sábado, 12 de setembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

EU NÃO CREIO EM BRUXAS -  05 - 1997  

Neumar Monteiro

 

            Quem lê a obra de Carl Sagan, intitulada “O mundo assombrado pelos Demônios, vê-se compelido a abandonar milênios de convicções, crendices e medos, o que equivale a grande parte do legado místico que nos foi transmitido pelos antepassados. O famoso cientista, astrônomo e Professor de Ciências Espaciais, derruba as superstições arraigadas desde séculos, levando o leitor a apreciar um mundo novo sob a ótica nua e crua da racionalidade. Digo-o de cadeira, já que li Carl Sagan, que se arrogando o direito de arauto da ciência a vê como “uma vela no escuro” e ele, é claro, o Diógenes da modernidade científica.

            Com a chegada do Terceiro Milênio, equivalente ao ano dois mil da era cristã, ressurgem os famosos prenunciadores do futuro divulgando uma série de acontecimentos que, invariavelmente, recaem nas catástrofes interestelares, com o mundo das galáxias desabando sobre as nossas cabeças. A indústria do fantástico vende sonhos e fantasias, muito bem aceitos porque o homem possui uma predisposição para o sobrenatural numa forma de fuga do rés-do-chão para um mundo de asas e fantasmas.

            Na verdade, este partilhamento de conhecimentos pseudocientíficos é bom para o homem, já que o predispõe à sensibilidade  no trato com os semelhantes; por outro lado, o deixa vulnerável aos sortilégios dos aproveitadores de carteira assinada, sabendo-se que a crença nesses vaticínios atinge o mundo inteiro: segundo uma pesquisa de opinião Gallup, mais de três milhões de norte-americanos acreditam ter sido raptados por alienígenas. Outros, creem no magnetismo de Paracelso, no Mesmerismo de Frans Mesmer, no caso de  Bridey Murphy, aliados às fadas, bruxas, gnomos, que se misturam às filosofias alternativas. Isso prova que não prescindimos do mistério, seja nos países de Primeiro Mundo, seja nos de Terceiro, numa espécie de inconsciente coleltivo que une todos os povos e todas as raças numa cumplicidade mundial.

            De qualquer forma, assumir-se a ciência pura e simples, como quer Carl Sagan, pressupõe abdicar de crendices pela razão, nesta humanidade que tem muito mais de crente do que de incréu. Ao contrário, enredar-se com o místico é conviver com uma margem de erro bem acentuada, que inclui as fraudes, charlatanismo e teorias refutáveis.

            Pelo sim, pelo não, clamo por Terêncio quando disse “Sou humano e nada reputo alheio a mim do que é humano” e, na oportunidade, cito o famoso provérbio espanhol que serve para conciliar a razão científica com a alma esotérica e sonhadora: “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.”

 

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