sexta-feira, 19 de abril de 2013

O NORTE FLUMINENSE - 04-2013



                                     O VESTIDO SUNGADO
                                              NeumarMonteiro  
                                                                                 
                O mundo infelizmente já não comporta a civilidade, pessoas gritam na praça que é um lugar público, nos bares e em tantos outros lugares inadequados para gritos querendo chamar atenção para si; quer aparecer mais de que todos se achando o máximo; no mais das vezes com palavras inadequadas para o ambiente em que está. Antigamente, os colégios não só ensinavam as matérias do currículo como também: -“Moral e Cívica” - que tratava não só da civilidade urbana como as demais maneiras de comportamento no trato social: modo de se vestir, de sentar, de proceder e de conversar mais pausado sem demais alvoroços. Contudo, os alunos queriam brincar de pique, jogar bola ou arrastar os amigos lançando mão de uma corda que puxava os companheiros pelo tronco num laço de cowboy. Incômodos aconteciam: como quebrar um braço no querer desatar, da corda, o nó que prendia o amigo; muitas pernas quebradas ao cair de joelhos; dentes fraturados e uniformes rasgados, coisas de crianças que fragmentavam a amizade e o amor ao próximo. Não sabemos se existe ainda a disciplina supracitada.
                Com o passar do tempo houve uma modificação no trato social, nem  tanto quanto merecemos, nem mais do que esperávamos, algo como uma guerra fria que pode repentinamente tornar-se um faroeste sem armas e gatilhos, porém,  substituídos por pedradas, porretes e bolas de fogo - Taca fogo no vizinho, quebra à cara do inimigo, como um lobo enraivecido querendo matar a presa; merecemos isso!... Pelo holocausto do ensino, pelo desamor desaforado, pelo retrocesso humano, pela inveja dorida, pela fala venenosa como uma língua de cobra peçonhenta. E assim chegamos, neste futuro pendurado no espaço com nossos fracassos, desilusões, choros ou comédias - quaisquer coisas dessas.
               Outro dia, vários garotos uniformizados gritavam pelas ruas atrás de uma pobre mulher por causa do seu vestido sungado na parte traseira. Coitada daquela senhora! Velhinha, já quase sem cabelo e arrastando uma vetusta sandália de borracha que persistia em levá-la até o seu itinerário; e não alcançando o intento, desolada, deixou-a na beira da ponte e seguiu o seu destino com o pé no chão. A corriola de estudantes gritava: saia sungada no fiofó!!! Lá foi a velhinha e ninguém salvou sua dignidade, pelo contrário deram risadas. Vida triste! Mundo sem valor e sem misericórdia!...
             Não sei o que vai acontecer ainda nesta terra soberba que só pensa em dinheiro, malquerença, tirar um sarro e chatear os pobres e oprimidos. Não buscam um terço de reza, nem cantoria em terceto para aliviar a alma... Só pensam nas maldades que se espalham pelos caminhos; no luxo e no concurso do dinheiro que compram as armas, mas não compram o pão; não se preocupam com a desilusão dos pobres andarilhos que andam no fio da corda bamba e não encontram outro espaço para puxar o laço da fraternidade. Olha o sungado da velhinha! Olha o sungado dela!... Assim gritavam, em altos brados, atrás da pobre velhinha, que não sabia de nada e com a cabeça branquinha: Ai, que dor no coração! Ai, decepção da humanidade! Ai, de mim mesmo.
           Minha avó assim dizia: - Este mundo vai piorar com a modernidade! Filho matando a mãe e pai traçando a cachaça... Ficou louco este mundo, amalucado de vez em forno dos condenados, que só visam a ganância e a vastidão dos pecados!

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