ISTO É LÁ COM SANTO ANTONIO
Neumar
Monteiro
Deixando
saudades, passou o mês de junho época das comemorações tradicionais, lendas,
parlendas, novenas, histórias e cânticos dedicados ao devocionário popular
cristão: Santo Antonio, São Pedro e São João. Também se abrem os corações para
os pedidos de casamentos e bênçãos diversas repetindo sabedorias ancestrais que
não se apagam, como acontece com a quadrilha.
A dança da
quadrilha teve origem na Inglaterra por volta dos séculos XIII e XIV. A guerra
dos Cem Anos entre França e Inglaterra serviu para promover uma transferência
cultural entre esses países. A França, adotando a quadrilha, levou-a para os
palácios tornando-se então uma manifestação cultural para os nobres. Depois se espalhou
por toda a Europa sendo presença obrigatória nas festividades da nobreza europeia,
incluindo a portuguesa, chegando a ponto de, no século XVIII, ser a grande
dança protocolar de abertura dos bailes da corte.
A quadrilha
chegou ao Brasil com a vinda da Corte Real portuguesa. Rapidamente caiu nas
graças do nosso povo animado e festeiro. Hoje em dia possui características bem
nacionais, não obstante conservando a mesma função antropológica, social e
cultural de outros tempos. Variantes do mesmo tema apareceram outras, como a
Quadrilha Caipira no interior do Estado do Rio e de São Paulo (e Minas Gerais);
o baile Sifilítico na Bahia e Goiás; a Suruê no Brasil Central; Mana Chica e o Fandango; Pericón no Rio Grande do
Sul, e demais com a mesma marcação da quadrilha. Atualmente, ela apresenta uma
mescla de português e francês, conforme expressões como “Balancê” (balancer), “Avan
tu”,” Anarriér”, “Anavan” (em avant), “returnê” (returner) e “Tur” (tour).
Um mês de festas
e arrebaldes embandeirados, iguais aos de Bom Jesus de décadas passadas.
Propriamente um passeio por países europeus geograficamente tão distantes - um
tour cultural, com certeza! O ar cheirando a milho na brasa; as fogueiras
iluminando a noite e aquecendo a melancolia das sanfonas choronas embaladas no
compasso musical. Saudades do Negativo, Délio Porto, Temildo, Quininho, Didiu e
Salim Tannus, e de todos aqueles que promoviam quadrilhas no antigo Aero Clube
cujos nomes se perderam no tempo. Saudades de ter parceiro para enlaçar no
rodopio das quadrilhas. Dos balões, proibitivos no mundo de hoje; dos namoros
esquentados pelo braseiro que assava a batata-doce; dos fogos de artifício que coloriam
o céu; da calcinha de nylon e do quentão que aqueciam as madrugadas juninas;
das folhas de bananeiras que escondiam os namorados, e da esperança que Santo
Antonio daria um jeito no namoro complicado. Recordações...
A Prefeitura
Municipal, através da Secretaria de Turismo, promoveu uma animada Festa Junina,
e com muita competência o fez. Parabéns pela coerência cultural e pelo reacender
da bela tradição popular. Bom Jesus reviveu suas raízes bem no coração da
cidade: na tradicional Praça Governador Portela. Muito bom!