sábado, 3 de outubro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

DOIS PRÁ LÁ, DOIS PRA CÁ - STATUS   05 - 2006

                                                                                                   Neumar Monteiro

                                                                           (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

               Nem tanto tempo faz que o Aero Clube abria o seu salão para receber a sociedade bonjesuense, e a saudade já é uma constante no coração daqueles que apreciavam os concorridos bailes que ali aconteciam. Eram noites mágicas, a nos transportar para um mundo diferente, quando encantamento e felicidade se encontravam.

               Os vestidos, um para cada baile na Festa de Agosto, eram amplos, de organza ou cetim, acompanhados de sapatos forrados do mesmo tecido e de luvas do mesmo tom. As estolas de pele, para as meninas mais ricas, e, às vezes, golas de astracã para as mais pobres. Enfim, no rodopiar da valsa e do bolero todos se igualavam, já que da sociedade desfrutavam muitas famílias bonjesuenses, independente da conta bancária. Aos rapazes cabia um terno para cada noite. Belas recordações.

               Antes do baile, sempre havia um filme no Cine Monte Líbano; após, íamos à Leiteria, saudoso Cornélio, desfrutar de seus sorvetes maravilhosos.

               A Festa de Agosto era o orgulho da cidade. Naqueles três dias acontecia de tudo: desfiles escolares e de clubes de futebol, disputas do Olympico e Progresso, banda de música na praça, com o Vicentinho Torres, barraquinhas que desciam da praça passando pela Gráfica Gutenberg até à beira do rio, bolas coloridas que acenavam do alto, fugidas das mãos das crianças, algodão doce, Esquadrilha da Fumaça com suas divertidas evoluções, pára-quedistas, foguetes, estalos e estrelinhas. À noite, no palanque, o show dos “artistas de fora” e de músicos do acordeom, até da Virginia Lane, Cauby Peixoto e Adelaide Chioso, sempre registrados pela reportagem da ZYP 31 Rádio Cultura de Bom Jesus.

               Na verdade tudo convergia para o Aero, lugar de destaque para os acontecimentos mais importantes da vida da cidade, onde se anunciavam os noivados, principiavam ou terminavam namoros... Mais que tudo, encontravam-se, animadamente, a Velha e a Jovem Guarda. Era um repassar recíproco de emoções e aprendizagem. E a sociedade seguia ordeira e pacata, embalada pela boa música do Samuel Xavier, Juquinha “Sapateiro”, Lafayete e seu Conjunto, Rancho e outros.

               E os carnavais? Ninguém que os “pulou” no Aero Clube pode esquecê-los. Todos fantasiados, concursos diversos, blocos dos mais animados, Peru Encalorado, Uriçú, Pedrês e Barra Pesada, tudo regado com cuba-libre ou uísque com guaraná. De madrugada tinha o pão com lingüiça que se saboreava nas barraquinhas da beira do rio, e os homens bebiam Caracu com ovo, batido no liquidificador, no Bar do Jésus.

               Bons tempos aqueles! Melhor seria se melhores fossem os de agora. Mas não são. Pecamos pela perda da identidade com a conseqüente modernização. Afinal, modernizar de que jeito? Perdemos as referências sociais, ficamos órfãos do Aero Clube e do aconchego dos amigos. Trocamos a boa convivência pela TV, mudamos a sintonia da música e desafinamos no tom das conversas. Conversar com quem e para quê? Só se for para reviver os bons tempos. Infelizmente, recordar causa tristeza e magoa o coração.

 

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