segunda-feira, 12 de abril de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

PALAVRAS SÃO VERSOS  NF – 07 - 2012

                                                        Neumar Monteiro

                                                                        

                        

                           Palavras ferinas, palavras ladinas, palavras sem nexo... Palavras apenas, sinceras, pequenas, palavras são versos. Palavras que saem da boca, perfeitas. Palavras origem que vertem malfeitas distorcendo o rumo da história. Palavras ingratas em línguas alheias que tecem as teias malsãs das inglórias. Palavras, palavras... Quem há de esquecê-las? Quem há de não dizê-las todas? Quem há de trancá-las, quietas e ausentes, podendo dizê-las e   querendo expressá-las? Palavras não ditas, na boca, guardadas, são mágoas doídas lá dentro da gente.

                         Tantas palavras são ditas no dia a dia... Quantos comentários  tecemos com ódio na boca no fogo da maldade? O homem não consegue calar os seus devaneios distorcidos, a sua inveja vil e a vontade de sobressair-se, mesmo que pisando nos cacos de vidro espalhados no chão da estrada. Vence todos os empecilhos em busca da fama inglória ou malversada, mesmo   cortando caminhos ou vilipendiando a própria estrutura familiar. O homem sempre foi assim desde os primórdios da humanidade: traindo o que Deus lhe deu, Caim matando Abel ou um judeu errante da história de Gustave Doré e Pierre Dupont. As lendas nascem, desenvolvem-se e se aperfeiçoam como o segmento da própria vida ou a necessidade de aplicação. Assim como nascem às vezes definham-se, como sementes mortas num campo sem cuidados. Há que se trabalhar para plantar o bem, colhendo os frutos benfazejos que a terra proverá.

                        É certo que quem planta o amor também o recebe, muito das vezes acrescentado. É como se semeasse o bem dos primórdios da humanidade quando todos viviam em paz no Paraíso. Depois, veio o mal grassando os campos verdes e sãos com as sementes das discórdias e das maldades: Quem é arrogante é como o judeu errante num caminhar sem fim. Palavras são versos manifestos em nossa vida. É o plantio da semente boa e da colheita farta. O que adianta o glamour das tardes adormecidas se não me derem a vida?

                        Palavras ladinas que escorrem da boca, são como cloacas abertas ao léu; tantas maldades, malditas, que a lua, perdida, se esconde no céu. Onde os campos floridos e os trigais dourados? Onde o canto de paz que abranda o dia? Onde a corrida dos versos manifestos da alma? Onde a redondilha maior e a redondilha menor nas rimas poetas do bem e do mal? O tempo fechou a rima no armário para que não expor a beleza do verso, as coisas boas da vida, o sortilégio dos sonhos e a madressilva florida; o mundo cerrou o cenho para o belo da saudade, que traz maturidade à alma entristecida; já não conheço o versejar do poeta, nem a alma manifesta e nem os sons das rimas... Já não suporto a solidão do acaso, a poesia estrangulada e as flores mal pisadas pelos caminhos; não quero mais avessos nem sonetos sem sentidos... Quero versos sussurrando amor e sentimentos puros, onde a manhã busca a noite para o renascer da vida.

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