quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

ÁGUAS PASSADAS JÁ PASSARAM -  NF 06 - 2008                   

                                                                                                            Neumar Monteiro

                                                                          

                            Está difícil acompanhar um mundo em constante ebulição: o que hoje é moderno amanhã é obsoleto; o que é profano torna-se sagrado; belo num dia, feio no outro... Uma transformação constante e vertiginosa como um barco à deriva em mar turbulento. È complicado vivenciar tantas mudanças, quando ainda os olhos estão presos no passado. È preciso ser ousado quando se é tímido, destemido quando se é medroso. Como ultrapassar as barreiras dos nossos limites?

                                   A saudade de outras épocas evoca lembranças dos Festivais de Música e dos Bailes de Debutantes. Um tempo em que o Copacabana Palace abria suas portas para receber a “fina flor” da sociedade carioca. Hoje sobrevive sem o glamour de antes e já ultrapassado na arquitetura, mas nos seus salões ainda ecoam as vozes dos famosos e permanece, etéreo, o aroma do perfume francês.

                                   De maneira similar, pretensiosamente falando, também o nosso Aero Clube conheceu seus dias de glória. Orquestras famosas valsaram nossos bailes e cantores brilhantes soltaram seus tenores. Hoje está decrépito e maltratado, escorrendo suas lágrimas de limo sobre a pintura desbotada. Foi o mundo que mudou. Vez do funk, disputas, tiroteios, pais assassinando seus filhos. Não se pode olhar para trás senão dança na disputa política, no concurso público, na entrevista da empresa... Realmente, os que pensam no ontem estão fora de moda de época e do restante - uma nau encalhada que incomoda a modernidade.

                                   Mais é bom lembrar o Isaac Rosa rodopiando elegantemente pelo salão; Salim Tannus, em aplausos, incentivando a orquestra; Cabo Lola correndo as mesas e declamando poesias; Temildo  trajando, impecável, um terno preto;  Elias Challoub dançando um bolero com a dona Denair; Athos Fernandes com a Cecy; Elson Mathias acompanhando sua família; Marcelo Ferraz sempre disputado pelas garotas; Antonio Silvestre o melhor dançarino do salão; Ricardo Medina convocado para cantar uma música com a orquestra. São nomes que marcaram um tempo que o contratempo da vida achou de subtrair.

                                   Está difícil acompanhar o mundo. Principalmente porque antigos valores saíram perdendo frente aos novos conceitos éticos, morais e intelectuais. Quase não existe o certo ou errado, ganha quem corre na frente e que não mede esforços para conseguir o objetivo, seja qual for o preço. Sendo assim, podemos dizer sem esperança e sem medo de errar: “águas passadas, já passaram”.

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