terça-feira, 24 de junho de 2014

PLUBLICADO EM 07 / 2008



AGOSTO É TUDO DE BOM    07/2008            
       Neumar Monteiro
                                  
                   Os dias de agosto com suas tardes lavadas e céu de brigadeiro... Nem tanto chuva nem tanto estio, algumas noites chegadas à friagem. Aquele agosto, que costumávamos ver quando crianças, desapareceu;  até o rio Itabapoana tão imponente no seu trajeto rumo ao mar, hoje diminuído, erodido e assoreado, corre envergonhado da sua feiúra e dos dejetos que carrega em seu caudal.
                                   Agosto é tudo de bom! Melhor seria se fosse como ontem, quando os raios de sol prateavam os morros circundantes e a ternura havia em cada rosto. Saudade dos tradicionais bailes da festa quando voltávamos para casa de madrugada com os sapatos na mão de tantos rodopios e os pés doendo de fazer dó, porém felizes.
                                   Estamos em agosto, quase final do inverno e prenúncio da primavera, época que tudo se abranda e fica numa temperatura tolerável. Ver os amigos que chegam para a festa já balança os corações. Somos bonjesuenses! Como é bom dizê-lo em alto e bom som. Cantar a marcha de Bom Jesus, terra de hospitalidade, com o peito inchado de orgulho; abraçar os conterrâneos e conferir quem engordou, envelheceu, enricou ou arrumou um novo amor; ver como estamos mais bonitos ou mais feios que nossos colegas da mocidade. Correr de fio a pavio todas as lembranças, saborear vitórias e com um pingo de inveja não mencionar, de jeito nenhum, as peças teatrais ou museus que nós, do interior, deixamos de ver. Algo imperdoável!
                                   Mas é agosto... Que engabela o tempo, que desliza as horas, que a cerveja rola e a lembrança entorna. Um agosto a mais para estacionar a vida como um filme mudo rodado no Cine Monte Líbano, com direito a Charlie Chaplin, com seu pequeno bigode, chapéu-coco e a inconfundível bengala de bambu; sons de músicas românticas e rocks, canções de protestos, dança de rosto colado ouvindo “Je t’aime moi non plus”, bailes de formatura e de debutantes; fumar escondido, tomar hi-fi, Martini doce, Whisky com guaraná e Cuba Libre, luz negra nas dancinhas; cadernos de perguntas e respostas... Ler romances e roubar as revistinhas indecentes do irmão mais velho; drops “Dulcora”; anáguas; saborear um refrigerante “Crush”. Epoca das vacas magras mas o sorriso gordo, da obrigação da missa e da ‘bença’ aos mais velhos. Tudo isso gira na memória e transforma o agosto em um mês muito especial.
                                   Agosto é tudo de bom! Não se desfaça das suas lembranças. Seja novamente a criança que brinca na Praça Governador Portela em um dia de domingo. Depois de tudo isso só resta um esconjuro: curupira, assombração, pé-de-pato mangalô três vezes... Que nunca nos falte o agosto!     

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