sábado, 17 de março de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 02 - 2012

INTIMIDADE DEVASSADA
                                                                                          Neumar Monteiro

                        Nos anos sessenta passamos por momentos críticos da nossa juventude. Tudo era proibido, pecado ou deselegante e a vida cotidiana corria sob a vigilância severa dos pais. Até frequentar a casa de vizinhos era demoradamente considerado, talvez para não “enjoar os outros”- conforme se dizia então. Às vezes a turma do colégio planejava um piquenique ou um passeio de ônibus, mas nem sempre era permitida a saída sem levar um irmão mais velho... Que fazer?
                        Tudo transcorria no lar; e até revistas e jornais eram revisados sob a lupa consensual dos pais. Dias de saudade quando, afora a liberdade tolhida, havia o apego da família, os pães repartidos igualmente, as missas compartilhadas e o orgulho de sair de mãos dadas da igreja matriz. Juntos, também, comendo pipoca e assistindo os filmes do Tarzan, faroeste e as chanchadas com Oscarito, Ankito e Grande Otelo. É bom recordar. Tudo no ar respirava a tranquilidade da vida pacata, sem correria, sem alvoroço, mas com pouco dinheiro no bolso o que era só um detalhe.
                        Com a passagem dos anos aconteceu a rebeldia dos jovens, queimando faixas, drogas, cigarros, revoltados e impertinentes que não respeitavam os mais velhos nem a serenidade pública. Gritos de protestos nas ruas e mulheres quase nuas queimavam os sutiãs nas praças. Protestos e versos imersos em veneno que alardeavam a submissão da sociedade aos anseios da incivilidade; tempos de furor e devaneios mesclados de dores e prazeres. Lá se foram para sempre o calor comum de um lar, a mensagem de esperança, o cinema com o Oscarito e a Adelaide Chiozzo tocando no acordeom. Logo depois, houve a mudança abrupta na vida pacata. Agora era a vez de um general gritando suas ordens aos comandados que, enlouquecidos, queimaram casas, mataram pessoas e sumiram com outras.
                          Na verdade, tudo que aconteceu antes do que nós passamos, do que nós vivemos e o que sentíamos não chega às portas do que veio agora – neste exato espaço temporal do ano 2012 as pessoas espreitam umas as outras através da internet, bisbilhotando as vidas alheias e causando transtornos e separações familiares. Fazem contato assim: sem avisar, sorrateiramente como um animal pestilento arrastando-se pelas redes sociais a procura de uma desavença, uma fofoca, um término de casamento ou divulgando fantasias escandalosas. Bem do tempo, mal do tempo! Conforme falaria a minha avó.
                      Infelizmente tudo que acontece agora já foi previsto por videntes,  considerados por nós, no passado, como inconsequentes. Até os primeiros cristãos  já diziam em suas mensagens que no futuro passaríamos por grandes tribulações. Certamente não falavam só sobre o fim do mundo, mas pela distorção da verdade, da impunidade, da malquerença, da irmandade aviltada, disputas e outros crimes em geral. Um embornal cheio de invejas e maldades, como cobras rastreando os passos e espaços alheios.
                      As novidades deste tempo não cabem em uma só cabeça, nem se multiplicadas por cem. Há em cada dia uma coisa diferente: benquista, perversa, tirana; incerta, in loco, insana; difícil, fácil, amena; grande, pequena ou anormal... Neste tempo traiçoeiro em que grassam a inveja e o mal, o pecado bate, afinal, na porta de quem o acolhe. Felizmente a vida continua muito embora todos os acontecimentos, os de ontem e os de hoje. Sempre haverá a desesperança rondando os nossos passos, muito embora a certeza de que o futuro será melhor. Basta de medos ou arremedos!... O que tiver de ser enfrentado hoje ou amanhã, a nossa fé cuidará.             











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