sábado, 12 de maio de 2012

O NORTE FLUMINENSE - 05-2012


                                      MÃE  SEMPRE  MÃE
                                                                                                                 Neumar Monteiro

            Não adianta furtar-se daquela que lhe deu a vida, mesmo que não a encontre, mesmo que foi de partida, será sempre a mãe que buscamos na hora do desespero, dos apelos de amor, das noites mal dormidas, sempre a lembrança implora a figura da mãe querida. Por nascermos dela herdamos sonhos e guarida e, inadvertidamente, dizemos coisas já por ela proferidas. Parece que fica com a gente o perfume da sua pele, o anseio de suas preces e a alegria de ser mãe nos afazeres dos dias. Mãe encaminha os passos, mesmos rotos, desbotados, que vacilam pela vida! Sempre ali a dar apoio: o caminhar da criança, tecendo a sua trança ou cortando o seu cabelo; seu desvelo de mãe não tem sossego – fruto da sua entranha, fruto do seu enlevo.
            Em suas carícias traz o vento da alegria: cheiro de alfazema, perfume de rosas vermelhas, alecrim, bem-me-quer e ternura que se misturam num abraço de mulher. Velando nas noites geladas que arrepiam a sua pele, embala o pequenino no balanço do seu corpo. Dali não sai de perto enquanto não vem o sol, desvelo do sonho menino ninado com o amor maternal.
            Tantas misérias na vida: mulheres catando cacos, trazendo o rosto enrugado ou chorando em portas fechadas; vertendo lágrimas de sangue nas mãos espalmadas e pedintes... E o sol de cada dia verte sobre as Marias a fome, a sede e a canseira. São Marias brasileiras iguais às ricas donzelas que se cobrem de ouro e que afivelam prazeres na barra de suas saias... Enquanto a vida ensaia o alvorecer das favelas, onde outras Marias morrem doentes de fome. Ingratidão da vida ou desespero sem nome?
            Aquela que é mãe, pobre, doente, alquebrada, sente sumir a ilusão que há tanto tempo esperava. Já não ensaia os seus sonhos, já não se encanta com nada, já não conversa fiada e nem aguenta a frustração. É sombra que se evapora é barco que some no mar; é tina que não tem roupa nem louça para lavar; porém, bate a roupa da comadre nas pedras do rio claro. Queria era cair na água deitada no leito macio encontrando as ninfas das cachoeiras do rio, que cantam para Oxalá, que é o Deus das alturas ou para Oxum, que é a deusa  dos rios, conforme crendice “Ioruba”(povo sudanês).
            Tudo fica nesta vida; até mesmo as tradições que aprendemos em crianças no alvorecer das ilusões. A mãe cuida da casa com interesse e amor, despojada da riqueza enxagua a roupa que lava, passa a trouxa e faz biscoitos para agradar a criançada; vai ao circo, quando aparece, bate palmas com alegria lembrando-se do tempo criança quando, tristeza, não tinha. Agora já é passado, que passa, sem graça, esquecido: o circo não tem mais risos, nem sequer mais atrativos... A mulher virou tristonha, não aquela que havia quando ensaiava palmas e gritava de alegria. O tempo é quase nada; o nada não tem sentido, o tempo passa correndo, fugaz do tempo esquecido; a vida já indo embora, a mulher ferve a água para afogar o arroz, o marido chega em casa com a cara emburrada, feia de fazer medo!... Como se fosse o senhor do tempo, do riso e do espaço. A mulher chora tristezas que escorrem lentamente, banhando a vida diária de outros tantos desafetos. Sempre foi a culpada de tudo que acontece, até que deixa saudades quando a sua vida esmorece.       

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