O GATO COMEU
Neumar
Monteiro
A modernidade acabou com as
famílias dispersando os parentes e plantando as sementes do individualismo.
Houve um retrocesso do carinho nesses tempos que o gato comeu a cortesia e o
amor ao próximo; a solidariedade foi banida da terra em troca da desesperança,
descortesia e malabarismo dos incréus que implantam as guerras e as garras das
malévolas insanidades. O gato comeu a língua da verdade e implantou a mentira, doida
varrida que proclama as suas misérias ao léu e introduz perniciosos avisos em
bocas amaldiçoadas: os arautos do fim do mundo e os que vendem o suor em
fronhas que, usadas, limpam a alma do pecado. Canalhice da humanidade e
insanidade para tirar proveito dos humildes e pobres analfabetos que acreditam
nos mercenários da fé.
O gato comeu o sonho da bailarina
que foi esfaqueada em plena tarde de outono; o carrinho de pipoca foi roubado
pelo lanterninha do cinema; a bolsa colorida que enfeitava a menina foi levada
pelo ladrão da praça e ninguém viu
nada... O gato comeu a língua.
O futuro chegou depressa amortecendo
a dignidade e alardeando mentiras provocadas pela mídia, conforme falavam os
nossos pais; contudo, apareceram novos rumos para o estudo da medicina,
advocacia e das ciências em geral favorecendo o mundo inteiro com as técnicas
modernas dos computadores; nas áreas da saúde e da televisão e tantos outros
tantos que conseguimos alcançar como o espaço sideral no qual o homem aterrissou
na lua. Desde então, o mundo vive a glória espacial que, para os antigos, nunca
aconteceria.
Claro está que houve a mudança dos costumes,
nem sempre todos, porém, àqueles que eram mais entranhados na consciência
universal, como:
o homem nunca chegaria na lua; a
mulher não podia ingressar na Faculdade; também não podia andar sozinha na rua;
não trabalhar fora de casa; usar vestido abaixo do joelho e não conversar a sós
com homens. Hoje tudo é natural conforme o lugar onde se encontra, ou nos
bancos ou nos bares, porém discretamente e com roupas adequadas aos recintos
aonde vão... Muito embora, no ano de 2013, as mulheres pecam na vestimenta,
assoberbadas e dominadas pela moda que, às vezes, nem lhe fazem jus.
O mundo caminha para o apocalipse e o
enredo da humanidade
já caiu no desuso e no escuro forjado
pelo mal; quando virá a luz da apoteose fatal? Quando o gato comer o rato com
garfo ou colher, carregando a faca no bolso do seu chofer para abrir os olhos
da humanidade antes que apoteose final solfeja o solo da eternidade.
O gato espreguiça no seu leito e
o homem, numa corrida sem igual, não consegue deitar seus sonhos no espreguiço
das horas. Labuta, labuta, sem saída pela preguiça das horas, que carregam o minúsculo
salário aguentando o falatório na oficina. Deitar o corpo na cama só na casa
adormecida e esquecida na lembrança. Hoje, agora, o tempo é meu! O que restou
da esperança quando criança na vida dorme num passado distante que o gato
comeu!... A terra valoriza o chão em que se pisa, sem lembrar a oração e a
prece matinal que vem do coração. Antigamente a luz da fé abrilhantava dia e
noite, qual palco de esperança que alimentava os corações... Hoje, nesta vida
perdida, só restou a saudade de outros tempos e outros dias, já tantos esmaecidos
na lembrança.
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