sábado, 18 de outubro de 2014

LIVRO "POEMA DO AMOR ETERNO" - 1978



REMINISCÊNCIAS
    Neumar M. Silveira

Era um pobre palhaço de chita desbotada.
Hoje é um punhado de espuma apodrecida!

Vivia calado e eternamente acabrunhado
num canto qualquer de um guarda-roupa, guardado.
Por que vivias assim, palhaço meu?
Bem sei que eras em tudo diferente
dos outros palhaços do mundo  !
Pedaços feitos de espuma da ilusão !
Pedaços feitos de sonho, sem coração.
Trocastes os dias da glória e de esplendor
de um palhaço de verdade,
para ser o amigo fiel e vigilante,
mudo expectador de minha vida cotidiana.
Preferiste às glorias de um pedestal
a imortalidade de uma vida triste e descolorida,
a ficar eternamente a criatura preferida !

Quantas  vezes escutaste o meu choro,
ouviste os meus lamentos?
Quantas vezes em noites mais felizes
escutaste as serenatas mais bonitas
e velaste o meu sono de criança?
Quantas vezes, palhaço meu, quantas vezes?
Quantos sonos vigiaste !
Ah ! Quantas noites insones, vendo a infância,
a adolescência, a vida !
E agora, palhaço meu, responda-me:
Quem me guiará pelos caminhos
tortuosos da vida?

Silêncio !  Ninguém respondeu.
O palhaço morreu

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