quarta-feira, 28 de maio de 2014

LIVRO "POEMA DO AMOR ETERNO" - 1978



A  LÁGRIMA
                           Neumar M. Silveira
(Ritus abundat in ore stultorum)


Na primavera dos meus  sonhos  mais belos
encontrei-me, um dia, com uma lágrima.
E perguntei-lhe enraivecida:

Por que me persegues?  Que queres de mim?
Vai-te embora daqui, que não preciso de ti !
Volta ao lugar de onde vens, pois nesta terra
és temida e odiada por todos.
Esquece a humanidade!
Quero desta vida somente as alegrias e os risos.
Deixa-me, portanto em paz !

E a lágrima, sentida, respondeu-me:
“Deslizei dos olhos de Cristo, no Calvário,
quando Ele, expirando na cruz, pediu ao Pai
a redenção dos homens”.
SOU REDENTORA!

Morei nos olhos de Maria, quando Ela
Chorou pelo se Santo Filho.
SOU SANTA!

Beijei a face de Madalena,
no momento em que Ele a perdoou.
SOU SALVAÇÃO !

Vivo nos olhos felizes das mães
que recebem os filhos pródigos
que regressam ao lar.
SOU PERDÃO !

Morro a cada dia com a morte e
renasço a toda hora com a vida.
SOU RESSURREIÇÃO !

 Sou o lenitivo da saudade,
o primeiro vagido de quem nasce
e a derradeira emoção do amor.
Sou, também, a tristeza da partida
e a alegria do regresso.
Habito os casebres mais humildes,
misturada ao pó, e os castelos dos nobres,
entre faustos e riquezas.
Estou e estarei sempre presente no homem,
desde Eva até o fim dos tempos !

“Pobre Humanidade, que não entende
a nobreza do pranto !”

Calou-se, enfim, a lágrima sentida.
Calei-me também, comovida e grata.
E minhalma, aprisionada no sepulcro
de atávicos temores, revivesceu feliz
no pranto libertador e puro
que banhou meu rosto !

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