sábado, 11 de junho de 2011

O NORTE FLUMINENSE 06/2011

O RETORNO DO OUTONO
                                                                       Neumar Monteiro
                                                         
                                   O outono retorna qual fênix a ressurgir das cinzas. Passou o verão de alvoroço e dias quentes quando o mormaço, baço e lasso, a passos largos, queimava as ruas. Tudo fogueava no caldeirão das horas, na mistura de suor com a pressa do dia a dia. Agora o outono entorna sua candura com novos ventos, cheiros de frutos maduros e tardes de passeios amenos, um unguento poderoso na canseira dos lamentos: Bem-te-vi amanhecer outono!...
                                   A tarde invade o dia; e o céu, de esvoaçantes andorinhas, faz o festival outonal transformar-se num espetáculo único da natureza. Céus lavados de anil e coalhados de nuvens brancas e fofas como carneiros a correr na imensidão infinita. A noite chega mais cedo e o dia encolhe as horas; esfria os sentimentos e a lassidão engorda... Pausa na luta da vida que fica mais quieta; pausa nos sentimentos para retomar projetos engavetados.
                                   Outono! Dança dos galhos a sacudir os frutos: abacates, bananas, caquis, maracujás, maçãs, peras e carambolas que o vento meigo, mas constante, arranca da natureza. Uma beleza transformada, transfigurada no avesso, que as estações, sem engano, nos trazem a cada ano.    
                                   No outono, da vida humana, o tempo passa devagar e o mundo já não explora o nosso espaço; tudo é feito sem demora; e fios de esperança renascem a cada dia torcendo por nós: querem-nos espertos, mesmo que já passados os anos da euforia; querem-nos aptos para competir por novas oportunidades; querem-nos felizes, afastando o mau humor que constrange e ameaça; querem-nos jovens, para que a vida se torne plena. Em verdade, sem os nutrientes necessários as folhas amarelam, ressecam e caem durante a estação; os seres humanos também perdem a energia devido à queda de temperatura, conforme os dias mais curtos e consequente redução da luz solar... Ótimos para fazer poesia, como abaixo:
                                   “Canta cigarra, canta, nesta noite de luar, o canto brando das horas não se cansa de cantar!... Canto do vento do outono que esfria a cara do ar, estremecendo os arroubos das noites que querem amar. Há chuva a cair miudinha e a noite chegando mais cedo. O sol que sai de mansinho porque, de frio, tem medo. O dia, devagarzinho, gelando os ossinhos dos dedos; as tardes, desenganadas, vestem roupas de veludo, enquanto nos quartos escuros os cobertores de lã enxotam das madrugadas o frio crescente e malsão. Outono das serenatas, pipocas e lareiras acesas!... Só não acende o fogo do infeliz enamorado: pois o frio, ingrato, da noite espanta qualquer assanhado”.  

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