sábado, 1 de fevereiro de 2014

PUBLICAÇÃO DE 05- 2008



CONVERSA MOLE PRA BOI DORMIR -  05/2008                                           
                                                                     Neumar Monteiro

                                   A Bom Jesus de outros tempos lembra-nos páginas pitorescas que não podemos esquecer, brincadeiras usadas habitualmente que se tornavam corriqueiras e interessantes no linguajar cotidiano. Assim era que íamos acoplando os títulos, funções ou cargos que as pessoas exerciam ao nome próprio, mais ou menos desse jeito: Monsenhor Padre Francisco, Capitão Tenente Décio, Cabo Soldado Josias, Professor Doutor Chiquinho, ou outras como Teco da Padaria, Emir da Força e Luz, Ivo do SAPS, Bilu Auto Peças, Anselmo do Hospital, Jair do Laboratório, Floriano da Cerâmica e demais sobreposições que nos falha a memória.
                                   Era a época do Q-Suco, Grapette, Violeta Genciana para    curar os machucados, pomada Minâncora para as espinhas, secador de cabelos com touca, bilboquê, toca discos Sonata, queimada, música de Bat Masterson; Toppo Giggio, japona, anágua, Simca Chambord, Aero Willys, Vemaguete; sapato Vulcabrás 752, Alpargatas Roda e da confortável Conga. Também um sucesso o Repórter Esso e o Ronnie Von cantando “Meu Bem”; cera Parquetina, bomba de flit e carrinho de rolimã. Os filmes no Cine Monte Líbano eram, invariavelmente, nacionais ou com Jonhnny Weissmuller interpretando um Tarzan cheio de charme e, também, os do famoso mocinho do faroeste Roy Rogers; no colégio os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico e a bebida das festas era o Cuba Libre. Quem não se lembra do Ted Boy Marino? E dos tamancos de madeira do Afonso Maia? E do comediante Fernando Alegria?
                                   Os dias de chuva nos trazem a nostalgia da outra Bom Jesus, quando as estações do ano eram definidas e os frutos vingavam na época certa. Hoje, revendo velhas fotografias, observamos o quanto de devastação aconteceu na natureza. Antigas chácaras, rodeadas de árvores frutíferas, foram transformadas em ruas, nuas e frias, sem o aconchego do verde. Simplesmente depredaram a natureza sem pensar na agressão ecológica, razão desse calor sufocante que nos acomete no dia a dia. Não só os costumes se modificaram ou a maneira de viver, foram mudanças substanciais na alma do povo que nos impedem de sorrir o bom riso bonjesuense. Uma pena.
                                   Por tudo, lembramos com saudade dos velhos tempos inclusive do frio que fazia na Festa de Agosto; das festas juninas no Ordem e Progresso; dos bailes das férias de julho com o “Juquinha e seu Conjunto” e o futurista “Paulinho e o Som 2001”; das domingueiras no Aero Clube ao som do Long play dos “Velhinhos Transviados”; das animadas danças no restaurante do Capitão e também na residência do Ormindo Cotts. De resto é só mergulhar na saudade, porque tudo o mais é somente “prosopopéia flácida para acalentar bovinos”, ou seja, “conversa mole pra boi dormir”, conforme um ditado popular muito usado na época.   

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