quarta-feira, 30 de setembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

AGULHAS E DEDAIS    NF  07 - 2006

                        Neumar Monteiro

                                                   (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

Bom Jesus sempre foi terra de grandes costureiras e alfaiates. Daqui convergia todo o glamour que era copiado por diversas cidades vizinhas, notadamente nas décadas de 60 e 70.

Falando sobre “o mundo da moda bonjesuense” não podemos esquecer que os modelos, artisticamente confeccionados pelas costureiras, eram exibidos no Aero Clube quando aconteciam os bailes de formatura, Festa de Agosto e domingueiras. Um vestido idealizado e costurado pela Olga Cotts era um luxo e uma referência de bom gosto; a confecção da Terezinha do Canto despertava a admiração e o aplauso da sociedade; Olga Tardin arrancava suspiros daquelas que sonhavam em ter um vestido feito por ela e a Nazir Rosa executava os mais lindos trabalhos, dignos de figurar em qualquer revista de moda.

Tantas e tantas costureiras maravilhosas vestiram a sociedade. Qual a cidade que não teve as suas?  Como esquecê-las neste mundo atual em que se compra tudo em série, igual e tediosamente com o mesmo corte?  O importante dos tempos de ontem era a roupa alfinetada no corpo, com todo o carinho de quem a fazia. Uma apertadinha aqui e outra ali, e o vestido ia sendo moldado sem pressa nascendo dos alinhavos, precisos e afetuosos, das valorosas costureiras bonjesuenses. Era um toque de amor, conforme o nome do perfume da Avon, transformando a fazenda numa obra de arte como as esculturas de Camile Claudel, numa proximidade única e intransferível entre cliente e modista.

Tudo era diferente da massificação dos dias de agora. Muito mais do que encomendar um vestido havia a cumplicidade da feitura de um modelo que fosse diferente de todos os outros, para “abafar” nas festas e casamentos. Viver era assim: uma alfinetada de mestre para um acerto no amplo vestido modelo godê, plissado, melindrosa, pregueado, minissaia ou balonê, e um arremate de viés, veludo, renda ou cetim, para transformar em rainha a mocinha sem graça.

Os rapazes não ficavam de fora. Para acompanhar a moda, encomendavam ternos no Tijolo, Napoleão, Estevão, Juquita, Raposo, Acir Moreira, Lima, Branco e Moraes - O Az da Tesoura. Era uma corrida para a compra do Tropical Inglês, Linho 120 ou 129, Casimira Aurora e Lincoln, quando dos acontecimentos sociais, sem citar os outros tecidos usados na época, adquiridos na Casa Itaperuna do José Marreiro e, após, do Manoel Barroso; e A Social, do Dário Borges.

Muito mais do que acompanhar o tempo, a ida nas costureiras e alfaiates servia para trocar assuntos e saber das novidades. Também, para aproximar as famílias que, na maioria das vezes, costurava toda a roupa de seus componentes num mesmo profissional por anos a fio. Os profissionais da costura tornavam-se, assim, membros de uma confraria familiar que abrangia pais e filhos, sucessivamente.      

Surgia, com isso, uma amizade, envolvendo interesse e afinidades recíprocas, que se solidificava no labor frenético das agulhas e dedais. Muito importante viver naquela época! Tão mais útil para a sociedade do que o distanciamento humano dos dias modernos.    

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