domingo, 5 de fevereiro de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 04/2007

NAHARAK SAID 
                                                   Neumar Monteiro 

“Tenha um dia abençoado”, conforme traduzido do árabe o título desta crônica. Como abençoados eram os dias dos cantores bonjesuenses nos programas de calouros da antiga rádio de nossa cidade, num tempo, infelizmente, já esmaecido na memória. Época do Gumex, perfume May Grife, revista D’a Saúde da Mulher, Jeca Tatuzinho, Almanaque Goulart e Almanack do Biotônico Fontoura. Vivemos através de seletas recordações. O que somos hoje é o reflexo do que já passamos. Conforme versos do poeta inglês Coventry Patmore: “A verdade é grandiosa, e prevalecerá mesmo que ninguém se importe com ela”, enquanto vivermos neste mundo predominará a integridade do ser, mescla do que fomos e do que somos. Contestar quem há de?...
Sobre os cantores, lavamos a alma ao mencioná-los: Carmem Guimarães (Carmita) que ainda nos enternece com sua voz que não mudou nada, pelo contrário até amadureceu com o transcorrer dos anos, um misto de contralto com os agudos de soprano, de tonalidade rara, um quê de Ângela Maria e Alcione; Tião Moura, das emboladas, uma atração de todas as festas; Manoel Ribeiro com seus boleros apaixonantes; Zé Barbosa, voz de portentoso timbre; Marly, com meiguice e entusiasmo vocal que enterneciam os corações; Zé Besouro imitando o Nelson Gonçalves e dos locutores Edílio Miranda e Nascimento Freire (o Garoto), vozes de colorido e interpretação geniais. Aplaudidos seresteiros e também  componentes da ZYP. 31. 
Há quem diga que lembrar o passado é piegas. Tema controvertido, sabendo-se que quem não lembra é amnésico ou não o viveu ou já morreu, hipóteses lamentáveis. Relembrar é descortinar, tirar o véu, para exibi-lo à geração atual que repassará às futuras, assim sucessivamente. Se conhecer do passado fosse crime, estaríamos menosprezando os textos sagrados da Bíblia fontes de ensinamentos e exemplos sempre atuais.
Como olvidar o “Negativo” que impulsionou por anos a fio a nossa Rádio? Da orquestra do Samuel Xavier e do Juquinha Sapateiro; bar do Oto Hirch, depois do Noé Borges do Carmo; bar do Jésus, Toca da Onça, Biondina e Noelândia? Enfim, outra Bom Jesus já quase perdida...
A cidade, habitada por nossas lembranças, não se move apenas em direção ao passado de nossa história, também para adiante do presente em busca do futuro. Entre o antigo e o contemporâneo, miríades de esferas luminosas, como células aglutinadas, formam a água-viva da Bom Jesus de hoje. Fiquem certos disso: recordar é viver duas vezes tentando conciliar o presente ao passado. Sendo assim, a esperança não morre, só congela no tempo esperando novos acenos para despertar as saudades... Mil vezes revisadas em nossa mente.  

                                                                                        

                   

                                     


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