segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

                                      NEGROS  E  POBRES

                                                                                    Neumar Monteiro

                                                                                               (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

            O transcurso do 13 de maio traz à lume o problema da discriminação racial no Brasil, tema polêmico inserido em lei por força de preceito constitucional. A propósito de tão desgastado tema, já se bateram muitos constitucionalistas e outros tantos abolicionistas da modernidade, o que não impede que a discriminação continue existindo, levando de enxurro a Lei

Áurea e, também, a Lei Maior do nosso País.

            Não se sabe o motivo de tanta intolerância aos negro. Credencia-se ao passado de escravidão, cujo cenário apontava um Brasil ainda por colonizar, com muito trabalho por fazer e carência de mão-de-obra. O negro chegou, e foi como um holocausto em terra brasileira tantas foram as provações, enxameadas com mortes das mais variadas e torturantes formas. Com ele, todo um panteão místico que se incorporou à nossa religiosidade, num expressivo sincretismo que moldou negros e brancos num único bloco de aculturação espiritual. Da tradição descontraída dos negros, herdamos a indumentária de colorido vibrante; da culinária, os temperos e o angú de fubá regado com muito azeite de dendê; e sobretudo, absorvemos o sentido e a luta pela liberdade, traço marcante desse povo sofrido que preferia morrer a manter-se em cativeiro.

            O sorriso aberto, pelo qual se exibem dentes alvíssimos, mostra a paciência dos negros ao ataque dos brancos. Ainda hoje, no limiar do ano 2.000, encontramos pessoas cuja tolerância racial ultrapassa o limite do bom-senso. A par disso, as notícias nos jornais estampam casos de hotéis que se negam a receber pessoas de cor, e de condomínios que só lhe permitem o trânsito pelos elevadores de serviço. Para esses intolerantes, a Lei Áurea, um dos maiores marcos de conquista sócio-humanitária, nunca foi promulgada.

            A passagem do 13 de maio somam-se outras tantas mazelas, que vão do preconceito às castas sociais, que, por debaixo dos panos, ainda subsistem. Um exemplo disso são as prisões abarrotadas de pretos e pobres, enquanto brancos matadores de índios ficam fora das grades. Enfim, são tantos os apanágios jurídicos para tão pouco uso que se comemorar a Abolição afigura-se-nos uma completa encenação nacional, visando na verdade encobrir a descriminação e o ódio racial que, infelizmente, continuam corroendo os corações.

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