UM NATAL COMO ANTES
Neumar Monteiro
Bons tempos
aqueles de um Natal verdadeiramente cristão! Da simples manjedoura, abrigando
um Jesus pequenino, cuja mensagem tinha um significado enorme capaz de
incendiar os corações nos mais diversos matizes do amor. Quando ainda não havia
o estardalhaço dos presentes suntuosos nem lojas apregoando, ininterruptamente,
os seus produtos natalinos. Também não existia competição entre as crianças, já
que todas se contentavam com os carrinhos de madeira e bonecas de pano ou de
plástico. Até isso significava união, quando somente um ou outro ganhava
bicicleta ou boneca de louça: não despertava ambição nem causava comoção à
brincadeira do pobre com o rico; era outra maneira de sentir o Natal, uma emotividade
que inundava o peito e transbordava no olhar.
A árvore de
Natal, tão humilde, feita de galhos de goiaba e enfeitada com papel crepom e
laços de fita, para aguardar o 25 de dezembro. A rabanada caseira aromatizando
a casa toda; a castanha assando na brasa, macarronada coberta com queijo
parmesão e a carne, iguaria rara, curtida e dourada na banha Saúde. Que
felicidade nos trazia a data! O presépio arrumado em praça pública para o
cortejo do povo que levava presentes para o Natal dos pobres. A comunidade
vibrava com os preparativos da Missa do Galo. Um tempo inesquecível!
Que saudade
da troca de cartões de Boas Festas; da igreja, com a fachada brilhando,
enfeitada com luzes coloridas; do sinal-da-cruz traçado na testa quando se
passava em frente da casa de Deus; dos sucos de frutas coados no antigo coador
da vovó; da torta de abacaxi que a dona Maria Seródio presenteava os amigos por
ocasião dos festejos. Quantos anos transcorridos... Parece que foi ontem. Um
verdadeiro sentido do sentir, um elevado senso de fraternidade e um
transbordamento de carinho cristão.
O que
aconteceu com o nosso Natal? Onde se escondeu a emoção, o compartilhamento, a
gratidão e a crença? Hoje ninguém quer, não se tem tempo, não se precisa da fé
no coração árido da modernidade. Não há mais o arrebatamento para a singela
gruta de Belém, tampouco para um menino Jesus que nasce – retrato atualizado da
pobreza espiritual e do descaso humano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário