quarta-feira, 16 de setembro de 2020

CRÔNICAS & ARTIGOS

 

                  ISTO É  UM   MUST        07 - 1997

                                                                                                                                                                                                                                                    Neumar Monteiro

 

            Quanto você daria por uma bolsa Louis Vuitton? A grife, talvez desconhecida das jovens idades do interior, faz a cabeça das do Rio de Janeiro e São Paulo, adquirida por um mínimo de R$ 969,00 a unidade. Ao sonho de consumo da Louis Vuitton, somam-se as botas Mr. Cat, calça Jonas Mixed, cinto Rosana Bernardes, entre outros, que provocam verdadeiros delírios em meninas de doze a dezesseis anos no ”vale quanto veste” de uma pequena, mas privilegiada, camada social.

            As patricinhas, como são conhecidas, apreciam o irreverente, desde que mesclado com os imprescindíveis itens: caro e de bom gosto. Quase sempre lançam a própria moda, que serve para vestir o grupo do qual fazem parte. Quem assim não se traja é simplesmente excluído ou, irremediavelmente marginalizado, em implacável marcação.

            Em recente reportagem da revista “VEJA” o tema foi amplamente abordado, deixando, claro o predomínio de uma classe emergente que desfila pelos corredores dos shoppings e das badaladas boutiques- como a recém-aberta filial da Fashion Mall, endereços certos para se conhecer patricinhas e mauricinhos das mais famosas grifes.

            De longe, todos se parecem; fazem-se iguais nas roupas, frequentam os mesmos colégios, falam no mínimo dois idiomas e navegam com precisão pela Internet, o que lhes garante o status grupal que defendem com um ar de enfado.

            Do ponto de vista sociológico, presenciamos a formação de uma estratificação social que privilegia as classes “A” e “B” (média e alta), apartando-se das demais. Pequenos grupos que se bastam e se protegem, vaidosos e exclusivistas; estruturas societárias que emergem e submergem, de acordo com as oscilações econômico-financeiras ou em decorrências de fatores extraordinários.

            O certo é que por trás do ar autossuficiente, camuflado sob os óculos de marca, esconde-se o jovem que cresceu sem a presença dos pais, quase sempre ocupados demais, e que viveu a infância como adulto sem passar pelo tempo criança. Os jovens mudaram ou foram valores que subverteram ? Ontem me lembro ainda, a juventude era mais livre e muito mais feliz, dado que o consumismo, um must da época atual, ainda não a escravizava. A educação era mais rígida, embora muito mais abrangente em conceitos e verdades.

            Os jovens, vários desses, estão tristes, vazios e inseguros - essa é a verdade! Esses mesmos que se cruzam pelo shopping da moda, matam o índio Pataxó; esses mesmos que se exibem, trazem no peito uma insatisfação constante que precisa da novidade para ser aplacada, quando não revertem às clínicas psiquiátricas.

            Levando-se em conta o absurdo deste mundo de contrastes e de disputas sociais que receberam, não é de estranhar que supervalorizem outros valores que, a bem da verdade, não aprenderam cultuar. Há um misto de cumplicidade e de revolta nessa geração que curte moda e roupa cara. A julgar pelas manchetes dos jornais, o enfastio é constante e o desamor usual, caminho certo aos prazeres ilícitos e às condutas nem sempre aceitáveis.

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