REMINISCÊNCIAS
Neumar M.
Silveira
Era
um pobre palhaço de chita desbotada.
Hoje
é um punhado de espuma apodrecida!
Vivia
calado e eternamente acabrunhado
num
canto qualquer de um guarda-roupa, guardado.
Por
que vivias assim, palhaço meu?
Bem
sei que eras em tudo diferente
dos
outros palhaços do mundo !
Pedaços
feitos de espuma da ilusão !
Pedaços
feitos de sonho, sem coração.
Trocastes
os dias da glória e de esplendor
de
um palhaço de verdade,
para
ser o amigo fiel e vigilante,
mudo
expectador de minha vida cotidiana.
Preferiste
às glorias de um pedestal
a
imortalidade de uma vida triste e descolorida,
a
ficar eternamente a criatura preferida !
Quantas vezes escutaste o meu choro,
ouviste
os meus lamentos?
Quantas
vezes em noites mais felizes
escutaste
as serenatas mais bonitas
e
velaste o meu sono de criança?
Quantas
vezes, palhaço meu, quantas vezes?
Quantos
sonos vigiaste !
Ah
! Quantas noites insones, vendo a infância,
a
adolescência, a vida !
E
agora, palhaço meu, responda-me:
Quem
me guiará pelos caminhos
tortuosos
da vida?
Silêncio
! Ninguém respondeu.
O
palhaço morreu