sexta-feira, 18 de setembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

MEA CULPA  - 03 - 98

                                                                                                                                                    Neumar Monteiro

                                                                            (neumarmonteiro.blogspot.com)

 

                               Faço parte de uma geração de pós-guerra, tendo em vista que o término da II Guerra Mundial aconteceu há apenas alguns anos antes de o meu nascimento. Foi uma geração difícil, que só pegou de arrancada dos anos sessenta em diante, quando, então, já tínhamos adentrado uma década de existência.

                                      Lembro-me, como se fosse hoje, de as dificuldades daqueles tempos, argamassadas num passado de medo e insegurança constantes. Os destroços da guerra ainda nem tinham sido removidos e os povos choravam, como ainda o fazem, suas perdas humanas, notadamente as dos judeus no holocausto em campos nazistas.

                                        Assim como a Igreja Católica, nós também nos recordamos. Toda uma geração criada à sombra do extermínio perpetrado pela Alemanha de Hitler. Como esquecer as aulas de história que incitavam o ódio aos judeus como um povo amaldiçoado que crucificou Jesus? Como não se lembrar dos horrores em Auschwitz exibidos em filmes e revistas?

                                  O tempo deu tempo ao tempo. Hoje, com mais de cinquenta anos de atraso, a Igreja Católica se pronunciou sobre o seu silêncio durante o extermínio dos judeus na II Guerra Mundial. Um grande passo para eliminar de vez a “semente infectada do antissemitismo e do antijudaismo no coração dos homens”- essa mancha indelével que há dois milênios vem separando judeus e cristãos. A Igreja, através do Pontífice João Paulo II, dá ao mundo uma lição de humildade. Muito mais do que o reconhecimento da ‘mea culpa’, reabre uma polêmica milenar expondo-se ao julgamento público; um ato corajoso... Digno            de um catolicismo triunfante e de uma igreja forte e verdadeiramente cristã.

                                    Muito bom que isso aconteça na Quaresma!          Tempo de resguardo do espírito para o renascimento de um homem renovado. O que emergirá desse roxo paixão, aponta um Terceiro Milênio livre de culpas, de alma lavada e enxaguada das omissões do passado. Nós só temos a lucrar com tudo isso! Esse exame de consciência é propício às indagações do presente que pedem respostas sinceras e diretas, que não carreguem para o futuro o ônus da repetição do ‘mea culpa’.

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