segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O NORTE FLUMINENSE - 01- 2013



                NADA COMO ERA ONTEM
                                                         Neumar Monteiro
                                                                     
                        Chegamos ao fim do ano 2012 sem acontecer à vingança da terra para com os homens que nunca cuidaram dela. Não vimos nem fumaça de um fim do mundo tanto aclamado pelos divulgadores de notícias. Acredito no bem e no mal que possa acontecer neste planeta tão maltratado: águas envenenadas pelas indústrias, esgotos a céu aberto que correm para os rios e as trouxas das lavadeiras escorrendo o sabão em cada batida do enxague. Todo o mundo não respeita a natureza, daí árvores cortadas a cada instante para abastecer as serrarias e pelo serrote caseiro para sustentar o fogão a lenha. Tudo tão traumático para todos que aqui habitam: a terra minguando do verde, o verão pegando fogo, a primavera sem flores, amores desvergonhados e aquele frio de outros tempos que foi embora correndo para outros itinerários, o que o Brasil já não contesta, botando fogo na palha em triste aceitação.
                      Ontem havia um ganso que mergulhava na água do Itabapoana, era um verbo de um tempo passado que ninguém levou em conta. As crianças carregavam o ganso em correria até que enjoavam da brincadeira. Ontem se via a lua num céu de prata e de estrelas; ontem todos olhavam, namoravam e dormiam cobertos de sonhos de amor; hoje a poeira empoeirou a lua com os gases venenosos que poluíram o universo. Ontem eram as serenatas embaladas pelos violões e vozes românticas dos apaixonados, poesias enamoradas e cartões passados por mãos escondidas sob a mesa. A lua brilhou, brilhou no céu da mocidade, hoje ficou a saudade: dos tempos vadios e dos ventos uivantes; da sacola de rosca embrulhada nos braços e o chapéu que a vovó nunca tirava. Outro tempo, outro mundo.
                     Lá longe cintilavam as lantejoulas dos carnavais de ontem: vermelhas, douradas e prata faiscante. Lá vem Maria de lantejoulas bordadas no vestido de chita! Riam as ricas das pobres outras crianças. Vamos pular amarelinha, vamos comprar a pipoca, brincar de corre coxia e da princesa Esmeralda; apostar a correria, que bom dinheiro daria, para comprar um sorvete. Entrar noite adentro com as histórias de fadas, lobisomens cabeludos e mais conversas fiadas que inventavam todo dia: Meu pai ganhou na loteria! Só pra fazer inveja. Era um tempo de amizade que as mães levavam os filhos para correr na pracinha, ficavam sentadas nos bancos contando histórias de casa ou receitas que faziam. Uma harmonia sem igual que hoje virou cafonice, bobagem de mulher  com pejo tapando o joelho bonito com a roda da própria saia.    
                   Como será o futuro com os pulos que o próprio dá? Hoje a cabeça nem sabe como o futuro será. O mundo ficou maluco de hora a hora mudar: a moda que há agora, já amanhã não será; a notícia desta hora já num minuto não mais; se o mundo vai acabar como disse a manchete, já passou pela internet e foi parar no beleleu. Ninguém discutiu o tema foi parar no Ipanema deixando o mundo acabar no bar do chope gelado, contando a história boba que o mundo não acabou porque ele ofereceu uma roda de cerveja para os ventos uivantes, para as nuvens que passavam e para a morena bonita de trejeitos apaixonados... Do passado se esqueceu, o fim do mundo aboliu, virou a bebida no copo sem questionar o amanhã e foi embora sorrindo para algo escondido na sua cabeça vã.  



                      

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