domingo, 18 de setembro de 2011

O NORTE FLUMINENSE 09 - 2011

É PRECISO RECORDAR
                                                 Neumar Monteiro
                                                                (neumarmonteiro.blogspot.com)                              

                                  Há que se recordar os carnavais, os madrigais e as ladainhas; há que se recordar das cantatas pelas madrugadas da vida. O tempo ali esperando a passagem dos dias... Ninguém se condoía dessa rapidez, que levava com avidez a nossa juventude. Não podemos olvidar as serenatas e os violões nas noites perfumadas por jasmins, alecrins e rosas multicores, nem se esquecer dos amores nas grades dos portões.
                                 Hoje é tudo diferente... Quem disse a esta gente que é cafona namorar no portão ou subir o vestido pelas coxas no passeio de mão? Algo tão leve, imberbe e inocente atormentava a cabeça adolescente. Nada de dar valor às coisas feias, como beijar, sorrir e sonhar; sonhos só para desocupados e pecadores sem recursos - tem que passar no Concurso! Tem que virar a noite lendo Rousseau, Montesquieu, Sócrates e Platão se queriam aprovação. Hoje nada mudou e o terror das provas ainda nos domina. Triste sina dos moços que não têm tempo para viver.
                             É preciso recordar, sem mais descaso, do candelabro, do perfume francês e da radiola no aparador de madeira. Do Phymatosan, do Óleo de Fígado de Bacalhau, Regulador Xavier, Aqua Velva, Capiverol, Melpoejo, Terebentina e Robusterina; do pudim aos domingos e das missas assistidas, sem gosto, porque os pais exigiam.
                          O tempo virou demais! Nem precisava de tanto. Hoje inverteu o ditado: a moça escolhe um fulano, o aluno não passa de ano, todos trabalham fora e os casais não se encontram. Amor pela Internet, pois cartas perderam o valor. Ninguém se olha no olho mirando a sinceridade. Para que preocupação com isso se é uma menina de manhã e outra mais tarde?
                        ‘Vou-me embora pra Pasárgada, pois lá sou amiga do Rei’ de coroa retorcida e calça jeans da Skank. Levo também no bolso o endereço da Globo, preciso virar bailarina no programa do Faustão; visitar Ana Maria no começo da manhã; bater papo com a Xuxa, vestida de menininha; ir  também no Silvio Santos para aparecer na TV; depois vou no ensaio da novela das oito  para aprender coisas chatas, como as mesmices das outras e, afinal, chegar em casa e descansar do volteio pois esta imbecilidade arruinou o meu passeio.
                       Vou-me embora para a China, no Brasil não dá mais nada: os rios estão poluídos, as estradas maltratadas, os monumentos históricos foram  dilacerados, até os santos da igreja foram dilapidados: roubaram a coroa do santo levando, também, o manto, em igrejas brasileiras. Quero voltar para o passado onde as coisas eram melhores: a bênção mamãe, a bênção papai! - Deus o abençoe, meu filho! E sentíamos abençoados.
                       Mas como deixar o Brasil, esta terra varonil e cheia de novidades que até casamento gay virou artigo de Lei? As roubalheiras políticas, os desfalques e os terroristas dos morros e das cidades? Como deixar o Brasil se aqui como farofa, verduras frescas da roça, palmito, canjiquinha e vatapá. Moro em rua pacata, danço um tango de graça e  bebo um guaraná; guaraná que nesta terra cresceu árvore frondosa que só no Brasil se há. Para que sair daqui se tudo que se planta dá?  Vou ficando nesta plaga que o passado foi embora enrolado no tergal, percal, banlon ou vestido de organdi com gola de tafetá...  Sabe lá!...          

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