segunda-feira, 1 de setembro de 2014

LIVRO "DEVANEIOS" - 2003



MEU  POEMA
Neumar Monteiro

Meu poema é feito de suor
e de lágrimas.
Suor, de um povo incompreendido
e explorado.
Lágrimas de exaustão e
sangue.
Dos alfarrábios
escorem leis,
leis que não dizem
nada de hoje.
Só leis. Distantes e sufocadas
em papéis carcomidos pelo tempo.
Meu poema é feito de barro
amassado com suor e o sangue dos oleiros.

É um poema triste, frio e sem sonhos.
Como modelar belezas sobre
a podridão das fossas?
Como cantar canções de musas
para ouvidos moucos?
Meu poema é a voz
dos sepultados e dos calados.
Canto de além-túmulo
e dos braços cadavéricos.
Canto dos que morrem a cada dia
semeando e cavando o trigo.
Mas é preciso cantar!
Antes que a garganta seque,
com a poeira das fábricas,
e o som morra.
É preciso cantar o tudo ou o nada,
não importa.
O importante é escrever poemas
e morrer cantando.



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