferível a não se ter amigos com quem
conversar, pois eles são, não há quem o negue, a prática da unidade no
exercício maior da convivência humana.
O tempo corre na linha do
trem e não podemos perder a esperança
de
um alvorecer melhor dialogando com a natureza, voando com o vento, abraçando o
futuro para que a vida se desenvolva num enlace afetuoso e conversas amenas,
que no amanhecer de cada dia dialoguemos com nossa alma contemplando-a nas
janelas das estradas, na maturidade das árvores, no frescor do amanhecer e no
voo dos pássaros libertos das gaiolas; converse sempre com o seu coração para
alegrar o seu dia, para vencer as barreiras e desfraldar as bandeiras de nossa
humanidade. Corra corrente de rios navegando suas cachoeiras, dialogando com
Deus em cada espaço no compasso, compassivo, de nossa pequena vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário