sábado, 30 de março de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
terça-feira, 19 de março de 2013
O NORTE FLUMINENSE 03-2013
O JOGO DO AMOR
Neumar Monteiro
Quem não amou nesta vida, nesta terra
pendurada no espaço? Quem não chorou pelo desencanto, pelo acalanto e pelo
desespero da miséria de si mesmo que não consegue amigos e nem a paz? O mundo
verdadeiro aconchega a alma estremecida, a família unida e a sabedoria plena do
sábio que nos preenchem a alma. É curioso aquele que não gosta de ler, de
assistir bons filmes, de cumprimentar o vizinho e de passear na praça. O mundo
todo é só um globo azulado, que acolhe nossa palma e nossa indiferença; um
viveiro de criaturas que nem sabem para onde vão após o derradeiro dia da
passagem para outra vida adormecida no espaço. Talvez, somos os palhaços das
estrelas estrelando um filme colorido ou em preto e branco ou uma caravana que
passa no filme de nossos sonhos... Quem sabe o que é certo ou incerto nesta
terra que carrega as estrelas, o sol e a lua? Seremos nós passageiros da
escuridão da noite? Por acaso, um foco de luz para luzir as estrelas? Só Deus
sabe o caminho e o desalinho.
Todas as religiões jogam o jogo
do amor para conseguir adeptos - no que estão certas - a religião é a água que
abençoa e a fala que soa a paz. Através das mensagens proferidas se renova a
vida e a credibilidade do ser ou não ser, e da valentia de citar nomes de
santos que trabalharam pela causa do conhecimento e da fé. O jogo do amor cata
os pedaços daqueles perdidos que nunca entraram numa igreja e caçoam de quem as
segue. Para isso, existem os que clamam para abrir os ouvidos para a propaganda
da fé - falar de amor, sinceridade e coração aberto, para aceitar o irmão ‘de
mal com a vida’.
Tantos gostam de cantar em
noites estreladas, vozes possantes, instrumentos afinados e um gole de cachaça
subtraído do vidro escondido no bolso; tantas serenatas, acordando as
madrugadas, chorando no acordeão. Tantas emoções escorrendo dos olhos e
transbordando no rosto; tantos amores naquele jardim de flores coloridas, como
se fossem cachoeiras de mágicas tecidas. Isto é o jogo do amor: que se flora em
flor para encantar os olhos emaciados de aventureiros que passam ébrios de
cachaça, mas levando uma rosa em sua camisa encardida.
Um aconchego do lar é maior
que tudo, ainda mais comendo pipoca com várias mãos atacando o mesmo pote transbordante
de amor familiar. Claro que o cardápio é
variado... Com os beijos fugidios dos namorados! Se esta rua fosse minha jogava
o jogo do amor, que a noite inteira aplaudisse no céu de Nosso Senhor e contava
piadas engraçadas enquanto a coruja espiava com a cabeça arredondada, olhos
grandes e bico curto. Talvez esperasse o amado, que estava na torre da igreja
com suas asas abertas, já anoso e bigodudo, jogando o bico pra frente para
alcançar aves pequenas que pousavam no seu posto. Era somente o amor que
afastava tal zelo... a esperança de amor cruzava aves sem medo, umas batendo
nas outras com bicos de remelexo; voavam em telhados toscos, também em ricaços palacetes, voando para o infinito
para alcançar outros trechos.
O “Jogo do Amor” sempre
existiu: seja mulher, homem ou lobisomem; sejam feias, morenas ou louras,
africanas ou irlandesas; egípcias, inglesas, brasileiras ou sem tetos... O amor
passa primeiro arrendando sentimentos que não escapam a ninguém! Pensando bem:
O Jogo do Amor é certo!
quarta-feira, 13 de março de 2013
LIVRO "DEVANEIOS"
CANÇÃO PARA MARIA
Neumar
Monteiro
Ouvi o canto da
noite,
senti o cheiro do
dia.
Para onde foi Maria
perdida e
desconsolada?
Quando se foi, quase
nada
restava da outa
Maria:
Maria figueira braba,
Maria de muita orgia
que dançava e brigava
como só ela sabia.
Maria das serenatas
estuantes de alegria
!
Depois o tempo
escoara
no túnel do
dia-a-dia.
Maria dos belos
sonhos,
sonhando triste vivia.
Para onde foi Maria
perdida e
desconsolada?
No cais a brisa
soprava
odores da maresia.
Maria, cheia de sonhos,
eternamente dormia
embalada pelas vagas,
sem tristeza ou
alegria.
Nunca mais sua
risada...
Para onde foi Maria?
sexta-feira, 8 de março de 2013
domingo, 3 de março de 2013
O NORTE FLUMINENSE - 09-2007
CHOREI LARGADO
Neumar
Monteiro
Contemplar,
nos dias hoje, a vista panorâmica de Bom Jesus do Itabapoana não é relembrar a
mesma cidade que se conhecia na infância: as encostas, os vales e os morros que
na época eram ainda desabitados, uma pureza quase impossível de recordar devido
o crescimento desordenado e as construções que vemos hoje. A mera ideia de que
esse paraíso perdido nos tenha legado tantas paisagens belas, que pudemos apreciar,
causa-nos uma espécie de arrebatamento.
Aqui,
no ponto em que a melancolia se mistura ao prazer, é que percebemos as
descontinuidades que só são perceptíveis para aqueles que conhecem muito bem a
sua cidade: o vento que traz a chuva, o sol que prenuncia um verão muito quente
e a aragem que leva embora o calor para além do Itabapoana. Do alto do morro do
calvário se avista a cidade qual colcha de retalhos com suas calçadas, vielas
apertadas, becos sem saída, ruas ajardinadas e o corte molhado do rio que rasga
em duas cidades a continuidade do asfalto.
O
que procuramos descrever não é a Bom Jesus de ontem, mas as recordações que
vemos refletidas, as que observamos e partilhamos em comunidade. É relembrar o
antigo calvário tão pequeno de estrutura, porém rico em história, aonde se ia rezar
para que caísse chuva nos meses de estio. A procissão saía piedosamente da
Igreja Matriz com seus terços, andores e cantorias sacras subindo o morro em
marcha compassada. Na maioria das vezes a volta da procissão acontecia debaixo
de chuva. Havia ali perto uma velha senhora que cerzia meias e vendia ovos de
roça, que tirava um a um de uma cesta envernizada como se joias fossem. Sob o
abrigo da sua varanda esperávamos que a chuva parasse.
Atualmente
o calvário virou outro calvário, moderno, espaçoso, mas sem sentimento, sem
história, sem o afã religioso de outros tempos. Obra moderna, sem demérito de
nossa parte, mais longe de tocar as cordas sensíveis do coração. Um monumento
turístico, nunca um marco de devoção - engessado às duas estruturas laterais
por uma viga de concreto como dois braços imobilizados - impedidos, assim, de
abençoar o povo. Pelo menos o espaço interno, encimado pela cúpula ovalada,
deveria ficar à vista e não encoberto pela trave de cimento conforme ficou. A
descaracterização foi totalmente inoportuna, uma mácula no típico modelo
franciscano, com traços tendentes do barroco e sobrevivência, nos arcos, do
renascentista.
Só na lembrança permanece a relva
dançante sob o vento; os pés de manacás,
araçás, aloés e capins-cidreiras de décadas passadas. Outro tempo engolido pela
modernidade, como tudo que acaba deixando um lastro de saudade.
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