CONVERSA MOLE PRA BOI
DORMIR - 05/2008
Neumar
Monteiro
A Bom Jesus de outros tempos lembra-nos páginas pitorescas que não
podemos esquecer, brincadeiras usadas habitualmente que se tornavam
corriqueiras e interessantes no linguajar cotidiano. Assim era que íamos
acoplando os títulos, funções ou cargos que as pessoas exerciam ao nome
próprio, mais ou menos desse jeito: Monsenhor Padre Francisco, Capitão Tenente
Décio, Cabo Soldado Josias, Professor Doutor Chiquinho, ou outras como Teco da
Padaria, Emir da Força e Luz, Ivo do SAPS, Bilu Auto Peças, Anselmo do Hospital,
Jair do Laboratório, Floriano da Cerâmica e demais sobreposições que nos falha
a memória.
Era a época
do Q-Suco, Grapette, Violeta Genciana para curar os machucados, pomada Minâncora para
as espinhas, secador de cabelos com touca, bilboquê, toca discos Sonata, queimada,
música de Bat Masterson; Toppo Giggio, japona, anágua, Simca Chambord, Aero
Willys, Vemaguete; sapato Vulcabrás 752, Alpargatas Roda e da confortável
Conga. Também um sucesso o Repórter Esso e o Ronnie Von cantando “Meu Bem”;
cera Parquetina, bomba de flit e carrinho de rolimã. Os filmes no Cine Monte
Líbano eram, invariavelmente, nacionais ou com Jonhnny Weissmuller
interpretando um Tarzan cheio de charme e, também, os do famoso mocinho do
faroeste Roy Rogers; no colégio os graus eram: primário, admissão, ginásio e
científico e a bebida das festas era o Cuba Libre. Quem não se lembra do Ted
Boy Marino? E dos tamancos de madeira do Afonso Maia? E do comediante Fernando
Alegria?
Os dias de
chuva nos trazem a nostalgia da outra Bom Jesus, quando as estações do ano eram
definidas e os frutos vingavam na época certa. Hoje, revendo velhas
fotografias, observamos o quanto de devastação aconteceu na natureza. Antigas
chácaras, rodeadas de árvores frutíferas, foram transformadas em ruas, nuas e
frias, sem o aconchego do verde. Simplesmente depredaram a natureza sem pensar
na agressão ecológica, razão desse calor sufocante que nos acomete no dia a
dia. Não só os costumes se modificaram ou a maneira de viver, foram mudanças
substanciais na alma do povo que nos impedem de sorrir o bom riso bonjesuense.
Uma pena.
Por tudo, lembramos
com saudade dos velhos tempos inclusive do frio que fazia na Festa de Agosto; das
festas juninas no Ordem e Progresso; dos bailes das férias de julho com o “Juquinha
e seu Conjunto” e o futurista “Paulinho e o Som 2001”; das domingueiras no Aero
Clube ao som do Long play dos “Velhinhos Transviados”; das animadas danças no
restaurante do Capitão e também na residência do Ormindo Cotts. De resto é só
mergulhar na saudade, porque tudo o mais é somente “prosopopéia flácida para
acalentar bovinos”, ou seja, “conversa mole pra boi dormir”, conforme um ditado
popular muito usado na época.
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