quinta-feira, 29 de março de 2012

O NORTRE FLUMINENSE - 05-2007

ERA UMA  VEZ 
                                                             Neumar Monteiro 

Houve um tempo em que as moças rodavam a Praça Governador Portela pela esquerda e os rapazes em sentido contrário. Os namoros começavam no rodopio do principal logradouro da cidade, bem no coração do mais frequentado passeio público. Olhares febris de adolescentes antenados para o flerte; vibrantes anseios da escolha, mesclados aos calafrios da rejeição. Iam e viam, como uma dança simbólica de acasalamento ou, quem sabe, um ritual primitivo de sedução.
Tudo era simples quando a televisão ainda existia para poucos: um chamado para ir ao cinema que ficava logo ali, no Cine Monte Líbano, bastando um olhar mais atrevido e um discreto maneio de cabeça apontando para o objetivo. Ambos caminhavam, sorrateiramente, na direção indicada, onde assistiam uma “película estrelada” por James Dean ou Elvis Presley; Grande Otelo, Zé Trindade, Oscarito ou Mazzaropi. Daí em diante era um interlúdio lírico-dramático, como a ópera “Carmen” de Bizet.
Em derredor, sob o pau-ferro, os motoristas de praça: Olegário e Genuíno Verdan, José Pedro Rosa, Manoel Meia Noite, Chico Miséria, Zé Budega e tantos outros que além de chofer ainda levavam os bêbados para casa, geralmente de família conhecida e, na maioria das vezes, jovens vítimas da desilusão amorosa. Havia um companheirismo entre as famílias, quando cada um tomava conta do filho do outro, alertando os pais sobre as badernas incluindo as bebedeiras nas madrugadas.
O Cine Monte Líbano não inaugurou o cinema em Bom Jesus, posto que se tenha notícia do São Geraldo, Íris e Bom Jesus. Inegavelmente o Monte Líbano foi o mais importante, local de desfile da mais fina flor da sociedade bonjesuense trajando ternos, casacos de pele, sapatos de salto agulha e vestidos de veludo, lurex, xantungue e tafetá – vitrine do sucesso! Também, no balcão em frente à tela, apresentavam-se mágicos, como Oriete Bey e Ilka; show da orquestra Cassino de Sevilha, Jerry Adriani; exposições de quadros, óleo sobre tela, do Délio Porto e artistas da terra; grupos de balé, palestrantes, programas de calouros da rádio Bom Jesus, peças teatrais e formaturas de colégios. Era versátil e oportuno, considerado na época a maior sala de cinema do antigo Estado do Rio, contando com 750 lugares para acomodar as pessoas. Sem mencionar a parte de cima, o mezanino, que servia para ocultar os namoros mais avançados ou para fumar escondido do lanterninha (o terror dos namorados) um cigarro Liberty Ovais, Continental ou Astória.
Que tal se o cinema virasse uma sala de espetáculos? O lucro seria revertido para instituições assistenciais e órgãos públicos. Só assim a história seria resgatada e teria um final feliz.  




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