segunda-feira, 19 de maio de 2014

PUBLICAÇÃO EM 09-2008



FALA SÉRIO
                                                       Neumar Monteiro

                               Existe uma pergunta que não pode calar dentro de nós: como sobrevivemos sem a ducha higiênica, celular, computador e TV a cabo? Quando trocamos o banho de bacia pelos modernos chuveiros elétricos? Até na igreja o badalar do sino agora é eletrônico. E os sineiros? Abandonaram o posto, foram esquecidos ou viraram percussionistas de bandas de rock?
                                   Não sei como somos tão normais; nós que nascemos em décadas anteriores quando ainda se usava no banheiro papel de jornal ou de pão. A mais perigosa brincadeira era descer de carrinho de rolimã do alto do morro Santa Rita. Hoje são parques moderníssimos e com brinquedos delirantes que fazem a cabeça dos jovens. Quanto mais traiçoeira a aventura mais excitante. E pensar que o excitante dos velhos tempos era ver o joelho descoberto de uma garota... Beijo só depois do namoro sério.
                                   Quando ainda chorávamos com o filme “E o Vento Levou”, bem perto de nós o futuro espreitava o amanhã. E nós lá achando que tudo seria infinitamente como sempre. De repente a inocência foi embora. Os laços de fitas desenrolaram os cabelos e barbas e bigodes pinicaram a cara da timidez. Tudo que era importante, nada mais era perante os novos conceitos da modernidade. Tivemos medo, ficamos envergonhados por cuspir no prato que comemos, titubeamos e nos rendemos às novidades. O que  era simples, como passear de bicicleta ao anoitecer por ruas mal iluminadas, virou caso de psicoterapeuta, de polícia e estresse dos pais; um Deus nos acuda. A liberdade foi banida, a espontaneidade enclausurada, e fracassos são o fim da picada. Deu neurose no mundo!
                                   Somos os super: super lindos, super-humanos, super inteligentes, superdotados, super bem sucedidos... Super ansiosos, super inseguros, super sozinhos, superocupados e super neuróticos. Padronizamos hoje o que o mundo determina: que a sociedade espera, que o vizinho copia, que o filho exige, que os inimigos invejam... Afinal, quase nada daquilo que realmente queremos.
                                   O que deixamos de ser, o que amamos sem crer, o que lucramos em viver sem viver?  Que pelo menos exista ainda um pouco de amor no mundo, muito embora saibamos que as rosas não falam para aquele que se esqueceu de escutar as flores. Muito menos para os que fecharam a porta da lembrança em nome de um modernismo fugaz, sabendo-se que o destino do homem é a eternidade.               
         



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