terça-feira, 22 de junho de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

MIGALHAS  AOS  POBRES  -  12 - 2013

                                                                                  Neumar Monteiro

                                 

                                   Um protesto subversor tomou conta das ruas, depredando vidraças, bondes, ônibus e praças para mostrar a força do povo brasileiro que carrega sob o ombro a migalha do salário e o desprezo da casta. Famílias inteiras passam fome por não terem o que por na mesa e, também, não fazerem parte da burocracia infame que lança migalhas aos pobres. Em que mundo nós vivemos? ... Apartados da vida, esconjurados da sociedade, denunciados sem brigas, levando só o desprezo pelas calçadas da vida...

                                Os governantes lastimam, com asas de papagaios, entrando no avião para férias em Paris, passeando pelas calçadas dos mais abastados hotéis, sorrindo a cada momento com os implantes de porcelana, conquistando lindas mulheres para a noite que avança. Migalhas aos pobres daqui, ouro e presentes ali. O que será do Brasil?

                                 Quantos foram os protestos pelas ruas brasileiras? Os jovens pintaram a cara e desenharam no peito a força da sua raça; pincharam a praça de guerra com sangue, porretes, bombas e tiros, o ódio semeou desgraça... O Brasil perdeu a graça e o sorriso brasileiro.

                                  Até agora o povo não atinou que o protesto não valeu a pena, tudo ficou como antes na terra de Abrantes, um protesto suburbano... Em que mundo nós vivemos? Massacre capitalista, resistência pacífica e migalhas aos pobres? Todos nós fazemos parte desta nação que brilha nas revistas além de muitos outros países. Somos acomodados em nossos fazeres, mas nem sempre a pressa é amiga da perfeição. O céu abre as portas do Brasil, terra hospitaleira e varonil... Até quando? A rede espera na varanda, o sol empresta mordomia e a praia de areia branca convida o sol que a visita.

                                 Nas casas vazias, de espaços pequenos, nem migalhas caem no barro do chão, a fome aumenta e a coragem treme – mais outro dia sem arroz e feijão! Migalhas, aos pobres, conferem confetes no barro pidão. Tudo se afasta quando se trata de grana, que engana a virtude e estende a mão: não tenho nada para encher a caneca, por favor, dá-me a moeda, por favor, meu coração! Num espaçoso muxoxo, corre o irmão para não abrir a mão. Continuou a vida simplória - denguice, dengue e dengosa. 

                                   Pensou-se haver solução para a falta do pão, porém, não aconteceu nada, como se fosse uma barata entorpecida sem saída para a tarde que caminha e ficou tostada pela ilusão. Adeus tarde rubra, tarde de outubro, quando o sino da procissão tocava alto na torre e os operários, deixando a obra, sonhavam com a casa adormecida da mulher querida.  Adeus futuro que emergia dos meus sonhos... Silentes, azuis de etileno, na fronteira da dor e da guarida; adeus amor que nem cheguei conhecer nesta vida, forasteira dos pobres de migalhas e fantasias; lobo, lobo do mau, variava a vida, no quintal, como se fosse agora que a morte, num intento, queria correr com o vento para perseguir a vida: adeus margarida amarela, adeus rosa rosáceas e vistosas nas roseiras, quem não as vejam não se cresça com amor de um amor na liberdade serena da bondade que o acaso, assim, presenteou. O povo brasileiro sempre decantou a força da vontade, trabalho nas rochas e nas cidades garimpando o pão da terra que lhe traz felicidade; um povo valente e bom que não merece migalhas, porém, sim, aplausos tantos na vida. Migalhas aos pobres minguaram com esta vida corrida sem tento e sem sentimento... Quem se importa o que se diga?    

Nenhum comentário:

Postar um comentário