O VESTIDO SUNGADO
NeumarMonteiro
O mundo infelizmente já
não comporta a civilidade, pessoas gritam na praça que é um lugar público, nos
bares e em tantos outros lugares inadequados para gritos querendo chamar
atenção para si; quer aparecer mais de que todos se achando o máximo; no mais
das vezes com palavras inadequadas para o ambiente em que está. Antigamente, os
colégios não só ensinavam as matérias do currículo como também: -“Moral e
Cívica” - que tratava não só da civilidade urbana como as demais maneiras de
comportamento no trato social: modo de se vestir, de sentar, de proceder e de
conversar mais pausado sem demais alvoroços. Contudo, os alunos queriam brincar
de pique, jogar bola ou arrastar os amigos lançando mão de uma corda que puxava
os companheiros pelo tronco num laço de cowboy. Incômodos aconteciam: como
quebrar um braço no querer desatar, da corda, o nó que prendia o amigo; muitas
pernas quebradas ao cair de joelhos; dentes fraturados e uniformes rasgados,
coisas de crianças que fragmentavam a amizade e o amor ao próximo. Não sabemos
se existe ainda a disciplina supracitada.
Com o passar do tempo houve uma
modificação no trato social, nem tanto
quanto merecemos, nem mais do que esperávamos, algo como uma guerra fria que
pode repentinamente tornar-se um faroeste sem armas e gatilhos, porém, substituídos por pedradas, porretes e bolas de
fogo - Taca fogo no vizinho, quebra à cara do inimigo, como um lobo enraivecido
querendo matar a presa; merecemos isso!... Pelo holocausto do ensino, pelo
desamor desaforado, pelo retrocesso humano, pela inveja dorida, pela fala
venenosa como uma língua de cobra peçonhenta. E assim chegamos, neste futuro pendurado
no espaço com nossos fracassos, desilusões, choros ou comédias - quaisquer
coisas dessas.
Outro dia, vários garotos
uniformizados gritavam pelas ruas atrás de uma pobre mulher por causa do seu vestido
sungado na parte traseira. Coitada daquela senhora! Velhinha, já quase sem
cabelo e arrastando uma vetusta sandália de borracha que persistia em levá-la
até o seu itinerário; e não alcançando o intento, desolada, deixou-a na beira
da ponte e seguiu o seu destino com o pé no chão. A corriola de estudantes
gritava: saia sungada no fiofó!!! Lá foi a velhinha e ninguém salvou sua
dignidade, pelo contrário deram risadas. Vida triste! Mundo sem valor e sem
misericórdia!...
Não sei o que vai acontecer ainda
nesta terra soberba que só pensa em dinheiro, malquerença, tirar um sarro e
chatear os pobres e oprimidos. Não buscam um terço de reza, nem cantoria em
terceto para aliviar a alma... Só pensam nas maldades que se espalham pelos
caminhos; no luxo e no concurso do dinheiro que compram as armas, mas não
compram o pão; não se preocupam com a desilusão dos pobres andarilhos que andam
no fio da corda bamba e não encontram outro espaço para puxar o laço da
fraternidade. Olha o sungado da velhinha! Olha o sungado dela!... Assim
gritavam, em altos brados, atrás da pobre velhinha, que não sabia de nada e com
a cabeça branquinha: Ai, que dor no coração! Ai, decepção da humanidade! Ai, de
mim mesmo.
Minha avó assim dizia: - Este mundo
vai piorar com a modernidade! Filho matando a mãe e pai traçando a cachaça... Ficou
louco este mundo, amalucado de vez em forno dos
condenados, que só visam a ganância e a vastidão dos pecados!