SAUDADE NÃO TEM IDADE
Neumar Monteiro
Quando criança sempre
haverá as brigas de rua, as invejas, os pecadilhos da infância e a euforia
própria da meninice; a vida conta todas as épocas da passagem na terra e
ninguém pode modificar aquilo que Deus permite. As saudades daqueles tempos sem
mágoas permanecem em nós, mesmo passadas as fases de recordações e saudosismos:
uma música cantada ao longe nos traz o passado como uma fruta colhida no galho,
bem como a cigarra que cantava estridente
na mangueira e, também, como os dias de outrora de algazarras tantas. Hoje
a mente se ressente de não ter algo novo para comemorar, tudo segue uma mesmice
de futilidade, arrogância, inveja ou desespero...
O que será desta
terra adormecida que rola os dias que giram, girando, girassol do espaço? O que
será do sol e da lua sem as conversas das madrugadas e sem serenatas acordando
as saudades e amanhecendo o amanhã? Por certo, a terra adormeceu o seu canto trancando
a alegria das crianças de agora. Não se vê mais o pique bandeira, a roda
rodando na praça, as poesias declamadas, os violões nas madrugadas e os casais de
rolinhas namorando no fio - um desafio para a humanidade que não alcança fazer
o mesmo.
Nestas tardes tão
corridas e nesses dias tão iguais adormeceram as cegonhas, que, aqui, não fazem
ninhos, condenadas a buscar mais longe as suas casas; não vemos mais o gambá e
o sabiá canta acolá – talvez com medo da gente, talvez com medo de amar ou da
seta certeira e impiedosa... Até os animais correm dos homens que, de bobos,
não são.
Alguns anos atrás as
pessoas conversavam com elegância, sentadas no banco da praça enquanto viam o
luar que, na noite encantada, a lua clareava o chão, parecendo mil fantasmas de
fantasmagóricas ilusões. Noite de lua cheia... Noites de medos e paixões!...Tempos
já conhecidos pelos nossos ancestrais que passavam travas nas portas e janelas
também iguais. Até que chegava o dia, passada a noite agourenta, o sol raiava
no céu é hora de acordar; não há nuvens cinzentas neste universo puro anil... A
noite passou dolente, aconchegada ao longe, hoje é dia da esperança que nasce a
cada amanhecer para a alma ficar contente e acalentar a criança.
Os medos passam na
alma mesmo nas horas contentes, pode não dar certo os sonhos que nós queremos,
até chegar outra noite para sonhar novamente. O dia clareia o ar e os sonhos
ficam silentes até a noite chegar, devagarinho, dormente... Até o dia acordar
abrindo os olhos da gente.
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