FALA SÉRIO
Neumar
Monteiro
Existe
uma pergunta que não pode calar dentro de nós: como sobrevivemos sem a ducha
higiênica, celular, computador e TV a cabo? Quando trocamos o banho de bacia
pelos modernos chuveiros elétricos? Até na igreja o badalar do sino agora é
eletrônico. E os sineiros? Abandonaram o posto, foram esquecidos ou viraram percussionistas
de bandas de rock?
Não
sei como somos tão normais; nós que nascemos em décadas anteriores quando ainda
se usava no banheiro papel de jornal ou de pão. A mais perigosa brincadeira era
descer de carrinho de rolimã do alto do morro Santa Rita. Hoje são parques
moderníssimos e com brinquedos delirantes que fazem a cabeça dos jovens. Quanto
mais traiçoeira a aventura mais excitante. E pensar que o excitante dos velhos
tempos era ver o joelho descoberto de uma garota... Beijo só depois do namoro
sério.
Quando
ainda chorávamos com o filme “E o Vento Levou”, bem perto de nós o futuro
espreitava o amanhã. E nós lá achando que tudo seria infinitamente como sempre.
De repente a inocência foi embora. Os laços de fitas desenrolaram os cabelos e
barbas e bigodes pinicaram a cara da timidez. Tudo que era importante, nada
mais era perante os novos conceitos da modernidade. Tivemos medo, ficamos
envergonhados por cuspir no prato que comemos, titubeamos e nos rendemos às
novidades. O que era simples, como
passear de bicicleta ao anoitecer por ruas mal iluminadas, virou caso de
psicoterapeuta, de polícia e estresse dos pais; um Deus nos acuda. A liberdade
foi banida, a espontaneidade enclausurada, e fracassos são o fim da picada. Deu
neurose no mundo!
Somos
os super: super lindos, super-humanos, super inteligentes, superdotados, super
bem sucedidos... Super ansiosos, super inseguros, super sozinhos, superocupados
e super neuróticos. Padronizamos hoje o que o mundo determina: que a sociedade
espera, que o vizinho copia, que o filho exige, que os inimigos invejam... Afinal,
quase nada daquilo que realmente queremos.
O
que deixamos de ser, o que amamos sem crer, o que lucramos em viver sem
viver? Que pelo menos exista ainda um
pouco de amor no mundo, muito embora saibamos que as rosas não falam para
aquele que se esqueceu de escutar as flores. Muito menos para os que fecharam a
porta da lembrança em nome de um modernismo fugaz, sabendo-se que o destino do
homem é a eternidade.
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