AS TANAJURAS VOLTARAM
Neumar
Monteiro
Mal começaram
as chuvas e as tanajuras apareceram. Que alegria recordar o tempo de criança
quando, em brincadeira cruel, os meninos espetavam as tanajuras num palito
fazendo-as bater as asas até a morte. Também era comum colocá-las para brigar, até
que a mais forte cortasse a cabeça da outra. Um verdadeiro combate acontecia, com
crianças, em debandada, levando dezenas desses insetos para o desfecho fatal.
A
volta das tanajuras, que andavam sumidas há muito tempo, trouxe um quê de
saudosismo quando ainda existia o horto florestal em Bom Jesus do Itabapoana.
Sob a sombra de árvores frondosas, acontecia o despertar da vida embriagada
pelo perfume das flores. Todo o horto cheirava a mato pisado, ipês amarelos,
acácias e mangas maduras; rico, também, em samambaias gigantes e avencas que,
coando o sol, lançavam espectros bordados sobre a terra fértil. Ali aconteciam
aulas de zoologia e de botânica, programadas pelas escolas, já que a
diversidade da flora e da fauna favorecia o ensino in loco, conforme o exemplo
de Bom Bosco que ensinava seus alunos ao ar livre e rodeados de verde. Abaixo
do horto, o ribeirão Soledade, com águas transparentes e piscosas, percorria o
seu caminho em direção do rio Itabapoana que, naquele tempo, era limpo.
Recordar
nos traz o som de Lafayette e seu conjunto que abrilhantou tantos bailes
inesquecíveis na juventude. O Aero Clube engalanado para receber os dançarinos,
os vestidos esvoaçantes os ternos bem passados e o aroma do perfume “Lancaster”.
Após tantos rodopios no salão, nada como um dia seguinte para um piquenique no
horto. Toda a turma reunida para comentar a paquera, passear de mãos dadas com
o namorado e beber água tônica para combater a ressaca. Sentados no chão,
toalha estendida, pão com salame e conversas entremeadas com risos.
Hoje já não temos o horto
florestal nem um lugar apropriado para apreciar a natureza. O impulso
imobiliário expulsou o verde. Prédios se erguem sobre um cemitério de acácias,
dálias e crisântemos, ceifando a vida das espécies botânicas com pedra e cimento.
Fim de uma era de dias amenos e com estações do ano definidas. O calor
sufocando as cidades que, à míngua de refrigério, integram o burburinho de um
mundo cujo aquecimento global aponta para um trágico fim. O homem não se
preocupou em cuidar do Jardim do Éden... Infelizmente, nenhum de nós pensou nisso.
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