MÃE
SEMPRE
MÃE
Neumar Monteiro
Não adianta furtar-se daquela que lhe deu a
vida, mesmo que não a encontre, mesmo que foi de partida, será sempre a mãe que
buscamos na hora do desespero, dos apelos de amor, das noites mal dormidas,
sempre a lembrança implora a figura da mãe querida. Por nascermos dela herdamos
sonhos e guarida e, inadvertidamente, dizemos coisas já por ela proferidas.
Parece que fica com a gente o perfume da sua pele, o anseio de suas preces e a
alegria de ser mãe nos afazeres dos dias. Mãe encaminha os passos, mesmos
rotos, desbotados, que vacilam pela vida! Sempre ali a dar apoio: o caminhar da
criança, tecendo a sua trança ou cortando o seu cabelo; seu desvelo de mãe não
tem sossego – fruto da sua entranha, fruto do seu enlevo.
Em
suas carícias traz o vento da alegria: cheiro de alfazema, perfume de rosas
vermelhas, alecrim, bem-me-quer e ternura que se misturam num abraço de mulher.
Velando nas noites geladas que arrepiam a sua pele, embala o pequenino no
balanço do seu corpo. Dali não sai de perto enquanto não vem o sol, desvelo do
sonho menino ninado com o amor maternal.
Tantas
misérias na vida: mulheres catando cacos, trazendo o rosto enrugado ou chorando
em portas fechadas; vertendo lágrimas de sangue nas mãos espalmadas e pedintes...
E o sol de cada dia verte sobre as Marias a fome, a sede e a canseira. São
Marias brasileiras iguais às ricas donzelas que se cobrem de ouro e que
afivelam prazeres na barra de suas saias... Enquanto a vida ensaia o alvorecer
das favelas, onde outras Marias morrem doentes de fome. Ingratidão da vida ou
desespero sem nome?
Aquela
que é mãe, pobre, doente, alquebrada, sente sumir a ilusão que há tanto tempo
esperava. Já não ensaia os seus sonhos, já não se encanta com nada, já não
conversa fiada e nem aguenta a frustração. É sombra que se evapora é barco que
some no mar; é tina que não tem roupa nem louça para lavar; porém, bate a roupa
da comadre nas pedras do rio claro. Queria era cair na água deitada no leito
macio encontrando as ninfas das cachoeiras do rio, que cantam para Oxalá, que é
o Deus das alturas ou para Oxum, que é a deusa
dos rios, conforme crendice “Ioruba”(povo sudanês).
Tudo fica nesta vida; até mesmo as tradições que aprendemos em crianças
no alvorecer das ilusões. A mãe cuida da casa com interesse e amor, despojada
da riqueza enxagua a roupa que lava, passa a trouxa e faz biscoitos para
agradar a criançada; vai ao circo, quando aparece, bate palmas com alegria
lembrando-se do tempo criança quando, tristeza, não tinha. Agora já é passado,
que passa, sem graça, esquecido: o circo não tem mais risos, nem sequer mais atrativos...
A mulher virou tristonha, não aquela que havia quando ensaiava palmas e gritava
de alegria. O tempo é quase nada; o nada não tem sentido, o tempo passa
correndo, fugaz do tempo esquecido; a vida já indo embora, a mulher ferve a
água para afogar o arroz, o marido chega em casa com a cara emburrada, feia de
fazer medo!... Como se fosse o senhor do tempo, do riso e do espaço. A mulher
chora tristezas que escorrem lentamente, banhando a vida diária de outros
tantos desafetos. Sempre foi a culpada
de tudo
que acontece, até que deixa saudades quando a sua vida esmorece.
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