quinta-feira, 27 de novembro de 2014

PUBLICADO EM 11-2008


AI QUE SAUDADE DA AMÉLIA 

                               Neumar Monteiro

 

                               Saudade de tantas Amélias que se foram desta vida, que cuidavam do lar e educavam seus filhos sem retribuição ou reconhecimento. Amélia que era mulher de verdade na singeleza de seu cotidiano do fogão a lenha ao ferro a brasa. Vestida de algodão e calçando chinelas, que mulher era aquela que tinha tanta força muito embora o silêncio das suas palavras?

                                   Outro tempo, quando os caminhos eram sombreados por árvores frondosas que emendavam sua folhagem como uma colcha de retalhos verdes. Hoje quase não temos verde, nem o vermelho-amarelo das frutas de estações. Ainda bem que restaram as mangas, apesar de todo um alfabeto de destruição que vai dos araçás à zamboa, fruta cítrica semelhante à cidra. Citando uma frase antiga diríamos que tudo foi pra “A Tonga de Mironga do Kabuletê”, como registrou o compositor Toquinho que ouviu a expressão na casa de Vinicius de Moraes em Salvador, na Bahia, equivalente a um xingamento nagô de uma tribo oriunda da África. Virou febre e enlouqueceu platéias.

                                   “Ai que Saudade da Amélia”, dos compositores Mario Lago e Athaulfo Alves, de 1941, continua um sucesso mesmo transcorrido tantos anos. Além da nostalgia que nos traz o samba, lembra-nos que a sabedoria de toda uma geração de Amélias forjou a mulher moderna, sem preconceitos, que firmou sua igualdade perante o mundo. Hoje dirige carros importados e segue com sucesso o rumo que lhe aponta o nariz.

                                   O mundo mudou, e o termo “Repimboca da Parafuseta” sumiu do linguajar dos mecânicos. Tal termo era aplicado quando não se conseguia identificar o defeito de um carro. Era chique e não significava coisa nenhuma, só uma maneira de enrolar o dono do veículo. Apenas o registro de uma curiosidade daqueles tempos.

                                   Tantas coisas interessantes e preciosas de um passado recente já que se pode ser lembrado. Somente o que se esquece vira passado; o que se lembra vira lembranças.

                                   Da tonga de mironga até a repimboca da parafuseta o mundo deu muitas voltas:  o Brasil elegeu o Lula, Estados Unidos o Barack Obama, Bom Jesus não resolveu a eleição e o pãozinho de sal não cabe no bolso dos pobres. Tudo na mais perfeita ordem, tudo na mais santa paz, como canção de Toquinho e Vinicius.

 

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