domingo, 13 de outubro de 2013

O NORTE FLUMINENSE - 02-2008


                                    
ATÉ AMANHÃ SE DEUS QUISER
                                                                                                  Neumar Monteiro
                     Passou o carnaval deixando saudades. Talvez pelos dias de folga que passamos com a família, fato este, é bom que se diga, que o trabalho diário não nos proporciona. A lembrança de outros carnavais ficou gravada: um tempo de descontração cantando as velhas marchinhas do reinado de Momo. O engraçado é que as marchas de outros tempos enfocavam a política, as corrupções na área social e os desmandos efetuados pelos governantes, conseguindo induzir o povo a lutar pelos seus direitos e também reivindicar o lugar absoluto que exerce na democracia.
                                   Hoje tudo mudou. Os enredos são extravagantes e, às vezes, importados, contando vivências de culturas e tradições outras. Nada como antes, tudo moderno neste tempo de agora: “A Maria Tá” é caso da Vara de Família na investigação de paternidade; “O Boi da Cara Preta” virou    crime  de  racismo  e “A Jardineira”, de Benedito Lacerda, ficou tão triste como a Camélia que caiu do galho acabando na polícia com o advento da Lei Maria da Penha; ”Cabeleira  do  Zezé”, de João Roberto Kelly, é passível de punição denominada homofobia, conhecida, também, como aversão a homossexuais. Se correr o bicho pega... Se ficar o bicho come!
                                   Outros tempos. Só que agora sem a ternura de antes. Tudo se transformou numa “Turma do Funil”, com a exagerada ingestão de álcool a zombar da inspiração do Braguinha; “Bota a Camisinha”, do saudoso Chacrinha, hoje é regra geral com o chegada da AIDS;  “Marcha da Cueca”, que virou pano de prato, de Carlos Mendes, anda esquecida no  vestuário masculino já que, pouco a pouco, vem sendo abolida; “Maria Sapatão”, do Chacrinha, está muito em moda tendo em vista a  liberdade da escolha sexual; “O Teu Cabelo Não Nega”, de Lamartine Babo, perdeu  a validade desde a invenção do henê e da escova progressiva; “Me dá um Dinheiro Aí”, de Ivan Ferreira, Homero e Glauco Ferreira,  já faz parte da área Federal de benefícios ardilosos do INSS; “Pierrô Apaixonado”, de Noel Rosa, divorciou da Colombina; “Chiquita Bacana”, de Braguinha, e “Linda Morena”, de Lamartine Babo, viraram passistas de Escola de Samba ou apresentadoras de TV.
                                   Assim sendo, temos que seguir “Na Onda do Berimbau”, de Osvaldo Nunes, acompanhando o “Cordão dos Puxa-Sacos”, do Roberto Martins; usando, como disfarce, uma “Máscara Negra”, do Zé Keti e Pereira Mattos, tomando uma “Cachaça”, sem pensar que ela é água, do Mirabeau Pinheiro, Lúcio Castro e Heber Lobato, até a “Aurora”, que não era nada sincera, de Mario Lago, “Sassaricando” com Oldemar Magalhães, despedindo do Carnaval com “Até Amanhã”, de Noel Rosa, pois “Está Chegando a Hora”, de Rubens Campos, que ninguém é de ferro.
 
 
 

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