sexta-feira, 13 de julho de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 07 / 2012

                            PALAVRAS SÃO VERSOS
                                            Neumar Monteiro
                                                                    (neumarmonteiro.blogspot.com)
                         Palavras ferinas, palavras ladinas, palavras sem nexo... Palavras apenas, sinceras, pequenas, palavras são versos. Palavras que saem
da boca, perfeitas. Palavras origem que vertem malfeitas distorcendo o rumo da história. Palavras ingratas em línguas alheias que tecem as teias malsãs das inglórias. Palavras, palavras... Quem há de esquecê-las? Quem há de não dizê-las todas? Quem há de trancá-las, quietas e ausentes, podendo dizê-las e   querendo expressá-las? Palavras não ditas, na boca, guardadas, são mágoas doídas lá dentro da gente.
                         Tantas palavras são ditas no dia a dia... Quantos comentários  tecemos com ódio na boca no fogo da maldade? O homem não consegue calar os seus devaneios distorcidos, a sua inveja vil e a vontade de sobressair-se, mesmo que pisando nos cacos de vidro espalhados no chão da estrada. Vence todos os empecilhos em busca da fama inglória ou malversada, mesmo   cortando caminhos ou vilipendiando a própria estrutura familiar. O homem sempre foi assim desde os primórdios da humanidade: traindo o que Deus lhe deu, Caim matando Abel ou um judeu errante da história de Gustave Doré e Pierre Dupont. As lendas nascem, desenvolvem-se e se aperfeiçoam como o segmento da própria vida ou a necessidade de aplicação. Assim como nascem às vezes definham-se, como sementes mortas num campo sem cuidados. Há que se trabalhar para plantar o bem, colhendo os frutos benfazejos que a terra proverá.
                        É certo que quem planta o amor também o recebe, muito das vezes acrescentado. É como se semeasse o bem dos primórdios da humanidade quando todos viviam em paz no Paraíso. Depois, veio o mal grassando os campos verdes e sãos com as sementes das discórdias e das maldades: Quem é arrogante é como o judeu errante num caminhar sem fim. Palavras são versos manifestos em nossa vida. É o plantio da semente boa e da colheita farta. O que adianta o glamour das tardes adormecidas se não me derem a vida?
                        Palavras ladinas que escorrem da boca, são como cloacas abertas ao léu; tantas maldades, malditas, que a lua, perdida, se esconde no céu. Onde os campos floridos e os trigais dourados? Onde o canto de paz que abranda o dia? Onde a corrida dos versos manifestos da alma? Onde a redondilha maior e a redondilha menor nas rimas poetas do bem e do mal? O tempo fechou a rima no armário para que não expor a beleza do verso, as coisas boas da vida, o sortilégio dos sonhos e a madressilva florida; o mundo cerrou o cenho para o belo da saudade, que traz maturidade à alma entristecida; já não conheço o versejar do poeta, nem a alma manifesta e nem os sons das rimas... Já não suporto a solidão do acaso, a poesia estrangulada e as flores mal pisadas pelos caminhos; não quero mais avessos nem sonetos sem sentidos... Quero versos sussurrando amor e sentimentos puros, onde a manhã busca a noite para o renascer da vida.                                  

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