O QUE É QUE A BAIANA TEM -NF 08 - 2008
Neumar Monteiro
Calou-se a voz de Dorival Caymmi emudecendo a poesia morena das tardes de
Itapoã. “O Que é Que a Baiana Tem?” Hoje, saudades do cantor das suas origens e
também as de todo o povo brasileiro. Pedra fundamental da MPB, voz de trovão
que encantava os ouvidos e olhos carinhosos de meiguice tanta. Talento é o que
não lhe faltava; alguma discriminação no início de carreira... Qual o gênio que
não é perseguido pelos invejosos de escassos saberes?
Lá
se foi Caymmi, e mais uma sombra deixou de ensombrar a praia. Quantas sombras
se foram? Para onde fugiram esquecendo-se de nós? Tudo isso nos traz a
nostalgia de “Adeus”, samba-canção de 1948 na voz de Ivon Curi. Compositor sem
peia que não se cansava de recriar a própria criação, sempre um passo à frente
no fluir dos versos sonantes de rimas musicais; Carmem Miranda fez sucesso, na
virada dos anos 30 para os 40, interpretando composições do poeta.
Tantos
talentos se perdem no transitar da vida. As suas sombras, como fantasmas que
partem, já não disputam lugar ao sol. Sejam famosos ou apenas personagens
do cotidiano contribuíram com sua Arte para melhorar a nossa vida, “Adeus,
adeus Pescador não se esqueça de mim” : Poetas Edison Chaves, Elício Freitas,
Paulo Figueiredo, Antonio Miguel, Iracema Seródio e Athos Fernandes; maestros e
compositores Samuel Xavier, Elpídio Sá Viana e maestro Bastião; declamador Délio
Porto; cantores Edílio Miranda e Ricardo Medina; tio Elói e sua sanfona ...
Hoje quase esquecidos nestes tempos de valorização das coisas passageiras.
“Quem
não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”. Com a
nova onda musical, acreditamos que o samba só tem vez em festas de velhos ou no
carnaval. Quem vai querer curtir Caymmi, Cartola ou Adoniran Barbosa? Quem vai
segurar a barra da história musical brasileira? Morre o homem, morre a
história, e nem sempre fica a fama, conforme letra do samba “morre o homem e
fica a fama”. Infelizmente não temos o hábito de cultuar nossos valores, nem
enquanto vivos, tampouco quando morrem.
“É
Doce Morrer no Mar”, mas não na lembrança. Não se pode brincar com a memória de
um povo ferindo sua identidade cultural. Não é justo apenas descer o pano,
desligar a luz ou apagar a lousa, ele necessita mais do que isso. “Só Louco”,
de Dorival Caymmi, pode suportar tal descaso. Somente um ou outro se
responsabiliza por fazer acontecer eventos como lançamentos e exposições de
livros, pinturas e outros tantos, conforme se deu na festa da cidade. Isto é
pouco, não dá para suprir a falta de incentivo e a apatia municipal. Assim
sendo, temos que apelar para a “Dora”, rainha do frevo e do maracatu, cantando
“Nem eu”, cobiçando “O Dengo que a Nega tem”, rezando a “Oração da Mãe
Menininha”, acompanhando os “Retirantes” e, num “Acalanto”, suplicando ajuda da
“Rosa Morena” porque “Você não Sabe amar” a sua cidade; pedir apoio ao
“João Valentão” para ir para “Maracangalha”, pois “Eu não Tenho onde Morar” e
morro de “Saudade da Bahia”, principalmente “Saudades de Itapoã” e de “A Preta
do Acarajé”... Assim compunha e cantava o imortal compositor, pintor,
ator e poeta Dorival Caymmi. Nossas homenagens.
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