HOJE JANEIRO / AMANHÃ FEVEREIRO
Neumar Monteiro
Já é janeiro de 2013, as
datas correm e os homens não enxergam a sua sina; hoje é domingo! E que será ou
o que virá para nós aqui da terra? Os dias passam taciturnos, mudos para o
futuro e reles para as nossas vidas. Somos os desconhecidos do espaço enquanto
não tivermos alcançados outros mundos, outros latifúndios e outros seres além
do morro, além de nossos preconceitos... Defeitos inaugurados dentre os
primeiros homens. Discórdias sem conta e calendários passando dias inertes na
ausência de trabalho para todos; e o futuro avançando beliscando a nossa cara,
rindo de nós na ufana Pátria Brasileira na qual o Real é desigual e a comida
não cabe num bornal.
Já foi tempo da bonança,
gastança e demais enredos. Hoje a vida passa breve no breviário das preces,
qual síntese e sinopse, para alcançar o ônibus que segue por caminhos
tortuosos. Tudo diferente, tudo igual!... Não se mudou uma vírgula, nem um
descaso, não temos tempo de sonhar com anjos e arcanjos nesta terra que corre
pendurada no espaço. Vai um dia segue o outro, vai à paz e vem à guerra, o
calor, o frio e o calafrio debaixo das cobertas.
Mundo desregrado emporcalhando o Universo
que já não faz mais versos e a musa é desbocada: nada de pantanais, trigais e
rios cantando nos leitos... Ai, que saudade das tranças esmeradas das crianças!
Do areal beira rio e das borboletas coloridas esvoaçantes no ar; dos vestidos
das bonecas feitos de chita com laços e dos circos que foram embora levando
consigo os palhaços. Ai, meu coração implora, que tudo retorne agora antes que
o mundo acabe e que volte, a cada ano, todo encanto de outrora. Mas neste mundo
já não cabe amizade sincera, nem a cigarra vadia, nem mesmo a gargalhada de
ontem e nem a pipoca da praça que a Adelaide fazia, o tempo passou a borracha.
O mundo virou do
avesso, muito esperto e muito tenso, se vai da casa ao cinema pode ser
esfaqueado, se a roupa está manchada é alvo de zombaria, se lhe falta à
dentadura fique calado num canto para não haver alarido, hoje chamado chacota.
Tudo mudou de repente: todas as nossas crenças, palavreados, roupas e comidas;
valsas não valsadas; dançar a dois é cafonice; vestido só é bonito se mostrar a
coxa ou com decote no umbigo. Sei lá o que será da humanidade com tais
explícitos atavios! Dança de Santo Guido, pulando numa perna só, trazendo com a
brasa a fogueira da sensualidade sem dó!
A própria Igreja se
cansa de rezar pra todos os santos com fito de abençoar este povo brasileiro transmitindo
a cada missa seus conselhos de salvação. E o povo encolhe as orelhas ou vira a
cabeça pra trás, não permitindo aos ouvidos conselhos de Amor e Paz.
Já é janeiro, amanhã é
fevereiro, posto que o tempo corre assim: não espera na estrada e nem ônibus de
parada faz parar. Enovela o janeiro ao fevereiro, que já está batendo na porta,
porque a vida não espera!... Culpa nossa, culpa nossa!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário