NADA COMO ERA ONTEM
Neumar Monteiro
Chegamos ao fim do ano
2012 sem acontecer à vingança da terra para com os homens que nunca cuidaram
dela. Não vimos nem fumaça de um fim do mundo tanto aclamado pelos divulgadores
de notícias. Acredito no bem e no mal que possa acontecer neste planeta tão
maltratado: águas envenenadas pelas indústrias, esgotos a céu aberto que correm
para os rios e as trouxas das lavadeiras escorrendo o sabão em cada batida do enxague.
Todo o mundo não respeita a natureza, daí árvores cortadas a cada instante para
abastecer as serrarias e pelo serrote caseiro para sustentar o fogão a lenha.
Tudo tão traumático para todos que aqui habitam: a terra minguando do verde, o
verão pegando fogo, a primavera sem flores, amores desvergonhados e aquele frio
de outros tempos que foi embora correndo para outros itinerários, o que o
Brasil já não contesta, botando fogo na palha em triste aceitação.
Ontem havia um ganso que
mergulhava na água do Itabapoana, era um verbo de um tempo passado que ninguém
levou em conta. As crianças carregavam o ganso em correria até que enjoavam da
brincadeira. Ontem se via a lua num céu de prata e de estrelas; ontem todos olhavam,
namoravam e dormiam cobertos de sonhos de amor; hoje a poeira empoeirou a lua
com os gases venenosos que poluíram o universo. Ontem eram as serenatas
embaladas pelos violões e vozes românticas dos apaixonados, poesias enamoradas
e cartões passados por mãos escondidas sob a mesa. A lua brilhou, brilhou no
céu da mocidade, hoje ficou a saudade: dos tempos vadios e dos ventos uivantes;
da sacola de rosca embrulhada nos braços e o chapéu que a vovó nunca tirava.
Outro tempo, outro mundo.
Lá longe cintilavam as
lantejoulas dos carnavais de ontem: vermelhas, douradas e prata faiscante. Lá
vem Maria de lantejoulas bordadas no vestido de chita! Riam as ricas das pobres
outras crianças. Vamos pular amarelinha, vamos comprar a pipoca, brincar de
corre coxia e da princesa Esmeralda; apostar a correria, que bom dinheiro
daria, para comprar um sorvete. Entrar noite adentro com as histórias de fadas,
lobisomens cabeludos e mais conversas fiadas que inventavam todo dia: Meu pai
ganhou na loteria! Só pra fazer inveja. Era um tempo de amizade que as mães
levavam os filhos para correr na pracinha, ficavam sentadas nos bancos contando
histórias de casa ou receitas que faziam. Uma harmonia sem igual que hoje virou
cafonice, bobagem de mulher com pejo
tapando o joelho bonito com a roda da própria saia.
Como será o futuro com os
pulos que o próprio dá? Hoje a cabeça nem sabe como o futuro será. O mundo
ficou maluco de hora a hora mudar: a moda que há agora, já amanhã não será; a
notícia desta hora já num minuto não mais; se o mundo vai acabar como disse a
manchete, já passou pela internet e foi parar no beleleu. Ninguém discutiu o
tema foi parar no Ipanema deixando o mundo acabar no bar do chope gelado,
contando a história boba que o mundo não acabou porque ele ofereceu uma roda de
cerveja para os ventos uivantes, para as nuvens que passavam e para a morena
bonita de trejeitos apaixonados... Do passado se esqueceu, o fim do mundo
aboliu, virou a bebida no copo sem questionar o amanhã e foi embora sorrindo
para algo escondido na sua cabeça vã.
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