quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 10 / 2012


                     DIALOGANDO COM VOCÊ
                                                Neumar Monteiro
                                                           
                 
                 A cada dia está mais difícil exercitar o diálogo, aquele conversar sadio feito para apaziguar o coração, entreter e encantar. Hoje não. As conversas estão presas em um mesmo tema, massificadas como querem os que editam as notícias e criam os assuntos que devem ser conversados. Nada mais daquela risada gostosa decorrente de um bom papo, que expurga as tristezas exorcizando os demônios das preocupações. Só mesmo em rodas de cerveja para liberar a trava da língua, assim mesmo há que rolar outros de quantos tantos copos.
                 O diálogo aproxima as pessoas. Fala-se dele quando a reforma da previdência social está em pauta, quando se discute o capítulo da novela, quando converge para a situação social dos sem-terra, quando informa as qualidades ou os defeitos dos candidatos à próxima eleição. Os assuntos não têm limites. Muito se aprende e muito se joga fora, podendo ser meio de aproximação ou instrumento de discórdia. Contudo, o verdadeiro diálogo é a antítese do sectarismo. Não deve exaltar-se a si mesmo, mas basear-se nas virtudes do enriquecimento recíproco; dialogar é amor e doação constantes, caso contrário pode transformar-se em egoísmo.
                  O essencial é que o homem não prescinda dele nem o troque pela televisão, sob pena de exilar-se num mundo que nunca cresce, enclausurado num controle remoto de som e de imagem. A alegria da vida é justamente o interagir, crescer com o outro enquanto lhe transmitimos os nossos próprios motivos de ser feliz. O diálogo é isso: uma troca além da prosa. Há tanta esperança morta pelo distanciamento!...
                   Aquela palavra que não foi dita pode ser pronunciada no encontro seguinte. Mas não nos demoremos em articulá-la, pode ser que o ouvinte não esteja presente ao próximo bate-papo, e o que ficou na intenção talvez nunca seja dito. Aliás, conforme o ditado, de boas intenções o inferno anda cheio! E o diálogo? Ah, quando é bom ninguém escapa! Mas, mesmo um péssimo diálogo é preferível a não se ter amigos com quem conversar, pois eles são, não há quem o negue, a prática da unidade no exercício maior da convivência humana.
                   O tempo corre na linha do trem e não podemos perder a esperança
de um alvorecer melhor dialogando com a natureza, voando com o vento, abraçando o futuro para que a vida se desenvolva num enlace afetuoso e conversas amenas, que no amanhecer de cada dia dialoguemos com nossa alma contemplando-a nas janelas das estradas, na maturidade das árvores, no frescor do amanhecer e no voo dos pássaros libertos das gaiolas; converse sempre com o seu coração para alegrar o seu dia, para vencer as barreiras e desfraldar as bandeiras de nossa humanidade. Corra corrente de rios navegando suas cachoeiras, dialogando com Deus em cada espaço no compasso, compassivo, de nossa pequena vida.           

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