segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A LÁGRIMA - DEVBANEIOS 2003



A LÁGRIMA
Neumar Monteiro

Na primavera dos meus sonhos mais belos
encontrei-=me, um dia, com uma lágrima
e perguntei-lhe enraivecida:

Por que me persegues? Que queres de mim?:
Vai-te embora daqui, que não preciso de ti!
Volta ao lugar de onde vens, pois nesta terra
és temida e odiada por todos.
Esqueça a humanidade!
Quero desta vida somente as alegrias e os risos,
Deixa-me, portanto, em paz!

E a lágrima, sentida, respondeu-me:
“deslizei dos olhos de Cristo, no Calvário,
quando Ele, expirando na cruz, pediu ao Pai
a redenção dos homens.
SOU REDENTORA!

Morei nos olhos de Maria, quando ela
chorou pelo seu Santo filho.
SOU SANTA!

Beijei a face de Madalena,
no momento em que Ele a perdoou.
SOU SALVAÇÃO!

Vivo nos olhos felizes das mães
que recebem os filhos pródigos
que regressam ao lar.
SOU PERDÃO!

Morro a cada dia com a morte e
renasço a toda hora com a vida.
SOU RESSURREIÇÃO!

Sou lenitivo da saudade,
o primeiro vagido de quem nasce
e a derradeira emoção do amor.
Sou, também, a tristeza da partida
e a alegria do regresso.
Habito os casebres mais humildes,
misturada ao pó, e os castelos dos nobres,
entre faustos e riquezas e riquezas.
Estou e estarei sempre presente no homem,
desde Eva até o fim dos tempos!

Pobre Humanidade, que não entende
a nobreza do pranto!”

Calou-se, enfim, a lágrima sentida.
Calei-me também, comovida e grata.
A minh’alma, aprisionada no sepulcro
de atávicos  temores, revivesceu feliz
no pranto libertador e puro
que banhou meu rosto!

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