ATÉ AMANHÃ SE DEUS
QUISER
Neumar Monteiro
Passou o
carnaval deixando saudades. Talvez pelos dias de folga que passamos com a
família, fato este, é bom que se diga, que o trabalho diário não nos
proporciona. A lembrança de outros carnavais ficou gravada: um tempo de
descontração cantando as velhas marchinhas do reinado de Momo. O engraçado é
que as marchas de outros tempos enfocavam a política, as corrupções na área
social e os desmandos efetuados pelos governantes, conseguindo induzir o povo a
lutar pelos seus direitos e também reivindicar o lugar absoluto que exerce na
democracia.
Hoje tudo
mudou. Os enredos são extravagantes e, às vezes, importados, contando vivências
de culturas e tradições outras. Nada como antes, tudo moderno neste tempo de
agora: “A Maria Tá” é caso da Vara de Família na investigação de paternidade;
“O Boi da Cara Preta” virou crime de
racismo e “A Jardineira”, de
Benedito Lacerda, ficou tão triste como a Camélia que caiu do galho acabando na
polícia com o advento da Lei Maria da Penha; ”Cabeleira do
Zezé”, de João Roberto Kelly, é passível de punição denominada
homofobia, conhecida, também, como aversão a homossexuais. Se correr o bicho
pega... Se ficar o bicho come!
Outros
tempos. Só que agora sem a ternura de antes. Tudo se transformou numa “Turma do
Funil”, com a exagerada ingestão de álcool a zombar da inspiração do Braguinha;
“Bota a Camisinha”, do saudoso Chacrinha, hoje é regra geral com o chegada da
AIDS; “Marcha da Cueca”, que virou pano
de prato, de Carlos Mendes, anda esquecida no
vestuário masculino já que, pouco a pouco, vem sendo abolida; “Maria
Sapatão”, do Chacrinha, está muito em moda tendo em vista a liberdade da escolha sexual; “O Teu Cabelo
Não Nega”, de Lamartine Babo, perdeu a
validade desde a invenção do henê e da escova progressiva; “Me dá um Dinheiro
Aí”, de Ivan Ferreira, Homero e Glauco Ferreira, já faz parte da área Federal de benefícios
ardilosos do INSS; “Pierrô Apaixonado”, de Noel Rosa, divorciou da Colombina;
“Chiquita Bacana”, de Braguinha, e “Linda Morena”, de Lamartine Babo, viraram
passistas de Escola de Samba ou apresentadoras de TV.
Assim sendo,
temos que seguir “Na Onda do Berimbau”, de Osvaldo Nunes, acompanhando o
“Cordão dos Puxa-Sacos”, do Roberto Martins; usando, como disfarce, uma
“Máscara Negra”, do Zé Keti e Pereira Mattos, tomando uma “Cachaça”, sem pensar
que ela é água, do Mirabeau Pinheiro, Lúcio Castro e Heber Lobato, até a
“Aurora”, que não era nada sincera, de Mario Lago, “Sassaricando” com Oldemar
Magalhães, despedindo do Carnaval com “Até Amanhã”, de Noel Rosa, pois “Está
Chegando a Hora”, de Rubens Campos, que ninguém é de ferro.