segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

CONVERSA MOLE PRA BOI DORMIR - NF 05 - 2008                                           

                                                                                                    Neumar Monteiro

                                                                           

                                   A Bom Jesus de outros tempos lembra-nos páginas pitorescas que não podemos esquecer, brincadeiras usadas habitualmente que se tornavam corriqueiras e interessantes no linguajar cotidiano. Assim era que íamos acoplando os títulos, funções ou cargos que as pessoas exerciam ao nome próprio, mais ou menos desse jeito: Monsenhor Padre Francisco, Capitão Tenente Décio, Cabo Soldado Josias, Professor Doutor Chiquinho, ou outras como Teco da Padaria, Emir da Força e Luz, Ivo do SAPS, Bilu Auto Peças, Anselmo do Hospital, Jair do Laboratório, Floriano  da Cerâmica e demais sobreposições que nos falha a memória.

                                   Era a época do Q-Suco, grapette, Violeta Genciana para    curar os machucados, pomada Minâncora para as espinhas, secador de cabelos com touca, bilboquê, toca discos Sonata, queimada, música de Bat Masterson; Toppo Giggio, japona, anágua, Simca Chambord, Aero Willys, Vemaguete; sapato Vulcabrás 752, Alpargatas Roda e da confortável Conga. Também um sucesso o Repórter Esso e o Ronnie Von cantando “Meu Bem”; cera Parquetina, bomba de flit e carrinho de rolimã. Os filmes no Cine Monte Líbano eram, invariavelmente, nacionais ou com Jonhnny Weissmuller interpretando um Tarzan cheio de charme e também os do famoso mocinho do faroeste Roy Rogers; no colégio os graus eram: primário, admissão, ginásio e científico e a bebida das festas era o Cuba Libre. Quem não se lembra do Ted Boy Marino? E dos tamancos de madeira do Afonso Maia? E do comediante Fernando Alegria?

                                   Os dias de chuva nos trazem a nostalgia da outra Bom Jesus, quando as estações do ano eram definidas e os frutos vingavam na época certa. Hoje, revendo velhas fotografias, observamos o quanto de devastação aconteceu na natureza. Antigas chácaras, rodeadas de árvores frutíferas, foram transformadas em ruas, nuas e frias, sem o aconchego do verde. Simplesmente depredaram a natureza sem pensar na agressão ecológica, razão desse calor sufocante que nos acomete no dia a dia. Não só os costumes se modificaram ou a maneira de viver, foram mudanças substanciais na alma do povo que nos impedem de sorrir o bom riso bonjesuense. Uma pena.

                                   Por tudo, lembramos com saudade dos velhos tempos inclusive do frio que fazia na Festa de Agosto; das festas juninas no Ordem e Progresso; dos bailes das férias de julho com o “Juquinha e seu Conjunto” e o futurista “Paulinho e o Som 2001”; das domingueiras no Aero Clube ao som do Long play dos “Velhinhos Transviados”; das animadas danças no restaurante do Capitão e também na residência do Ormindo Cotts. De resto é só mergulhar na saudade, porque tudo o mais é somente “prosopopéia flácida para acalentar bovinos”, ou seja, “conversa mole pra boi dormir”, conforme um ditado popular muito usado na época.   

 

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