terça-feira, 31 de julho de 2012

O NORTE FLUMINENSE 07 / 2007


 ISTO É LÁ COM SANTO ANTONIO
                                        Neumar Monteiro

Deixando saudades, passou o mês de junho época das comemorações tradicionais, lendas, parlendas, novenas, histórias e cânticos dedicados ao devocionário popular cristão: Santo Antonio, São Pedro e São João. Também se abrem os corações para os pedidos de casamentos e bênçãos diversas repetindo sabedorias ancestrais que não se apagam, como acontece com a quadrilha.
A dança da quadrilha teve origem na Inglaterra por volta dos séculos XIII e XIV. A guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra serviu para promover uma transferência cultural entre esses países. A França, adotando a quadrilha, levou-a para os palácios tornando-se então uma manifestação cultural para os nobres. Depois se espalhou por toda a Europa sendo presença obrigatória nas festividades da nobreza europeia, incluindo a portuguesa, chegando a ponto de, no século XVIII, ser a grande dança protocolar de abertura dos bailes da corte.
A quadrilha chegou ao Brasil com a vinda da Corte Real portuguesa. Rapidamente caiu nas graças do nosso povo animado e festeiro. Hoje em dia possui características bem nacionais, não obstante conservando a mesma função antropológica, social e cultural de outros tempos. Variantes do mesmo tema apareceram outras, como a Quadrilha Caipira no interior do Estado do Rio e de São Paulo (e Minas Gerais); o baile Sifilítico na Bahia e Goiás; a Suruê no Brasil Central; Mana  Chica e o Fandango; Pericón no Rio Grande do Sul, e demais com a mesma marcação da quadrilha. Atualmente, ela apresenta uma mescla de português e francês, conforme expressões como “Balancê” (balancer), “Avan tu”,” Anarriér”, “Anavan” (em avant), “returnê” (returner) e “Tur” (tour). 
Um mês de festas e arrebaldes embandeirados, iguais aos de Bom Jesus de décadas passadas. Propriamente um passeio por países europeus geograficamente tão distantes - um tour cultural, com certeza! O ar cheirando a milho na brasa; as fogueiras iluminando a noite e aquecendo a melancolia das sanfonas choronas embaladas no compasso musical. Saudades do Negativo, Délio Porto, Temildo, Quininho, Didiu e Salim Tannus, e de todos aqueles que promoviam quadrilhas no antigo Aero Clube cujos nomes se perderam no tempo. Saudades de ter parceiro para enlaçar no rodopio das quadrilhas. Dos balões, proibitivos no mundo de hoje; dos namoros esquentados pelo braseiro que assava a batata-doce; dos fogos de artifício que coloriam o céu; da calcinha de nylon e do quentão que aqueciam as madrugadas juninas; das folhas de bananeiras que escondiam os namorados, e da esperança que Santo Antonio daria um jeito no namoro complicado. Recordações...
A Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Turismo, promoveu uma animada Festa Junina, e com muita competência o fez. Parabéns pela coerência cultural e pelo reacender da bela tradição popular. Bom Jesus reviveu suas raízes bem no coração da cidade: na tradicional Praça Governador Portela. Muito bom!


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