ÁGUAS PASSADAS JÁ PASSARAM
Neumar
Monteiro
Está difícil acompanhar um mundo em
constante ebulição: o que hoje é moderno amanhã é obsoleto; o que é profano
torna-se sagrado; belo num dia, feio no outro... Uma transformação constante e
vertiginosa como um barco à deriva em mar turbulento. È complicado vivenciar
tantas mudanças, quando ainda os olhos estão presos no passado. È preciso ser
ousado quando se é tímido, destemido quando se é medroso. Como ultrapassar as
barreiras dos nossos limites?
A
saudade de outras épocas evoca lembranças dos Festivais de Música e dos Bailes
de Debutantes. Um tempo em que o Copacabana Palace abria suas portas para
receber a “fina flor” da sociedade carioca. Hoje sobrevive sem o glamour de antes
e já ultrapassado na arquitetura, mas nos seus salões ainda ecoam as vozes dos
famosos e permanece, etéreo, o aroma do perfume francês.
De
maneira similar, pretensiosamente falando, também o nosso Aero Clube conheceu
seus dias de glória. Orquestras famosas valsaram nossos bailes e cantores
brilhantes soltaram seus tenores. Hoje está decrépito e maltratado, escorrendo suas
lágrimas de limo sobre a pintura desbotada. Foi o mundo que mudou. Vez do funk,
disputas, tiroteios, pais assassinando seus filhos. Não se pode olhar para trás
senão dança na disputa política, no concurso público, na entrevista da
empresa... Realmente, os que pensam no ontem estão fora de moda de época e do restante
- uma nau encalhada que incomoda a modernidade.
Mais
é bom lembrar o Isaac Rosa rodopiando elegantemente pelo salão; Salim Tannus,
em aplausos, incentivando a orquestra; Cabo Lola correndo as mesas e declamando
poesias; Temildo trajando, impecável, um
terno preto; Elias Challoub dançando um
bolero com a dona Denair; Athos Fernandes com a Cecy; Elson Mathias
acompanhando sua família; Marcelo Ferraz sempre disputado pelas garotas;
Antonio Silvestre o melhor dançarino do salão; Ricardo Medina convocado para cantar
uma música com a orquestra. São nomes que marcaram um tempo que o contratempo
da vida achou de subtrair.
Está
difícil acompanhar o mundo. Principalmente porque antigos valores saíram perdendo
frente aos novos conceitos éticos, morais e intelectuais. Quase não existe o
certo ou errado, ganha quem corre na frente e que não mede esforços para conseguir
o objetivo, seja qual for o preço. Sendo assim, podemos dizer sem esperança e
sem medo de errar: “águas passadas, já passaram”.
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