sexta-feira, 26 de julho de 2013

O NORTE FLUMINENSE - 12-2007



UM NATAL COMO ANTES                 
                                                                                      Neumar Monteiro

                                   Bons tempos aqueles de um Natal verdadeiramente cristão! Da simples manjedoura, abrigando um Jesus pequenino, cuja mensagem tinha um significado enorme capaz de incendiar os corações nos mais diversos matizes do amor. Quando ainda não havia o estardalhaço dos presentes suntuosos nem lojas apregoando, ininterruptamente, os seus produtos natalinos. Também não existia competição entre as crianças, já que todas se contentavam com os carrinhos de madeira e bonecas de pano ou de plástico. Até isso significava união, quando somente um ou outro ganhava bicicleta ou boneca de louça: não despertava ambição nem causava comoção à brincadeira do pobre com o rico; era outra maneira de sentir o Natal, uma emotividade que inundava o peito e transbordava no olhar.
                                   A árvore de Natal, tão humilde, feita de galhos de goiaba e enfeitada com papel crepom e laços de fita, para aguardar o 25 de dezembro. A rabanada caseira aromatizando a casa toda; a castanha assando na brasa, macarronada coberta com queijo parmesão e a carne, iguaria rara, curtida e dourada na banha Saúde. Que felicidade nos trazia a data! O presépio arrumado em praça pública para o cortejo do povo que levava presentes para o Natal dos pobres. A comunidade vibrava com os preparativos da Missa do Galo. Um tempo inesquecível!
                                   Que saudade da troca de cartões de Boas Festas; da igreja, com a fachada brilhando, enfeitada com luzes coloridas; do sinal-da-cruz traçado na testa quando se passava em frente da casa de Deus; dos sucos de frutas coados no antigo coador da vovó; da torta de abacaxi que a dona Maria Seródio presenteava os amigos por ocasião dos festejos. Quantos anos transcorridos... Parece que foi ontem. Um verdadeiro sentido do sentir, um elevado senso de fraternidade e um transbordamento de carinho cristão.
                                   O que aconteceu com o nosso Natal? Onde se escondeu a emoção, o compartilhamento, a gratidão e a crença? Hoje ninguém quer, não se tem tempo, não se precisa da fé no coração árido da modernidade. Não há mais o arrebatamento para a singela gruta de Belém, tampouco para um menino Jesus que nasce – retrato atualizado da pobreza espiritual e do descaso humano.

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